Famílias clamam por atenção

Desabrigados

Famílias clamam por atenção

Calamidade nas cidades expõe vítimas da enchente a falta de atendimento básico. Nos abrigos, faltam fraldas, roupas de criança, água, além de produtos de higiene e limpeza. Voluntários de diversas regiões reforçam grupo de trabalho

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Famílias clamam por atenção
Casa na Av. Beira Rio, em Lajeado, ficou destruída. Moradores tentaram ingressar para salvar alguns pertences, mas não sobrou nada Foto: Filipe Faleiro
Vale do Taquari

“Perdemos tudo. Saí apenas com algumas roupas. Meu corpo está bem, mas minha cabeça fica girando, preocupado e com medo. Não sei como será o dia de amanhã”. As palavras de Suan Pablo, morador do bairro Conservas , em Lajeado, resumem o sentimento para milhares de famílias vítimas da enchente da semana passada.

“Eu estava no trabalho. Passei na farmácia, comprei remédios para as crianças, alguns produtos e fui para casa. Quando cheguei, a água estava na porta. Só deu tempo de pegar algumas mudas de roupa e fomos para casa da minha mãe. Em seguida, a água chegou lá também.”

Só restou o ginásio no bairro. Parte dele em reformas, as 23 famílias moradoras próximas escolheram ficar naquele local. “Estava lotado o parque do Imigrante. Também a capela aqui do bairro. Resolvemos ficar no ginásio”, conta uma das abrigadas, Michele Siqueira.

Ela é uma das líderes dos moradores. Ajuda na organização do espaço e também no atendimento de moradores próximos, que estão sem água e sem energia desde a terça-feira da semana passada.

“Água e alimentos temos. Chegam abastecimento, seja pelas marmitas da prefeitura e também doações. O que estamos precisando é roupas, em especial para crianças. Fraldas, lençóis e roupas”, conta. Outro problema é a noite. Sem energia elétrica, ficam no escuro.

Na noite dessa segunda-feira, boatos sobre arrombamentos e furtos deixaram os abrigados inseguros. A Brigada Militar foi chamada e começou a estabelecer rondas mais frequentes na localidade.

Em Lajeado, conforme acompanhamento da assistência social, são mais de 1,3 mil desabrigados atendidos em oito abrigos. Ontem, o governo de Lajeado abriu pontos para cadastro de desalojados pela enchente que estão na casa de parentes e abrigos (confira a lista abaixo).

“Não sobrou nada”

No terreno da família Rocha, no Conservas, são três moradias. Ao todo, 20 pessoas residiam no local. “Tentamos entrar para limpar. Tem meio metro de lama. Impossível entrar. A casa está destruída”, conta Andreia da Rocha, 43.

Ao lado da mãe, Laci, 64, relembra os momentos de angústia. “Tentamos tirar o que deu. Conseguimos salvar alguns móveis. Mas, agora, não temos mais casa. Não sobrou nada. Estamos desabrigadas e ainda estamos aguardando a ajuda da enchente de setembro.” “Graças a Deus estamos vivas. Agora, procuramos uma casa para alugar. Mas os preços estão altos. O que precisamos é de orientação, pois não sabemos como será daqui para frente.”

Em outra parte do bairro, Israel Wolf e Cláudio Menezes tentam limpar parte da residência na Av. Beira Rio, em Lajeado. “Não tenho palavras para isso aqui. Não deu tempo de tirar as coisas. O rio subiu muito rápido. Por sorte, estávamos em reforma, e alguns móveis e eletrodomésticos tinham sido retirados”, conta Israel.

Mesmo assim, o prejuízo foi grande. O telhado desabou, os pilares parecem comprometidos e há muito entulho. “Para tirar, só de máquina”, diz Carlos. “Eu sai com a roupa do corpo. Voltei agora para ver, não dá para aproveitar mais nada. Tinha comprado um colchão novo, está aqui, embalado ainda.”

Água passou dos 33 metros em Lajeado. São mais de 1,3 mil desabrigados no município
Foto: Filipe Faleiro

Esforço conjunto

Voluntários de diversas cidades gaúchas passam pelas ruas mais atingidas. Enquanto as famílias tentam limpar o que sobrou, recebem água, frutas, sanduíches e até ração para os animais. “Muito triste tudo isso. Tenho que segurar a emoção, as lágrimas, para conseguir ajudar e não deixar as pessoas ainda mais sentidas”, diz o voluntário de Coronel Pillar, Luciano Zaretto.

Motorista da caminhonete, integrante do grupo de trilheiros “Big Locos”, trouxe amigos de Garibaldi para ajudar. “Dividimos o nosso grupo em itinerários ao longo do Vale do Taquari. Nossa missão é dar um pouco de amparo às pessoas.”

Voluntários distribuem frutas, água, sanduíches e até ração para animais. Cenário de devastação surpreende grupo que veio da Serra Foto: Filipe Faleiro

Também da Serra Gaúcha, Elio Erthal, e diversos amigos integrantes dos grupos “Pé na Lama” e “da Sede”, vem ao Vale do Taquari todos os dias. “Só estando aqui para entender a dimensão dessa tragédia.”

Morador de Bento Gonçalves, diz que há uma grande mobilização na comunidade para ajudar as pessoas da região. “Estamos recolhendo donativos e trazemos para cá. É com dor no coração que vemos toda essa destruição. Esse é o momento de ficarmos unidos, de ajudar e fazer a diferença na vida das pessoas.”

Cadastro de desalojados de Lajeado

Lista exclusiva para pessoas que tiveram casas atingidas pela enchente e estão em parentes ou amigos. Não inclui pessoas dos abrigos.

  • Informação é sobre primeiras necessidades (higiene e limpeza, roupas e alimentos).
  •  Não haverá entrega de produtos neste primeiro momento.
  • Os produtos serão entregues nos pontos de cadastro nos próximos dias.

Locais:

  • EMEI Criança Esperança (Conservas)
  •  Ginásio do Morro 25
  • Ginásio do Santo Antônio
  • Posto de Saúde do Campestre
  • Posto de Saúde do Conservas
  • Salão Comunitário do Universitário
  • Posto de Saúde do Centro

Horário do cadastro:

  • Das 9h às 17h, sem fechar ao meio-dia

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