“A dor crônica assume vida própria”

ABRE ASPAS

“A dor crônica assume vida própria”

O médico Juliano Dalla Costa, 36, é especialista em todos os tipos de dores e acredita que, de modo geral, a sociedade está enferma, presa a muitas angústias. Natural de Santa Maria, atua em Lajeado no tratamento de pacientes que requerem cuidados paliativos e pessoas que passaram por cirurgias de redução de estômago, que guardam dentro de si, profundas dores emocionais relacionadas à autoestima em função do peso

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“A dor crônica assume vida própria”
Foto: Andreia Rabaioli

Qual sua especialidade e há quanto tempo você orienta pacientes que realizaram cirurgias bariátricas no Hospital Bruno Born?

Minha especialidade é a Clínica Médica, Medicina Intervencionista da Dor e Paliativa. Desde 2021, me dedico ao acompanhamento de pacientes antes, durante e depois da cirurgia bariátrica em Lajeado. Esse trabalho é uma jornada de parceria, onde cada história de vida se desdobra em novos começos, desafios e conquistas na busca por saúde e bem-estar.

Quantos pacientes fazem bariátrica ao mês e a média de quilos perdidos em dois anos?

Em média, trinta pessoas por mês decidem iniciar essa jornada de transformação através da cirurgia bariátrica em nosso grupo. A maioria são mulheres, mas observamos um interesse crescente dos homens, refletindo uma mudança na percepção e na busca por soluções eficazes para uma vida mais saudável. Em geral, a maioria dos pacientes perde entre 60% a 70% do seu excesso de peso nos primeiros dois anos após a cirurgia.

O que o número de cirurgias bariátricas expressa sobre a sociedade moderna?

O aumento no número de cirurgias reflete desafios modernos: a dificuldade em manter uma rotina regular de exercícios e escolhas alimentares saudáveis. Estes fatores, muitas vezes subestimados, têm um impacto profundo em nossa saúde.
O crescente número de cirurgias bariátricas sinaliza uma necessidade urgente de repensarmos nossas políticas de saúde pública e ações de prevenção à obesidade. Precisamos de uma abordagem mais integrada que vá além da conscientização, implementando ações práticas desde a infância.

Quais seriam as dores físicas e emocionais de quem precisa emagrecer?

Toda escolha implica alguma renúncia, e é doloroso promover mudanças realmente efetivas, sobretudo quando temos que deixar para trás algo que nos é caro, como alguns hábitos alimentares, sedentarismo e outros vícios. Neste sentido há dores relacionadas ao próprio sobrepeso, como dores articulares: joelhos, quadril e coluna. Mas há também dores mais profundas, que muitas vezes estão relacionadas a autoestima e ao viver com limitações, sob o risco aumentado de doenças potencialmente ameaçadores da vida, como hipertensão arterial, diabetes, infarto, AVC e outras consequências.

Quais as principais queixas de dores da sociedade moderna?

A sociedade está doente, e digo isto de uma maneira muito ampla. Segundo a OMS, a prevalência de dor crônica é em média 30%, podendo ser mais em algumas populações. Por isso também há uma definição recente de que a dor crônica é um problema em si. Ou seja, se você tem algum problema que gera dor e não trata adequadamente a dor e o problema, em determinado momento você terá dois problemas.
É como se a dor crônica passasse a ter vida própria, e mecanismos de perpetuação que não dependem mais do fator que a causou. Neste ponto são altíssimos os índices de transtornos de humor (depressão, ansiedade), distúrbios do sono, entre outros.

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