Câmara de Roca Sales: “Não basta não ser racista. Temos que ser antirracismo”

ENTREVISTA | FRENTE E VERSO

Câmara de Roca Sales: “Não basta não ser racista. Temos que ser antirracismo”

Presidente do Legislativo, Paulo Ricardo Gonçalves concede primeira entrevista após repercussão da fala “trabalho de gente branca”, dita por colega parlamentar Antônio Valesan (PTB)

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Atualizado quinta-feira,
07 de Dezembro de 2023 às 10:36

Câmara de Roca Sales: “Não basta não ser racista. Temos que ser antirracismo”
À esquerda, o presidente da Câmara de Vereadores de Roca Sales, Paulo Ricardo Gonçalves (MDB), e ao lado, o assessor jurídico Gustavo Mezzomo (Foto: Rodrigo Martini)

O presidente da Câmara de Vereadores de Roca Sales, Paulo Ricardo Gonçalves (MDB), concedeu a primeira entrevista após repercussão da fala “trabalho de gente branca”, dita por colega parlamentar Antônio Valesan (PTB), conhecido como Pegari.

Na sessão da última segunda-feira, 4, ele usou a expressão considerada racista para se referir à execução de uma obra no município. Na ocasião, o presidente do legislativo abriu espaço para retratação, quando Pegari se desculpou, e alegou estar cansado e mal alimentado. À Rádio A Hora 102.9, Gonçalves falou sobre racismo estrutural. Disse que é preciso de ações reparadoras para fazer a diferença no ato racista. “Não basta só não ser racista. Temos que ser antirracistas.”

Ele defende que seja feita mobilização da sociedade dentro das escolas para eliminar o racismo. “Tenho uma filha pequena, de 7 anos de idade, que muitas vezes chegou da aula dizendo. ‘Pai, minha colega falou isso, e isso, e isso. E é porque eu sou negra.’ Minha filha não se sentia bem na escola por ser negra.” Ele lembrou que no país 54% da população é negra, mas na região, minoria.

Ao falar da ocasião, Gonçalvez diz que sente tristeza e decepção. “Não acreditei que o colega vereador tinha falado, olhei para ele e percebeu que foi infeliz na fala. Ele chegou até mim pedindo oportunidade para se retratar. Porém, somente seria possível na próxima sessão. Sendo minha vez de pronunciar na tribuna, fiquei pensando o que poderia se falar a título de retratação após uma fala racista. Aí, educadamente, passei a palavra para ele. Fiquei ainda mais decepcionado, pois ele foi tão infeliz na primeira fala quanto na segunda, porque não justifica”, explana.

Ele diz destaca que foram mãos negras que construíram o país. “Mãos brancas são tão boas para o trabalho quanto as negras, mas ele desclassificou as mãos negras ou todas que não fossem brancas, e isso é racismo. A boca fala do que está cheio o coração. Racismo, uma cultura que está dentro do coração de algumas pessoas e só vai ser transformado quanto tivermos ações. Precisamos de uma reparação, diferente da punição”.

O assessor jurídico da câmara de vereadores de Roca Sales, Gustavo Mezzomo falou sobre a insatisfação pelo ocorrido e os procedimentos instaurados. De acordo com ele, a Polícia Civil já instaurou inquérito policial, a defensoria pública, procedimento interno para eventual dano coletivo, e há informações de que a câmara de vereadores também será instada e motivada a tomar medidas regimentais.

“Estamos estamos alinhando medidas que demandam da motivação, da apreciação e deliberação do plenário. Eventuais medidas, denúncias até mesmo que possam ser protocoladas na casa até o fechamento da pauta para serem inclusas na ordem do dia da próxima sessão, todas essas medidas serão encaminhadas conforme previsão contidas no regimento interno da casa”, esclarece.

Assista a entrevista na íntegra

 

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