“Precisamos respeitar o tempo de cada um”, afirma médico psiquiatra

APÓS A TRAGÉDIA

“Precisamos respeitar o tempo de cada um”, afirma médico psiquiatra

Dezenas de profissionais se colocam à disposição, de forma gratuita, para atender vítimas das cheias no Vale e destacam a importância de cuidar da saúde mental

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“Precisamos respeitar o tempo de cada um”, afirma médico psiquiatra
Médico psiquiatra Olivan Moraes

Perda de vida, de residências, de bens materiais. Traumas, lembranças dos resgates, desesperança diante da necessidade de reconstrução. Após a maior tragédia do Vale do Taquari, a saúde física e mental das pessoas atingidas pelas cheias ou daquelas que estão na linha de frente em cada município, entra em alerta, e voluntários se disponibilizaram a ajudar. 

Na região, são dezenas de profissionais da saúde, como médicos e psicólogos que oferecem atendimento gratuito à comunidade. Além disso, pessoas de outros estados e até mesmo de fora do país também prestam o serviço aos gaúchos.

Médico psiquiatra, Olivan Moraes destaca que em uma tragédia desta proporção, muitas vezes é difícil identificar o lado que cada pessoa se encontra, se está na posição de ajudar ou de ser ajudado. 

“Nos deparamos com colegas que têm o ímpeto de sair correndo ajudando, trabalhando horas e horas e que não percebem que também estão na condição de precisar de ajuda”, ressalta o profissional. Por outro lado, diz nunca ter presenciado uma movimentação tão grande de voluntários, tanto na área da saúde, quanto da comunidade em geral. 

De acordo com Moraes, o primeiro passo é identificar a condição da própria saúde e, depois, se colocar à disposição naquilo que se sabe fazer de melhor, seja unindo os conhecimentos profissionais, ou de mão de obra e doações.

“Esse primeiro momento afeta as pessoas de formas diversas. Embora possa parecer que seja igual nessa questão de querer ajudar, de se colocar à disposição, se mobilizar. Mesmo assim, não é igual para todo mundo”. 

O médico diz que cada pessoa vai ter uma reação. “Às vezes as pessoas vão se cobrar porque não estão se mobilizando ou sentido o que deveriam sentir. Outras não conseguem se movimentar ou fazer algo que imaginam que deveriam ter feito, é normal que coisas assim aconteçam”. 

Segundo Moraes, o momento é também de observar o comportamento das pessoas, em especial das que perderam tudo para a enchente, que passam por um trauma e que possam precisar de ajuda. 

Ao mesmo tempo, destaca a importância de respeitar a dor de cada um e não obrigar ninguém a falar de algo que talvez não esteja pronto para compartilhar. “Às vezes a pessoa teve uma perda e ela não quer falar sobre isso naquele momento. A gente também tem que ter essa sensibilidade e servir como um conforto”, reforça Moraes.  

Em busca de tratamento

Segundo o médico psiquiatra, um evento traumático como a tragédia que o Vale vive pode ser observado em diferentes estágios no comportamento das vítimas. O primeiro deles também pode ser chamado de reação aguda ao estresse, percebido em grande parte das pessoas atingidas. Mas, depois de 30 dias, a maioria das pessoas não evolui para o conhecido transtorno de estresse pós-traumático.

“A maioria das pessoas não vai desenvolver esse quadro, que merece uma atenção muito importante. A gente precisa respeitar o tempo de cada um, mas não negligenciar os sinais”, destaca. E, em casos em que é percebida uma desesperança ou tristeza extrema, por exemplo, é necessário o encaminhamento a profissionais especializados.

Cuidado com a medicação

Outro ponto destacado pelo médico, é o cuidado com os medicamentos. Segundo o profissional, remédios de tarja preta, como o Rivotril e o Alprazolam, por exemplo, devem ser evitados, porque podem reforçar as memórias traumáticas. 

Por outro lado, quem já fazia algum tratamento deve continuar com a medicação. Por isso, o Conselho Regional de Medicina, junto ao Conselho Regional de Farmácia se uniram para possibilitar que receitas conhecidas como azuis e amarelas sejam disponibilizadas de forma digital e provisória aos pacientes. 

Ainda, foi disponibilizada uma cartinha sobre “Protocolos para Organização do Cuidado Local em Emergências ou Desastres”. O material detalha como fazer os primeiros cuidados psicológicos e assistência de saúde mental em crises, destinada a indivíduos envolvidos no apoio local em situações de emergências e desastres. Foi elaborada para fornecer assistência imediata às vítimas das enchentes ocorridas no estado do Rio Grande do Sul em maio de 2024.

Confira a cartilhas: Telepsi – Desastres

 

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