Os bons companheiros

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

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Os bons companheiros

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Imagine um país comandado por um presidente com tendências totalitárias, com uma visão racista e homofóbica do mundo. Esse país existe, chama-se Rússia e recentemente invadiu militarmente um país vizinho.

Imagine um país onde casais do mesmo sexo não podem se casar ou adotar, e as famílias chefiadas por esses casais não são elegíveis para as mesmas proteções legais disponíveis para casais heterossexuais. Além disso, não há nenhuma proteção antidiscriminação explícita para pessoas LGBT em seu sistema legal, nem as leis de crimes de ódio cobrem orientação sexual ou identidade de gênero. Esse país existe, chama-se China e ameaça invadir seu vizinho Taiwan.

Imagine um país onde ocorreu envenenamento de alunas em mais de 500 escolas femininas perpetrados por agentes do Estado para calar a voz, cada vez mais forte, das mulheres. Como se isso não bastasse, forças de segurança agrediram os pais que se manifestavam e dispararam gás lacrimogêneo. Esse país existe e se chama Irã.

Imagine um país no qual todos os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário estão nas mãos do rei, que é chefe de estado e chefe de governo. Além disso, a Lei Básica de 1992 estabelece que o sistema de governança, os direitos dos cidadãos e os poderes e deveres do governo deve seguir o livro sagrado, o qual serve de constituição para o país. Esse país existe e se chama Arábia Saudita. Racismo, homofobia, direito das mulheres, estado laico …

Todos esses valores foram discutidos na última eleição brasileira e ficou claro que a maioria da população não defende a mesma pauta que os países citados. Por isso a pergunta que fica é: Vale a pena se contrapor a Europa e Estados Unidos para se alinhar com esses países ou tudo isso é apenas versão tupiniquim do “É a economia, estúpido!”.

Vejamos: a revolução iraniana criou uma teocracia xiita militante que promove uma forma hostil e antiocidental do Islã. Os objetivos da política externa do regime incluem exportar sua doutrina político-religiosa, dar poder aos povos xiitas no exterior, minar os interesses ocidentais no Oriente Médio e estabelecer-se como hegemonia regional. Tudo isso ocorre em linhas geopolíticas, militares, econômicas e ideológicas. De certa forma, o Irã lembra o que Cuba faz na América Latina.

Já na Arábia Saudita, em 1979 insurgentes tomaram a Grande Mesquita em Meca e tentaram tirá-la do controle da família real. A monarquia esmagou os rebeldes, mas teve de assumir sua causa antiamericana por conveniência política. Isso permitiu aos clérigos sunitas impor sua versão fundamentalista do Islã antiocidental em casa, interrompendo a liberalização social e econômica.

A revolução iraniana e a captura da Grande Mesquita forçaram as elites iranianas e sauditas a desenvolver novas estratégias de sobrevivência. Cada um deles respondeu exportando crenças religiosas ideologicamente adaptadas que justificam seu governo. Isso ajuda a explicar a simpatia que muitos esquerdistas têm por esses países. O antiamericanismo e o sistema de crenças são semelhantes.

Esses dois países passaram os últimos anos se confrontando, mas tiveram a paz selada nesse ano por iniciativa da China, um país comunista com partido único e com claro objetivo de tomar o lugar americano na liderança mundial. Já a Rússia, que se formou após a auto implosão da comunista União Soviética, iniciou se dizendo uma democracia, mas acabou se tornando uma oligarquia com pitadas fascistas sob domínio de Putin.

O que encontramos então em comum nesses nossos prováveis parceiros de negócios são o antiamericanismo, governos autoritários e centralizadores, além de populações com pouco acesso aos mais corriqueiros direitos humanos. É para esse caminho que marchamos?

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