Tragédia ganha repercussão nacional

Carazinho

Tragédia ganha repercussão nacional

Incêndio em comunidade terapêutica mata onze pessoas e impacta município do norte do RS. Investigação trabalha para apurar se há irregularidades no local e indicar eventuais responsáveis

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Tragédia ganha repercussão nacional
Fogo teria começado a partir de um curto-circuito no acesso aos quartos dos internos. Créditos: Jhon Willian Tedeschi
Estado
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

“A maior tragédia da história de Carazinho.” Desta forma a diretora da Assistência Social do município, Aline Zirbes, define o incêndio que matou 11 pessoas na madrugada da sexta-feira, 24, em um centro de recuperação para dependentes químicos. Entre as vítimas, pacientes de oito cidades do RS, que tinham o local como referência para o tratamento contra as drogas e também uma oportunidade para melhorar suas condições de vida.

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O Centro de Tratamento e Apoio a Dependentes Químicos (Cetrat) funcionava na Vila Rica e acolhia 14 pessoas. O local era a única comunidade terapêutica no município com pouco mais de 60 mil habitantes. Aline conta que o cuidado no tratamento era apenas uma parte das atividades da instituição, mas é pessimista sobre a continuidade do serviço. “Era um trabalho muito bonito e extremamente importante para a comunidade, não só de Carazinho, mas para toda a região. Tinham oficinas, não cuidavam só da dependência química, mas também da profissionalização dos internados.”

Os familiares foram comunicados da tragédia ao longo da madrugada e chegaram a Carazinho nas horas seguintes. O Centro de Referência em Assistência Social (Cras) Ouro Preto se tornou um ponto de acolhimento, com psicólogos e enfermeiros. Uma das parentes se sentiu mal e precisou de atendimento médico.

No início da tarde, com a impossibilidade de liberação dos corpos, todos retornaram a suas cidades de origem. Conforme a diretora, a identificação de cada vítima será feita mediante exames mais detalhados na segunda-feira, 27. “Não foi possível fazer a identificação facial.” Sobre os feridos, até o fechamento desta edição havia um paciente de Santo Ângelo hospitalizado em estado grave.

Incêndio destruiu todos os dormitórios da parte construída em madeira

Tentativa de resgate

O primeiro vizinho a perceber as chamas no centro foi o reciclador Alisson Fernando Rochemback, 25. A família mora na rua aos fundos do prédio e ouviu barulhos parecidos com madeira quebrando. Ao verificar, a fumaça já tomava conta do local. “Pulei o muro e tinha outro rapaz lá”, lembra. Após arrombarem a porta, ambos conseguiram tirar o monitor Deive da Silva, 47, que tentava liberar a saída. “Ele ainda conversou conosco, mas estava com todo o corpo queimado”, relata.

Quando tentaram retornar para ajudar no resgate dos internos, o fogo havia destruído a parte dos quartos, totalmente construída com madeira. A partir dali, a tarefa ficava com os bombeiros, acionados por volta das 23h. Rochemback diz que os pacientes não podiam sair das dependências do centro, acredita ser uma fatalidade e lamenta o fato. “Nunca aconteceu nada semelhante aqui”, finaliza.

Investigação apura irregularidades

Para a delegada responsável pelo caso, Rita De Carli, a prioridade é identificar a documentação do local, se havia Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) regularizado, alvarás e licenças junto ao município, entre outras demandas burocráticas. “Faremos uma oitiva com os responsáveis legais, para saber como funcionava a organização do prédio e a questão das saídas.” Ela destaca que três dos internos fugiram pelas janelas e outro conseguiu escapar por uma saída alternativa.

Algumas testemunhas foram ouvidas ainda na manhã da sexta.
No local do incêndio estava o delegado regional da 28ª DPRI, Jader Duarte. Ele explica que a polícia vai aguardar pelas apurações, sobretudo da perícia, para encaminhar o caso ao judiciário. Quanto à causa, o delegado indica que o incêndio teria iniciado na fiação elétrica.

No entanto, nenhuma hipótese é descartada. “A polícia não pode ser guiada por instinto ou pré-conceito. Depois a Justiça tomará a decisão, se há responsáveis ou não.” Sobre o impacto da tragédia, Duarte é enfático. “Situações assim tem sido recorrentes no Brasil e no mundo, mas o número de mortes para a nossa realidade é muito grande. Isso é anormal”, completa.

Manifestação do centro

A grande expectativa era por uma entrevista coletiva do responsável pelo Cetrat, que ocorreria durante a tarde da sexta, mas foi cancelada com a alegação que ele não teria condições clínicas. Ao invés disto, foi emitida uma nota oficial, que ressalta a regularidade da documentação e reafirma a disposição do centro em colaborar com as apurações. “Neste momento, o que o Cetrat pode afirmar é que possui todos os registros, cadastros e reconhecimentos junto ao poder público.” O comunicado também esclarece que a instituição tem convênios para vagas de acolhimento com o Estado e União.

 

 

 

 


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