O que aconteceria se as redes parassem?

VIDA DIGITAL

O que aconteceria se as redes parassem?

O apagão no facebook expõe a dependência mundial pelos serviços de uma empresa. Com mais de três bilhões de usuários, a companhia comandada por Mark Zuckerberg ficou fora do ar por seis horas nessa segunda-feira. Tempo suficiente para afetar o cotidiano das pessoas e causar prejuízos

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Atualizado domingo,
10 de Outubro de 2021 às 07:40

O que aconteceria se as redes parassem?
Brasil

“As pessoas nem se deram conta que poderiam nos ligar”. A afirmação da empresária do ramo de alimentação, Mara Augustin, serve como uma amostra do impacto das seis horas sem os serviços da companhia responsável pelo facebook, instagram e whatsApp.

A maior parte dos pedidos para entregas vem por mensagens. Do fim da manhã dessa segunda-feira, 4, até as 19h, os servidores da empresa de Mark Zuckerberg saíram do ar e deixaram quase 6 bilhões de pessoas sem acesso às plataformas. Na lancheria de Mara, foi um período de dificuldades. “Anunciamos nossas promoções nas redes. Então a gente não conseguia atualizar e nem receber os pedidos. Os clientes sequer sabiam se estávamos atendendo.” Quando os aplicativos voltaram, diz, chegaram diversos pedidos. Em função da pane, a lancheria teve uma diminuição no número de pedidos.

O episódio mundial serviu de alerta e mostrou a dependência pelos serviços de uma empresa. “Por mais que hajam outras ferramentas, ainda estão muitos distantes do facebook”, analisa o especialista em redes sociais, Paulo Pinheiro.

Para ele, o apagão demonstrou a relevância da rede social. “Podemos questionar o uso pelo indivíduo, mas não a ferramenta. Ela é muito relevante, seja como meio de comunicação, como fonte de informação ou para os negócios. Quando eles param, parece que não temos alternativa.”

De acordo com Pinheiro, hoje não há como pensar um mundo sem as redes sociais, pois já fazem parte da vida das pessoas. “É uma tecnologia presente na sociedade. A título de comparação, se não tivéssemos computadores? Sem dúvida não voltaríamos a usar máquinas de escrever. É quase a mesma coisa com a rede social. Buscaríamos algo semelhante.”

Após o apagão, o facebook excluiu a hipótese de ataque cibernético. A empresa atribuiu a um erro técnico. Segundo a empresa, os esforços feitos nos últimos anos visam proteger os sistemas de possíveis ataques externos.

Prejuízo de 7 bilhões de dólares

Para o facebook, as seis horas offline representaram perdas econômicas. Algo em torno de 7 bilhões de dólares, uma queda de 4,8% nas ações da marca na Nasdaq, bolsa de valores de Nova Iorque. “Isso quando olhamos para a companhia global. E quantos pequenos negócios não tiveram algum prejuízo?”, indaga Pinheiro.

Do episódio desta semana, há uma dimensão do impacto. “Se parasse uma semana? Um mês? Como seria viver sem isso. O provável é que buscaríamos outra rede. Não iríamos parar de se comunicar pela internet.”

Sócia da Liquid Soluções em Tecnologia da Informação (TI), Júlia Thetinski acredita que esse tipo de problema nas redes foi um episódio isolado. “Ao que tudo indica foi um erro humano, alguém deu “enter” em algo que não deveria. Não é algo impossível de acontecer, mas este evento deve ter aumentado de forma absurda o cuidado que a equipe já tinha.”

Para Júlia, o fundamental quando se trata de internet para negócios é ter seu próprio site ou blog para não ficar à mercê das ferramentas. Com frequências redes como instagram e facebook mudam seu algoritmo, a forma como distribui o conteúdo para os usuários. “Você pode e deve estar nas redes sociais, as pessoas estão lá e você poderá encontrar clientes sim, mas lembre-se que aquele espaço não é seu, é alugado”. Ter seu próprio site impacta pessoas que estão fora do seu nicho, podendo também criar um novo público.

Um império virtual

A Justiça americana investiga o facebook por práticas anticompetitivas, monopólio e uso de dados dos usuários das plataformas da empresa. Os processos detalham os meios à compra do WhatsApp, em 2014, no valor de 19 bilhões de dólares e também do Instagram, adquirido em 2012 por US$ 1 bilhão. O Facebook pode ser obrigado pela Justiça a se desfazer das duas plataformas.

O jornalista e mestre em comunicação, Militão Ricardo, acredita que o episódio dessa segunda-feira serve como aprendizado. “Ainda estamos nos adaptando a essas novas ferramentas. Ainda assim, se trata de algo que vem para ficar.”

Tanto por ser uma forma barata de se comunicar, quanto pela facilidade de pesquisa e interação, as redes hoje fazem parte da vida das pessoas, afirma Ricardo. Ainda que haja um processo em curso, o especialista destaca: “Não se trata de um monopólio, pois há outras plataformas com serviços semelhantes.”

Em caso de alguma exigência legal para se desfazer de alguma plataforma, Ricardo acredita que os usuários buscariam outras alternativas. “Não existe só o whats. Há o telegram, com muitas possibilidades de personalizar a experiência. O fato é que as pessoas estão mais acostumadas com uma plataforma. Mas isso muda, a internet está em constante evolução.”


ENTREVISTA – Jéssica Dick, psicóloga e influenciadora digital

“O que é compartilhado nas redes sociais é apenas uma parte da realidade”

O Brasil é um dos países com maior presença no ambiente virtual. Para Jéssica, é preciso haver controle para uma experiência digital mais saudável.

A Hora – Como manter uma relação equilibrada com as redes sociais?

Jéssica Dick – A forma mais “saudável’’ é compreender que a rede tem que ser para você usar e se distrair. Para aprender e conectar com conteúdos relevantes e não para a ferramenta “te usar”. É importante saber o que você quer no seu feed de notícias. O conteúdo que você acessa diariamente irá interferir no seu emocional, afinal são estímulos que vão te trazer a percepção do mundo.

– Os jovens usam as redes sociais também como ferramenta de aceitação social. Como lidar com a constante comparação com os outros?

Jéssica – É preciso ter consciência de que o que é compartilhado é apenas uma parte da realidade, muitas vezes editada, para deixar tudo mais lindo e fantasioso. É injusto comparar tudo que somos com um pedaço da vida de outra pessoa. A melhor forma de se comparar é com a pessoa mais real que você conhece: você mesmo.

Crianças e adolescentes são o grupo mais engajado nas redes sociais. Como podemos ajudá-los a navegar de forma mais segura?

Jéssica – A rede social causa impacto em adolescentes, principalmente com a nova era de influencers. Muitos acabam se frustrando por estarem em comparação com seus ídolos. Muitos confiam sua autoestima nessa performance da rede social. Poucos likes significam que eu não sou interessante. Muitos likes: sou muito interessante. Os pais dificilmente conseguem ter controle das redes sociais, mas devem trazer os filhos para a realidade de que o que está na rede social não é uma verdade absoluta e que a autoestima não pode nem deve ser deixada nas mãos de terceiros, e sim uma construção própria e diária.

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