Aparição misteriosa desperta curiosidade. Ufólogos vêm a Lajeado

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Aparição misteriosa desperta curiosidade. Ufólogos vêm a Lajeado

As imagens de um objeto luminoso no céu da cidade ganham o Brasil e tornam-se elementos de pesquisa para estudiosos de histórias sobre discos voadores. Diante do apelo sobre a temática alienígena, sociólogo acredita que assunto se transformou em parte da cultura pop

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Aparição misteriosa desperta curiosidade. Ufólogos vêm a Lajeado

Naves interplanetárias, sinais desconhecidos que surgem do dia para a noite em plantações e seres inteligentes em contato com pessoas. O que parece um roteiro de ficção, para muitos são evidências de que não estamos sozinhos no universo e que a raça humana está às portas de uma grande revelação.
 
Entre teorias conspiratórias e episódios sem explicação científica, se alimenta uma curiosidade crescente. Nesta semana, as imagens captadas pelo empresário Jacir Martini, 59, colocaram Lajeado no centro dos debates ufológicos no RS e no Brasil.
 
As fotos e uma filmagem com quase quatro minutos mostram luzes oscilantes flutuando entre os bairros Florestal e Montanha. “Nunca vi nada assim. Estava parado no céu. Depois de uns cinco minutos, sumiu”, conta a testemunha. O assunto se tornou um dos mais comentados na região. “Recebi ligação de muita gente. Amigos de outras cidades. Todos pedindo para eu encaminhar o vídeo”, conta Martini.
 
O A Hora trouxe uma reportagem sobre o fato na edição da terça-feira. O portal da internet superou 15 mil acessos em menos de 12 horas. As imagens também foram compartilhadas pelo canal do Núcleo de Estudos Ufológicos de Santa Cruz do Sul (NEUS).
 

Busca por evidências

Após a repercussão do episódio, ufologistas de diversas cidades tentaram explicar o que poderia ter acontecido em Lajeado. “A primeira possibilidade era de uma queimada. Mas pela nossa análise, descartamos. Se apagou muito rápido para ter sido fogo”, diz o presidente do NEUS e integrante da Comissão Brasileira de Ufólogos, Rafael Amorim.
 
De acordo com ele, ainda não há uma explicação para o que aconteceu. “Abre-se muito espaço para especulação. Pretendo organizar uma visita a Lajeado nos próximos dias”, relata.
 
A ideia, diz, é procurar o ponto do avistamento, instalar câmeras para gravar e tentar encontrar o local onde o suposto óvni possa ter sobrevoado. “Vamos ter que verificar in loco se há alguma evidência.”
 
Sobre as possibilidades do que poderia ajudar a explicar o fenômeno, na matéria de terça-feira, contesta a publicação sobre a chance de ter sido um satélite. Segundo Amorim, houve uma falha na interpretação. “Não há como ser um satélite. Essa informação não procede. Se caísse, aí sim poderia haver um grande incêndio. O que seria relatado aos bombeiros.”
 
A aparição em Lajeado foi assunto em um debate ao vivo pelo Youtube na terça-feira. Pelos cálculos de ufologistas, o objeto era grande, com uma dimensão próxima a uma quadra de futsal.
 

Crença ou ciência

O sociólogo Iuri Azeredo, 53, se interessa pelos assuntos ufológicos desde cedo. Esse interesse inclusive o levou a buscar leituras sobre isso e também procurar entender o que une pessoas em torno dessa temática. “Existe muita gente séria e que tenta construir uma ufologia, ou outro termo que designe o estudo sobre as possibilidades de inteligência assemelhadas aos humanos fora da Terra, sem cair no obscurantismo, no misticismo e na religiosidade.”
 
Apesar de abordagens científicas, há entre grande parte dos adeptos uma abordagem de uma espécie de religiosidade da “nova era”, “holística”, aguardando a chegada de novos messias em discos voadores. “Assim, a ufologia, em certa medida, configura-se como uma nova religião.”
 
Esse novo sincretismo religioso é uma característica dessa transição do século XX ao XXI. “Incorpora vários elementos de diferentes religiosidades, crenças transcendentais, fundindo isso com elementos científicos, da ficção científica e das infindáveis narrações sobre abduções, aparições de naves e ETs.”
 

Da ficção à vida

O cinema e a literatura de ficção são, provavelmente, os meios que popularizaram a ideia de povos, civilizações e tecnologias extraterrestres, acredita Azeredo.
 
Junto disso, o avanço tecnológico, os aviões, jatos, satélites, encheram os céus de luzes, provocando a imaginação sobre o deslocamento entre planetas. “As narrações foram se ampliando e se criaram grupos e meios de divulgação, congregando estudiosos e uma massa de interessados em fenômenos atribuídos a inteligências extraterrestres.”
 
De acordo com ele, há estudos demonstrando como os relatos de avistamento de naves e seres se vinculam a imagens e situações retratadas em produtos culturais. “Dos humanóides altos, esguios e prateados dos anos 50, hoje temos a icônica figura do chamado grey.”
 
Essa transformação nos anos se aproxima das situações retratadas em filmes, como A Guerra dos Mundos, de HG. Wells, ou Contatos Imediatos do Terceiro Grau, de Steven Spilberg.
 

“A maioria dos relatos não há como comprovar”

O doutor em Astronomia e Astrofísica, Basílio Xavier Santiago é professor faz 23 anos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência de pesquisa na área. Se concentra em estudos nos temas de populações estelares, aglomerados, estrutura, formação e evolução da galáxia.

 
A Hora – Como a comunidade científica se posiciona quanto a esses fenômenos ufológicos? A ufologia pode ser considerada uma ciência?
Basílio Xavier Santiago – Não creio que exista um posicionamento da ciência quanto a fenômenos ufológicos. O que há é uma avaliação de que a grande maioria dos relatos de objetos voadores carece de comprovação. Da aplicação de métodos científicos para que possa ser reconhecido.
 
Há muito sensacionalismo. Muita informação que sequer é documentada. No caso de Lajeado, eu ainda não vi. Pelo que se sabe houve uma filmagem e um conjunto de imagens. Nesse aspecto, é preciso análise. Não se pode descartar esse fato. Mas é preciso uma análise individual. Eu ainda vejo isso com um certo ceticismo. A maioria dos relatos não há como comprovar.
 
A ciência já admite haver vida fora da terra?
Santiago – Essa é uma questão diferente. A existência ou não passa por considerações de quantos planetas existem com condições de ter vida. Há estimativas tanto na nossa galáxia quanto em outras. Parte-se para estudos de quantos planetas estão em zonas de habitabilidade, com condições de manter água no estado líquido. Isso é objeto da ciência, da busca por exoplanetas, de apurações de biomarcadores, que são indicadores de existência de matéria orgânica inicial para cadeias de DNA.
 
A tecnologia de hoje possibilita mais informações sobre isso?
Santiago – Nossa capacidade de identificar aumentou muito nas últimas duas décadas. Hoje se conhece milhares de estrelas. Apesar disso, não há nenhuma detecção inequívoca de vida fora da Terra. Temos alguns pontos mais propensos. Há alguns anos foi possível comprovar que houve água em Marte. Repito, nenhuma evidência inequívoca. Dado o tamanho da galáxia, podemos supor que há chance do surgimento de vida não ter sido exclusivo na Terra.
 
Agora, vida inteligente é outra coisa. Essa é uma questão em aberto na comunidade científica. Não há consenso. Há quem advogue que a Terra é rara. A única com vida inteligente. Outros partem de outras premissas.
Isso não tem nada haver com naves interplanetárias. Um aspecto é ter vida a dezenas de anos luz da Terra, outra é essa vida ter capacidade de viajar pelo universo. Considerar a hipótese de vida fora da Terra não é admitir que existam discos voadores.
 
Como a ciência trabalha esses fatos de aparições que não conseguiram ser explicados?
Santiago – Não há uma maneira única, pois não há consenso sobre esses fatos. Como astrônomo, estou mais preocupado com mistérios mais palpáveis. Como, por exemplo, a existência de muito mais matéria no universo do que aquela que constitui os planetas, as estrelas e nossos corpos.
 
Componentes além da matéria que faz o universo se expandir de maneira acelerada. A natureza de raios cósmicos, que são partículas de alta energia e cujas fontes não são totalmente conhecidas.  Há tanta coisa que a gente sabe que existe e não consegue explicar. Eu prefiro focar minha atenção e minha energia nesses aspectos do que em relatos de óvnis. Mas isso não quer dizer que não existam pessoas sérias, que usem métodos científicos e possam buscar explicações sobre isso.
 
 

Casos sem explicações

Um dos primeiros registros oficiais de aparição de Óvnis no Brasil foi em 1954. O avistamento teria ocorrido entre as 13h e 16h do dia 24 de outubro daquele ano, na Base Aérea de Porto Alegre. O assunto foi abordado pela imprensa nacional e o próprio Estado Maior da Aeronáutica (Emaer) se manifestou sobre o fato. Pelos documentos, as testemunhas alegaram terem visto dois objetos arredondados, de cor prata. Após esse fato, houve casos intrigantes e que desafiam autoridades e cientistas. A Hora lista alguns mistérios de mais repercussão no Brasil desde então:
 

Operação Prato

 
Nos anos 1977 e 1978 supostas aparições e mortes no Pará resultaram na montagem de um grande aparato militar do 1º Comando Aéreo Regional. Para ufólogos é um dos casos mais rumorosos de óvnis e abduções no país.
 
A investigação foi conduzida pelo capitão da Aeronáutica Uyrangê de Hollanda Lima. Em uma embarcação, se aproximou 70 metros de um objeto grande, com cerca de 100 metros de comprimento, sobrevoando o rio Guajará-Mirim. Pelos relatos, parecia uma bola de futebol americano e foi fotografado e filmado pelos militares.
 
A entrevista está disponível no Youtube. São quase duas horas de conversa com a equipe da Revista UFO. Dois meses após a gravação, Hollanda foi encontrado morto. A versão oficial é que ele tenha se enforcado no quarto de casa com a corda do roupão.
 

“Luz vampiro”

Os relatos sobre aparição de óvnis no Pará começou em setembro de 77. Moradores ribeirinhos dos povoados de colares, Mosqueiro e Ananindeua alegam terem sido atacados por raios luminosos vindos do céu. A psiquiatra Wellaide Carvalho, ex-diretora da Unidade de saúde de Colares conta que dois orifícios paralelos, como agulhas, haviam penetrado a pele das pessoas.
 
A entrevista foi exibida em 25 de agosto de 2005 pelo programa Linha Direta – Mistérios.
Os pacientes deram entrada com sintomas de anemia, tontura e febre. Tinham marcas de queimaduras de primeiro grau pelo corpo. Os ribeirinhos apelidaram o fenômeno de “Luz Vampiro.” Parte dos arquivos da Operação Prato está no Arquivo Nacional.
 

Agroglifos em Santa Catarina

Círculos e sinais gigantescos em plantações no Oeste de Santa Catarina ocorrem sempre na mesma época do ano. A última ocorrência foi em 2017. A cidade com mais acontecimentos é Ipuaçu.
 
Em um relatório de 2013, feito pelo policial e perito do Instituto de criminalística do Paraná, Antônio Inajar Kurowski, e publicado pela revista UFO, foram constatadas a presença de dois agroglifos distantes cerca de 2,6 km entre si em linha reta.
Pelas considerações do perito, não há sinal característico de ação humana nos sinais. Pelo contorno dos desenhos com irregularidades, hastes da vegetação dobrada ou partida e algumas entrelaçadas. De acordo com o documento, os desenhos são geométricos, simétricos e harmônicos e denotam terem sido feitos por algo inteligente.
 

ET de Varginha

A cidade de Varginha, interior de Minas Gerais, ficou famosa no mundo inteiro devido aos episódios ocorridos no dia 20 de janeiro de 1996. A história começou quando três meninas teriam visto um ser estranho, de olhas vermelhos, pele marrom e que não parecia deste mundo. Após esses relatos, mais testemunhas começaram a surgir. Afirmaram terem visto objetos luminosos no céu. Movimentações militares estranhas na cidade e até mortes deixaram a história ainda mais estarrecedora.
Acredita-se que pelo menos três criaturas teriam sido pegas pelos militares e levadas para pesquisas em um laboratório. O marco do episódio foi o dia 20 de janeiro, quando pessoas viram militares levando dois corpos em um saco para dentro de um caminhão.
 
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FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

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