Valorizados pela origem e qualidade

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Valorizados pela origem e qualidade

Nas feiras e exposições, um dos endereços mais movimentados é o das agroindústrias. Produtos coloniais remetem a hábitos do interior e proporcionam degustação de queijos, salames, vinhos, sucos e schmiers e também comercialização de roupas feitas à mão.

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Valorizados pela origem e qualidade
Vale do Taquari

Com qualidade e procedência, os itens garantem o sustento de milhares de famílias e a sucessão dos negócios em pequenas propriedades. De acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), o estado tem 1,7 mil agroindústrias cadastradas no Programa Estadual de Agroindústria Familiar Selo Sabor Gaúcho. São gerados 3,4 mil empregos.

Segundo Jocimar Rabaioli, assessor de Política Agrícola e Agroindústrias da Fetag, pelo censo do IBGE de 2006, nove mil famílias gaúchas transformam o que produzem nas propriedades e,assim, agregam valor à produção primária.

Embora não seja possível mensurar o faturamento anual desse segmento no mercado local e em políticas públicas, Rabaioli destaca que apenas o resultado obtido pelas agroindústrias na participação em feiras chega a R$ 10 milhões por ano.

Produtos como embutidos de suínos, artesanato, derivados do leite, entre muitos outros, garantem lucro aos agricultores. “A diversidade da agricultura familiar faz o sucesso dos empreendimentos. Um agrega valor ao outro e é graças a isso que os consumidores encontram um mix tão grande de produtos nas feiras”, diz Rabaioli.

De acordo com ele, cada vez mais o agricultor familiar percebe a importância de produzir, transformar e comercializar. “Estimamos em crescimento anual de 25% no número de empreendimentos que saem da informalidade”, aponta.

Para Rabaioli, as feiras trazem oportunidades ilimitadas aos agricultores por garantir a venda direta ao consumidor, abertura de novos canais de comercialização, contatos comerciais e troca de experiências. “Os produtores podem falar, por exemplo, de onde e de que forma os produtos são produzidos, quais suas particularidades e o que os torna mais saborosos, propiciando, desta forma, negociar diretamente com o consumidor final, sem intermediários.”

Para Dionatan Tavares, diretor de Agricultura Familiar e Agroindústria da SDR, a agroindústria é fundamental para a sobrevivência da pequena propriedade, principalmente se a família for grande.

O secretário de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo, Tarcísio Minetto, destaca que esses empreendimentos são uma oportunidade para a geração de valor, que está ligada diretamente à formação de mão de obra e, consequentemente, à oferta de produtos de qualidade.

Jovens e inovadores

Basta uma volta no pavilhão das agroindústrias em feiras para ver que uma nova geração de produtores assume o comando. Jovens na faixa de 30 anos tomam a frente da gestão e aliam a tradição herdada dos pais com a vontade de inovar. “O bom de ser dono do próprio negócio é ser livre para ir e vir. Trabalhamos bastante, mas por algo que é nosso. Se estivesse em uma empresa batendo cartão neste momento, não poderia vir até a Expoagro Afubra conferir as novidades e aprimorar o trabalho na propriedade”, comenta Marcelo Rabaiolli, 26, de Imigrante, proprietário de uma agroindústria de suco de laranja e uva.

Com ajuda do irmão Marciano, 32, legalizou o empreendimento há dois anos. Por ciclo, são industrializados 44 mil litros de suco de uva integral. “Vender o produto in natura dava prejuízo. Nesta safra perdemos 90% das frutas. Sem a agroindústria, a saída seria buscar emprego na cidade e abandonar a propriedade, pois estaríamos sem renda”, conta Marcelo.

Na exposição pela primeira vez, aproveitaram para lançar o suco de laranja integral, feito apenas com o néctar da fruta. Para cada litro produzido, são necessários dois quilos de frutas, trazidas de São Paulo. A garrafa de um litro é vendida a R$ 8, mesmo preço cobrado pelo suco de uva. Para a feira, foram fabricados dois mil litros. Com a boa aceitação, a meta é ampliar a oferta. Entre as dificuldades, cita a concorrência com empresas maiores. “Conseguem abastecer o mercado com grandes volumes e valores inferiores.”

Segundo Marciano, a conquista de clientes é justificada pela qualidade, a forma artesanal de produzir e a procedência. “Usamos frutas sadias e não misturamos nada de corantes ou água. É o suco puro.”

Quiabo vira conserva

Reconhecido pelos benefícios à saúde, o quiabo virou uma boa fonte de renda para o casal Jair e Doralina Bertuol, de Encantado. No sítio de cinco hectares, há dois anos começaram a aproveitar a oferta de frutas e hortaliças para produzir schmiers, compotas e conservas. O mix de produtos chega a 23 itens.

Antes do beneficiamento, os produtos eram vendidos em feiras ou nas casas. “Além do baixo preço, muito era desperdiçado. Hoje tudo se aproveita”, destaca Jair, que trabalhou durante 32 anos como pintor. Entre as novidades apresentadas na exposição, estava a conserva de quiabo e a schmier de laranja com cenoura.

Cada unidade é vendida a R$ 8. “O quiabo em conserva é um sucesso entre o público”, alegra-se Doralina. A hortaliça é produzida apenas nos meses quentes. São em torno de mil pés. Por safra, são envazados três mil vidros. “É a insulina natural contra o diabetes. Divulgar os benefícios à saúde ajuda a incrementar a demanda.”

A amora é outra fruta com destaque entre os consumidores. Por ciclo, são colhidos quatro mil quilos, tudo transformado em schmier e geleias. Com cem pés cultivados, o casal lança nos próximos meses a schmier de banana. “Tudo é cultivado sem uso de agrotóxicos. Nos preocupamos com a nossa saúde e a do consumidor.”

Do tacho ao mercado

Claudio Posselt, de Venâncio Aires, trabalha no beneficiamento de cana-de-açúcar faz 14 anos. Em função da crescente demanda, em 2014 investiu R$ 80 mil na construção de um novo prédio de 220 metros quadrados. Por ano, as vendas superam nove mil toneladas de melado, açúcar mascavo e schmier colonial. O preço médio do quilo é de R$ 6. “Transformamos uma tradição em um negócio rentável.”

Com ajuda da família, ainda são produzidos 180 litros de leite por dia e cultivados 30 mil pés de tabaco. A diversificação ajuda a manter estável a economia e estimula o filho Rodrigo, 18, a continuar na propriedade. “Embora o rendimento por hectare seja menor quando comparado com o fumo, é um alimento e sempre terá mercado.”

A Embrapa Clima Temperado apresentou nove novas variedades de cana-de-açúcar de maturação precoce e tardia durante a feira. Elas podem ser usadas tanto para a produção de etanol quanto para outros produtos como o açúcar mascavo, melado, cachaça e outros derivados.

De acordo com a analista da Embrapa Clima Temperado, Cândida Raquel Scherrer Montero, combinados e bem manejados, os cultivares permitem um longo período de utilização pela indústria. “Para isso, é interessante que os produtores tenham diferentes variedades, pois, assim, conseguem ter produtividade de maio a novembro.”

Três gerações e muito sabor

Os avós, pais, tios e o agricultor Patrick Castoldi, de São José do Herval, formam o maior patrimônio da Agroindústria Castoldi. São os proprietários e a mão de obra da fábrica de doces, geleias, polpa de frutas, conservas e picles.

Os Castoldi produzem até três toneladas de doces e conservas por mês, e chegaram na Expoagro Afubra com mais de meia tonelada em produtos. A fábrica tem uma boa comercialização porque integra um projeto de fornecimento de merenda escolar diretamente das agroindústrias. “Hoje atendemos escolas em cinco municípios na região de Soledade”, orgulha-se. A presença em feiras é para ampliar o mercado, a produção e a renda. “Afinal, esse é o objetivo da agroindústria: começar pequena, trazer melhor qualidade de vida, empregos e renda à família, e seguir crescendo.”

Sucesso entre os clientes são as geleias e polpa de frutas exóticas como pitanga, guabiju, cereja, jabuticaba e physalis, todas cultivadas na propriedade. Embalagens de 400 gramas congeladas rendem dois litros de suco.

Entre as dificuldades, destaca a falta de matéria-prima. “Existe pouca oferta e em poucos dias o estoque termina.” O preço médio é de R$ 8. Além disso, outras frutas como manga, goiaba, laranja, bergamota, pêssego, figo, uva, amora, mamão e abacaxi são processadas. “Nada se perde. Compramos qualquer quantidade, desde que tenha qualidade. Isso tem incentivado muitas famílias a apostar na fruticultura.”

Além de programas sociais, o produto é vendido em um paradouro às margens da BR-386, mercados e restaurantes de todo país.

Tabaco é substituído

Ademir Radaelli, 47, de Doutor Ricardo, plantou fumo por 20 anos. O contato direto com os agrotóxicos, a falta de mão de obra e a oscilação do preço fizeram o produtor trocar de atividade. As hortaliças cultivadas na horta passaram a ter mais importância. De alimento para subsistência, tornaram-se a matéria-prima para Radaelli montar seu próprio negócio, uma agroindústria de conservas.

Com R$ 70 mil, construiu um prédio e comprou máquinas. Participou de cursos e se especializou. Em setembro de 2015, lançou os primeiros potes com pepino, beterraba, couve-flor, brócolis e cebola. Por ano, a meta é envazar cinco mil unidades. “A renda é menor, mas trabalhar com alimento, cultivado de forma orgânica, me deixa mais feliz e sei que nunca faltará cliente na porta de casa.”

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