Cultivo adaptado às fases da lua

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Cultivo adaptado às fases da lua

Agricultores apostam no estímulo da lua para garantir grãos maiores e animais saudáveis. Pesquisadores confirmam que a luz desse satélite natural ajuda a planta. Tradição perde força com o avanço da tecnologia e a genética das sementes e apenas é preservada na agricultura familiar.

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Cultivo adaptado às fases da lua
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Há muito tempo, a lua aguça a curiosidade do agricultor. Por gerações, o cultivo de alimentos é baseado nas fases desse satélite natural, orientando-se no aproveitamento correto da sua luminosidade. Embora menos intensa do que a do sol, penetra mais fundo no solo e pode acelerar o processo de germinação das sementes.

Mesmo localizada a 384 mil quilômetros de distância da Terra, a lua influencia na vida de produtores como Bruno Guillante, 73, de Arroio do Meio. Ele aprendeu a observar a lua com os avós. “Se colher sorgo-vassoura no primeiro dia da lua nova ele é atacado por pragas. Só corto três dias antes ou depois.”

Por ciclo, produz 500 vassouras, vendidas ao preço médio de R$ 21 a unidade. Segundo ele, o aipim plantado na lua nova, apesar de produzir mais, tem gosto amargo. “Também dá quando se planta em dias de vento norte.” A fase, porém, é ideal para o nascimento de leitões, outra atividade exercida na propriedade pelo filho Ilson.

“Para castrar é melhor na minguante”, explica. Isto porque, segundo o agricultor, nessa fase, o animal não ‘incha’ e, dependendo da lua em que os leitões nascem, podem ficar até mais fortes. As luas nova e crescente são boas para podar o parreiral de uva. O milho que for plantado nesse ciclo fica mais bonito.

De acordo com Guillante, na lua cheia dificilmente chove. “Se houver precipitação, será intensa. Em época de seca, a lua nova sempre é a esperança de chuva. Se passar, teremos uma seca.”  Ele observa as condições meteorológicas faz 15 anos e anota tudo em um caderno.

“Hoje a tecnologia está avançada, mas a lua continua influenciando muito as condições do tempo e a produção aqui no campo”, afirma. Quando era mais novo, Guilante também se baseava pelo sol. Sem relógio, era pela sombra do corpo que ele e a mulher se guiavam. “Quando a sombra da cabeça chegava aos pés, era hora de ir para casa almoçar.”

Tradição é superada pela genética

A ciência explica que durante o dia é a vez do sol iluminar e dar força para que as plantas possam crescer. Durante a noite, é a vez da lua iluminar. Um equilíbrio importante para as culturas. “É o deslocamento da energia da luz. Então ela se propaga na atmosfera e chega aos níveis do subsolo”, aponta o engenheiro agrônomo Nilo Cortez.

De acordo com os pesquisadores, assim que anoitece, a luz que vem da lua ajuda na circulação da seiva que existe na planta, permitindo que cresça forte. Segundo Cortez, essa tradição preservada por gerações perde força. É seguida apenas pelos agricultores familiares com idade mais avançada, que produzem apenas para subsistência.

Na opinião do agrônomo, todo esse conhecimento deve ser respeitado, embora muitas vezes seja difícil plantar na fase da lua mais adequada devido às variações do tempo que não permitem o preparo do solo ou mesmo a semeadura.

De acordo com Cortez, antigamente, quando as sementes não eram adaptadas às condições meteorológicas de cada região, o produtor seguia rigorosamente as fases da lua para plantar. “Hoje existem ciclos. A falta de mão de obra, cultivo em grandes áreas e uso de sementes modificadas superam a tradição.”

O plantio em cada fase

O agrônomo destaca que na lua minguante a energia ou força contida na terra tende a descer. O período é ideal para cultivar raízes: rabanete, beterraba, cenoura, inhame, batata, cebola de cabeça (bulbos) e outras.  A planta absorve menos quantidade de seiva no caule, nas folhas e nos ramos.

É uma fase boa para tirar bambus, madeiras para construção e cabos para ferramentas. A durabilidade é maior e são mais resistentes ao ataque de pragas. O período também é bom para fazer desbrota (porque a planta está menos concentrada de seiva, cicatriza mais rápido os ferimentos e dificulta a penetração de parasitas).

Na lua nova, a seiva está em maior quantidade no caule, em direção aos ramos. Nessa fase, planta-se mais couve-comum, almeirão, cebolinha, espinafre, plantas medicinais e outras. Bom para plantar árvores destinadas à produção de madeira.

A lua crescente exerce influência muito boa sobre as plantas, com isso, a seiva está presente em maior quantidade no caule, nos ramos e nas folhas. Fase boa para plantar tomate, pimentão, jiló, quiabo, berinjela, feijão – vagem, pepino, abóbora, milho, arroz, feijão e outras, sejam frutíferas, legumes ou cereais. O tomate plantado nesse ciclo produz mais, as pencas ficam mais próximas, com mais frutos. Bom para fazer enxerto e poda.

A lua cheia é a fase em que a influência sobre a terra chega ao ponto máximo, mas só nos primeiros dias, pois depois sofre efeito da minguante. Planta-se: repolho, couve-flor, alface e outras. Além das hortaliças, a fase é ótima para o plantio de flores. No período, a seiva se concentra na copa da planta (ramos e folhas).

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