Sobram alternativas, falta rentabilidade

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Sobram alternativas, falta rentabilidade

No Brasil, a produção de fumo gera renda para cerca de 168 mil agricultores, 80 mil só no RS. Desde 2005, o país faz parte de um tratado internacional que reúne 180 nações para reduzir o consumo de tabaco, responsável por muitas doenças. Como as medidas devem afetar diretamente a produção no campo, sindicatos, Emater e entidades representativas do setor buscam maneiras de diminuir a dependência econômica dos fumicultores estimulando a diversificação nas propriedades.

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Sobram alternativas, falta rentabilidade
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Com os 60 mil pés de fumo colhidos em uma área de quatro hectares, em Linha Anto Bravo, a 18 quilômetros do centro de Progresso, Venícios Brandão, 22, comemora a boa cotação da cultura neste ciclo.

Embora as intempéries meteorológicas tenham causado queda de 40% na produtividade, ainda é o fumo que põe no caixa da família o maior percentual da renda por hectare – cerca de R$ 12 mil.

Após concluir o curso de Técnico Agrícola há dois anos, por intermediação do professor, Brandão voltou para a propriedade dos pais. No mesmo período, colocou em prática o aprendizado adquirido durante a formação e o estágio, onde trabalhou durante 12 meses na criação de suínos.

Dos 36,6 hectares, apenas a metade é cultivável. O restante é mata nativa e área de preservação permanente. No local, estão espalhadas caixas de abelhas, cuja maior parte da produção é destinada ao consumo familiar.

No restante, o tabaco ainda reina absoluto. Aos poucos, a produção leiteira, 250 litros diários, ajuda a incrementar os lucros. A matéria-prima das 16 vacas em lactação é destinada para uma cooperativa de Encantado. “Igual ao tabaco, temos garantia de orientação técnica, boa remuneração e pagamento sem atrasos.”

Para tocar a propriedade, Brandão conta com a ajuda dos pais e de dois irmãos. Ao longo do ano, todos se revesam para cuidar do rebanho e do plantio de tabaco. “Precisamos diversificar, mas está difícil encontrar uma cultura mais rentável em uma área pequena.”

A família investiu R$ 100 mil na construção de um galpão, compra de um trator, instalação de uma sala de ordenha e um resfriador a granel. O jovem reclama da infraestrutura precária do interior. “Não há água encanada, sinal de internet e celular funciona apenas com antena. Não vejo isso como um conforto, mas uma necessidade mínima para ficar no campo. Tudo faz parte do processo de melhora na gestão, acesso à informação, aumento da produtividade, da nossa renda e qualidade de vida.”

A tentativa de Brandão em diversificar, freada pela dependência econômica do tabaco, retrata parte da realidade dos 80 mil fumicultores gaúchos. Depois de 11 anos da ratificação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco pelo Brasil, encontrar alternativas viáveis a essa cultura ainda é o grande desafio do segundo maior produtor mundial e líder em exportações desde 1993.

Área reduz 30%

Em Progresso, conforme dados da Emater, a área cultivada reduziu em 30% nos últimos 15 anos. A atuação de cooperativas estimula investimentos nas cadeias leiteira e suína. No entanto, para muitas famílias o tabaco ainda é a principal fonte de lucro.

Segundo a extensionista Simone Teresinha Kotz Wobetto, o fato de muitas famílias ainda trabalharem em áreas arrendadas ou em regime de parceria, devido à boa lucratividade, faz o tabaco ser a principal cultura. “Quem conseguiu comprar sua terra tem mais facilidade de diversificar. Aqueles que moram de aluguel plantam o que o patrão determina e dá dinheiro, ou seja, fumo.”

Neste ciclo, 614 famílias cultivaram 1,6 mil hectares. A média colhida por hectare chega a dois mil quilos. Na Chamada Pública de Diversificação do Tabaco e Pública da Sustentabilidade, em torno de 180 agricultores recebem orientação técnica e alternativas para reduzir a dependência. “É um trabalho de formiguinha. Diariamente fazemos visitas e tentamos estimular o produtor a ter novas formas de gerar renda na propriedade. A grande dificuldade é o valor ganho por hectare e todos os benefícios que a indústria oferece. Nos demais setores, essas vantagens são menores e geram um lucro inferior.”

Entre as atividades, a cadeia leiteira é a que ganha mais adeptos. Houve um acréscimo de 70% na produção nos últimos dez anos. São 279 produtores, cuja produção anual alcança 10,6 milhões de litros. São 12 suinocultores e 78 produtores de frangos.

Confira matéria completa no https://issuu.com/jornalahoraltda1/docs/agronoticias_01_036158e2170ea5?e=19601091/34328770

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