Exigência de PPCI  preocupa setor produtivo

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Exigência de PPCI preocupa setor produtivo

Entidades representativas buscam adequação da Lei Kiss. Anteprojeto está em fase de elaboração. Apesar de casos de incêndios serem recorrentes, principalmente em aviários, produtores contestam medida e argumentam que medida é desnecessária e aumenta os custos de produção.

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Exigência de PPCI  preocupa setor produtivo
Vale do Taquari

A exigência de elaboração do Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndio (PPCI) nos imóveis rurais definida pela lei 14.376, conhecida como Lei Kiss, preocupa produtores e representantes da cadeia produtiva.

Lideradas pelo Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa), nove entidades propõem a dispensa do PPCI em aviários, chiqueiros, pocilgas, estrebarias, estábulos, bretes, criadouros, instalados em edificações rudimentares ou provisórias.

Conforme o presidente Rogério Kerber, a lei é muito ampla e por isso ele defende uma adaptação à realidade do setor. Com a maior parte das estruturas de produção de suínos e aves automatizadas, destaca que a presença de pessoas nesses locais, até por questões de sanidade, é limitada e por períodos muito curtos durante o dia.

“Apenas ocorre uma vistoria para ver se tudo está dentro da normalidade. Diferente de uma indústria, restaurante ou clube onde a presença de pessoas é contínua e por longas horas.”

Com quase 50 anos de experiência na atividade rural, Kerber, que também atua como diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (SIPS/RS), reforça que não recorda de nenhum incêndio ligado à suinocultura. “A lei protege a vida humana. Não existe risco comprovado que justifique a adoção do plano. Seria mais um custo ao produtor.”

O argumento é reforçado por José Eduardo dos Santos, diretor-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). “O risco é zero. Não se precisa instalar um sistema hidráulico, ou diferentes tipos de extintores de incêndio. Precisamos adequar a lei à realidade de cada segmento.”

Na indústria de aves faz mais de 20 anos, Santos diz não ter conhecimento de incêndio em aviários. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) pretende excluir hortigranjeiros e agroindústrias familiares da exigência de PPCI. A justificativa é de que o investimento é inviável e desnecessário nas estruturas. Entre as exigências da lei, estão a obrigação de instalar hidrante, porta de emergência, extintores, reservatório de água, entre outros.

Uma proposta de mudança para a Lei 14.376 foi encaminhada pelo Conselho Estadual de Segurança, Prevenção e Proteção Contra Incêndio (Coesppci) ao governador José Ivo Sartori em janeiro. O projeto já passou pela Casa Civil, que remeteu à direção-geral da Secretaria da Segurança Pública. Hoje, o anteprojeto está em fase de elaboração. Ou seja, ainda pode sofrer alterações.

Entre as mudanças propostas pelo Conselho ao governador, está a isenção de PPCI em edificações agropastoris de exploração familiar, como silos de pequeno porte, aviários e pocilgas, informa o major Everton de Souza Dias, chefe da divisão técnica de Prevenção de Incêndio do Corpo de Bombeiros. A proposta final com as alterações será encaminhada para a Assembleia Legislativa.

“Será mais um custo”

Sírio Lamm, 68, de Travesseiro, se dedica à avicultura faz mais de 30 anos. Neste período, foi registrado apenas um princípio de incêndio durante a queima de penas, durante a limpeza da estrutura.

Critica as exigências da lei. “É mais um custo. Algumas pessoas sem conhecimento de como funciona o trabalho nas propriedades criam e aprovam essas leis e quem paga somos nós. O risco de alguém morrer dentro de um aviário é quase nulo, ainda mais em um incêndio.”

Com todo processo automatizado, em caso de um fio elétrico tocar o chão ou a tela, o sistema é desativado na hora. Além da colocação dos fios em dutos, os fornos foram instalados em prédios de material, acoplados aos aviários. O calor é levado ao interior por meio de um cano de inox. “Pagamos seguro de R$ 1,6 mil por ano para compensar possíveis perdas com vendavais ou incêndios.”

Mais casos em aviários

No RS, a ocorrência de incêndios em aviários é recorrente. O sinistro geralmente está relacionado a falhas na rede elétrica ou caldeiras usadas para aquecer as estruturas durante os dias de frio. O último caso registrado no Vale do Taquari aconteceu no dia 5 de outubro do ano passado em Linha Lenz, em Estrela.

O sinistro teria iniciado no forno. No aviário, havia 21 mil animais, dos quais 12 mil morreram devido ao calor e à fumaça. De acordo com o filho Egídio, o forno foi reformado antes de receber este novo lote. “Estava bem vedado, mas como o prédio está localizado na parte alta onde pega bastante vento, qualquer faísca pode originar um incêndio.”

Um levantamento inicial apontou prejuízo de R$ 100 mil. Além da estrutura e equipamentos, queimaram 30 metros de lenha, armazenados ao lado da caldeira. O sistema é elétrico e o avicultor programa o aparelho para ser acionado caso a temperatura fique abaixo do mínimo. A família se dedica à atividade faz 18 anos. São dois aviários com capacidade de alojar 42 mil aves por lote.

“O ideal é ter seguro”

O gerente de uma empresa especializada na venda de equipamentos para aves e suínos, de Lajeado, Lucélio Lunedo, destaca os cuidados para evitar esse tipo de prejuízo em aviários.

Recomenda uma reforma da caldeira a cada três anos, além de evitar o depósito de lenha ao lado da estrutura e providenciar a colocação de dutos para proteger os fios elétricos. “O ideal é ter seguro. Algumas empresas exigem até extintores. O melhor é monitorar e evitar o acúmulo de penas perto da estrutura, pois elas são altamente inflamáveis.”

Procura aumenta

Para dar continuidade à produção em caso de sinistro (incêndio, temporal ou vendaval), os produtores começam a recorrer ao seguro. As modalidades oferecidas contemplam criações de aves, suínos ou até mesmo toda propriedade.

Conforme o corretor Rogério Lourenço, de Lajeado, os valores variam de acordo com a atividade. Os mais procurados são para a avicultura, setor em que as perdas são mais recorrentes. Na região, 600 estruturas têm seguro.

ara o setor, são colocadas à disposição do cliente três modalidades. “O valor mínimo pago por ano é de R$ 800. Varia de acordo com a metragem, tempo de construção e para qual tipo de sinistro o produtor queira se prevenir.”

No caso da suinocultura, o valor mínimo é de R$ 550. A modalidade porteira fechada tem valor inicial de R$ 1,1 mil. Segundo Lourenço, o seguro passou a ser uma exigência das próprias integradoras.

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