Escassez histórica  eleva preço do feijão

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Escassez histórica eleva preço do feijão

Nos últimos quatro anos, o cultivo de feijão reduziu cerca de 50% no RS. Nesta safra os preços são remuneradores em boa parte do país e isso pode levar os produtores a ampliar a área plantada no próximo ciclo. A saca de 60 quilos da variedade carioca, a mais consumida, vale R$ 200.

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Nem o bom preço pago pela saca neste ciclo e a escassez histórica em época de safra serão capazes de tornar o feijão um atrativo para os produtores. Em 1980, o grão chegou a ocupar 230 mil hectares.

Na atual safra, não passou dos 76 mil hectares, segundo a Emater. A produtividade média está estimada em 1,4 mil quilos.

Entre 2010 e 2014, a produção caiu quase 50%. A sensibilidade da cultura ao clima, o mercado consumidor restrito e a remuneração menos vantajosa quando comparada a outras culturas, especialmente a soja, são as principais causas para o declínio.

O mercado desorganizado e instável, somado à dificuldade de encontrar mão de obra para a colheita (manual em grande parte das propriedades), torna a atividade pouco atrativa, mesmo que o preço registre alta nesta safra. A saca de 60 quilos é cotada a R$ 200, acima da média histórica, de R$ 112.

Como a demanda por soja não para de crescer no mercado internacional, a perspectiva é de avanço ainda maior do grão dourado sobre as lavouras de feijão, assim como tem ocorrido com culturas de milho e trigo.

Por ser uma produção de ciclo rápido, a tendência para os próximos anos é de que a lavoura só avance levemente em momentos de bons preços, como agora. Como as quase 111 mil toneladas de feijão estimadas para produção nesta safra no estado não suprem a necessidade do consumo interno, a importação da Argentina e China deve ser mais constante.

Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe) e analista da Correpar Corretora de Mercadorias, Marcelo Lüders, o déficit entre dezembro e março deste ano chega a oito milhões de sacas.

Como consequência projeta o aumento do valor cobrado pela semente e redução da área cultivada no próximo ciclo. “A alta do dólar, ataque de pragas, aumento da tarifa de energia elétrica, motiva produtores de migrar para outras culturas mais rentáveis.”

Retomada temporária

Na década de 80, o feijão ocupava 16 mil hectares em Sobradinho. Neste ciclo, foram cultivados apenas 80 hectares. Na maioria das 600 propriedades rurais, o plantio é para o consumo próprio.

Entre os motivos para essa queda brusca, o engenheiro agrônomo Luís Fernando Rodrigues de Oliveira, destaca a falta de mão de obra, preço baixo, alto valor da saca de soja e o elevado custo para mecanizar a lavoura. Outro empecilho é o ciclo curto. “A soja resiste mais à falta de chuva ou excesso de umidade. O feijão com 35 graus aborta e o prejuízo é certo.”

Com a safra praticamente encerrada, a média colhida por hectare chega a 820 quilos. “O grão está manchado e a qualidade é considerada média devido ao excesso de chuvas.” A saca de 60 quilos está cotada a R$ 150, um aumento de R$ 30 em comparação ao ciclo anterior. Mesmo com a boa valorização, descarta a retomada do cultivo nos próximos ciclos.

Bons rendimentos

O casal Sílvio e Bernadete Montineli, de Boqueirão do Leão, destinou dois hectares para o cultivo das variedades preto tuiuiú e crioulo. A estimativa é de colher até dois mil quilos. Com a demanda em alta, o preço do quilo deve chegar a R$ 4 neste ciclo.

“Investimos R$ 1,5 mil na lavoura e nosso retorno será de R$ 10 mil. Desconheço outra cultura onde o lucro seja tão elevado em um espaço tão pequeno e o custo tão baixo”, comenta Sílvio. Boa parte do grão é vendida para uma cooperativa local.

A garantia de mercado e preço anima o casal a ampliar a área. Entre as dificuldades do ciclo, destacam o excesso de chuvas e as altas temperaturas. Para obter bons rendimentos, o casal recomenda a escolha de sementes de qualidade e certificadas. Além do feijão, são cultivados 22 mil pés de fumo e um hectare de uva.

De 200 para apenas 20

Conforme levantamento do IBGE, o leguminosa ocupa apenas 20 hectares, sendo 40% para fins comerciais.
De acordo com o extensionista da Emater, Eduardo Mariotti Gonçalves, nos últimos 20 anos, a área cultivada reduziu 180 hectares.

Tendo o fumo como principal atividade agrícola no meio rural, após a colheita, os produtores são incentivados a cultivar feijão e milho nas restevas. O programa é desenvolvido pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco). “A maioria planta apenas para consumo.

O preço é instável e a cultura é muito suscetível ao clima.” Gonçalves diz que as lavouras implantadas em setembro registraram perdas de até 80% devido às condições meteorológicas adversas. Quem plantou mais tarde conseguiu bons resultados. Ele diz que o período de plantio se estende até início de março.

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