Grito das ruas chega ao Legislativo

Você

Grito das ruas chega ao Legislativo

No terceiro ato do protesto em Lajeado, manifestantes pedem espaço na câmara para apresentar as reivindicações do grupo aos vereadores. Ontem, em Estrela, cerca de 600 pessoas enfrentaram a chuva e o frio e bloquearam o trânsito nas ruas principais. No fim de semana, seis cidades do Vale registraram protestos.

Por

Vale do Taquari – O eco das vozes chega ao Legislativo de Lajeado. Hoje, a sessão do parlamento será destinada aos manifestantes. Devido ao número de confirmações, a sessão foi transferida para o Ginásio Nelson Brancher, o “Claudião”, a partir das 17h. A decisão foi tomada em reunião dos integrantes do movimento com o presidente da câmara, Sérgio Kniphoff (PT), na tarde de ontem.

mEles terão espaço para expor as reivindicações. Cada vereador receberá um ofício com os pedidos do movimento. Os termos abordam melhoria no transporte público em Lajeado, redução do quadro de servidores públicos, em especial no número de Cargos de Confiança, mais transparência nas contratações de empresas e outros assuntos.

Esse será o terceiro ato de protesto em Lajeado. Para Kniphoff, a participação dos manifestantes é positiva. Ressalta a inteligência do grupo em ocupar o espaço para cobrar eficiência dos poderes públicos.

Confessa ser uma experiência nova para os políticos, mas importante para o avanço da democracia no país. Na opinião dele, esse encontro entre parlamentares e manifestantes entrará para a história política da cidade. “Não temos notícia de outra câmara abrir espaço para o debate.”

Diante das críticas aos conclaves entre partidos, o presidente do Legislativo de Lajeado acredita ser necessário agilizar a reforma política no Congresso Nacional. Pensar a democracia sem partidos, sentencia Kniphoff, é impossível. “Passaremos por uma discussão. É necessário diminuir as siglas e reestabelecer prioridades.”

Entre as críticas do movimento, a abertura de mais cinco vagas na câmara não garante qualidade nos serviços do Legislativo. Uma das defesas dos manifestantes é exigir o Ensino Médio completo para parlamentares. Querem mudança na lei para que condenados por corrupção sejam presos. Até o fim da tarde de ontem, mais de 600 pessoas confirmaram presença pela rede social.

Em Estrela, manifestantes fecham rodovia

No fim da tarde de ontem, cerca de 600 pessoas caminharam pelas ruas centrais de Estrela. A passeata começou em frente à rodoviária, na Av. Rio Branco. Estudantes, trabalhadores e aposentados reforçaram os pedidos pelo fim da corrupção no país.

Entre as fileiras dos descontentes estava o aposentado Heitor Martins. Na cartaz, ironia sobre os gastos da presidente Dilma Rousseff, em 2012, pelo cartão corporativo, foram R$ 17 milhões. “São gastos secretos. Ninguém sabe, ninguém viu.”

Em seguida, os manifestantes entraram na câmara de vereadores em meio à sessão. O presidente José Itamar Alves tentou controlar a situação e foi vaiado. Os trabalhos foram suspensos.

Alguns vereadores foram conversar com integrantes do grupo no lado de fora. “Fora traidores”, gritava um homem. Os salários dos parlamentares foi motivo de críticas. “Vereador não é profissão.” Ao sair da câmara, o grupo se dirigiu a BR-386. O trânsito foi bloqueado nos dois sentidos a partir das 20h. Até o fim desta edição, às 21h, a rodovia permanecia interditada.

Lajeado reúne quase seis mil pessoas no segundo manifesto

O fim de semana foi de mobilização em seis cidades da região. Nesse sábado, cerca de seis mil pessoas foram às ruas em Lajeado. As pessoas se concentraram no Parque dos Dick, a partir das 15h. Pouco mais de uma hora depois, se dirigiram à rua Júlio de Castilho.

A maioria dos estabelecimentos foi fechados. A comerciante Marta Schmitz manteve a sorveteria aberta. “A manifestação é justa. Agora temos que ver se os pedidos serão atendidos.”

Funcionário de uma dedetizadora, Leandro Stoll, 23, carregava um cartaz com os dizeres: “Chega de Pão e Circo”, uma reflexão aquilo que considera controle de massas. “É novelinha, futebol, carnaval. Daí distribuem cestas básicas. A velha estratégia de Roma.”

À frente dos manifestantes, seguia um carro de som. No microfone, estudantes puxavam gritos de guerra. “Ei, vamos acordar, um professor vale mais que o Neymar”, ou “da Copa eu abro mão, quero dinheiro para saúde e educação”, eram cantos repetidos pelo grupo.

Na primeira mobilização, na última quinta-feira, Carlo Guerini percorreu parte dos mais de sete quilômetros da marcha de bicicleta. O motivo, conta, se deve à proposta do vereador Sérgio Rambo em transformar as ciclofaixas em estacionamento durante o horário comercial. “É um absurdo. Como se não houvesse ciclistas nas ruas das 7h às 18h.”

A exemplo dos demais manifestos pelo país, a maioria dos integrantes é jovem, que usam as redes sociais para se organizarem. Em meio a esse público, estava o casal Heloísa e Laone Kunrath. Com os quatro filhos, um recém-nascido, pedem mais vagas em creches e berçário. “Para o mais novo ainda não consegui. Para os outros, foi um ano de espera.”

De alto dos apartamentos, algumas pessoas acenavam para a massa. A aposentada Lurdes Pretto, acompanhava a passeata com entusiasmo. “Finalmente os brasileiros acordaram. As pessoas mostram que estão descontentes e que é preciso mudar.”

Bloqueio da BR-386

Por mais de duas horas, o tráfego pela BR-386 foi bloqueado no sábado. Diferentemente da quinta-feira passada, os órgãos de segurança estavam preparados para a entrada dos manifestantes na via e já haviam trancado a entrada dos veículos. O grupo ocupou as quatro pistas e caminhou até a ponte sobre o Rio Taquari, na divisa com Estrela.

Ficaram pouco mais de 40 minutos no local. Pelo carro de som, repassavam os motivos do protesto, chamavam outros manifestantes para organizar um documento com as reivindicações.

Uma idosa precisou ser levada ao hospital. Um agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) pediu aos manifestantes para liberar a passagem da viatura com a mulher.

Enquanto isso, motoristas aguardavam a liberação do trecho. A professora do Colégio Martin Luther, em Estrela, Karin Kern, não se incomodou em ficar 50 minutos parada. Enaltece o caráter pacífico da mobilização.

Morador de Porto Alegre, Eraldo Bonatto se irritou com o protesto. “Não temos nada com isso. Que tranque a cidade, não uma rodovia.”

O analista de sistemas, Felipe Motim, tem outra opinião. “A manifestação é válida. Ninguém gosta de ficar parado no trânsito, mas faz parte.”

Pouco antes da liberação do trecho, uma ambulância de Coqueiro Baixo, que levava uma paciente com suspeita de fratura precisou furar o bloqueio. Perto das 18h15min a PRF reabriu o fluxo na rodovia.

Mais protestos pelo Vale

Também no sábado, em Encantado, 400 pessoas saíram do Posto Italians até a Praça da Bandeira. Na rua Monsenhor Scalabrini, em frente à prefeitura, gritaram à polícia que era desnecessária a proteção do prédio. Pararam na sede do Legislativo, onde colaram alguns cartazes que criticavam o trabalho dos políticos.

A retirada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 37, maior transparência sobre o uso do dinheiro público, melhorias na saúde e educação eram algumas das reivindicações.

Da praça, o grupo passou pelas ruas Júlio de Castilho e Tiradentes. Um grupo menor decidiu ir até a ERS-129. Por 10 minutos, bloquearam o trânsito no local. Pediam a isenção da taxa de pedágio para veículos com placas da cidade.

Heloísa Agnoletto, 52, levou toda a família para as ruas. Em coro, pediam por mais agilidade na Justiça. Há seis meses, o filho dela, Deo Agnoletto do Couto, foi assassinado com quatro tiros enquanto trabalhava em uma construção. Ninguém foi preso.

O presidente do Conselho Encantadense de Pró-Desenvolvimento, Nestor Bergamaschi, acompanhou as manifestações. Para ele, toda forma de protesto, desde que pacífica, é importante para mostrar a insatisfação do povo. Deixar os cartazes no Legislativo, para ele foi aviso de que o povo fiscaliza as atividades dos políticos, independente de partido.

Em Roca Sales, o manifesto reuniu 30 pessoas. O grupo saiu da rua coberta e seguiu pelo centro até a prefeitura. No prédio, colaram os cartazes, pedindo mais segurança, saúde e transparência.

Em Taquari, no sábado, cerca de 350 pessoas caminharam nas ruas centrais até a prefeitura. Teutônia também teve protesto no sábado. No domingo, estima-se que 300 moradores foram às ruas em Bom Retiro do Sul.

Acompanhe
nossas
redes sociais