Acidentes com mortes chegam a 14 no ano

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Acidentes com mortes chegam a 14 no ano

A imprudência dos motoristas é apontada como principal motivo para o alto número de fatalidades. Nesses primeiros cinco meses, foram 391 acidentes, com 182 feridos. A PRF autuou 28 mil por excesso de velocidade.

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Vale do Taquari – O número de mortes na BR-386 no trecho entre Pouso Novo e Tabaí chega a 14 nesses primeiros cinco meses. Ontem, um caminhão do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) tombou próximo da rótula da Trans Santa Rita, em Estrela. Dois funcionários morreram. Nessa terça-feira, um acidente entre uma motocicleta e um ônibus, em Fazenda Vilanova, fez outra vítima.

aA rodovia é uma das mais movimentadas do estado. Estima-se que 20 a 25 mil veículos passam pelo trecho todos os dias. Quase a metade é de caminhão, ônibus e van. Em relação aos últimos seis anos, houve um aumento de 40% no tráfego pela BR-386.

Nos 250 quilômetros fiscalizados pela 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), entre Canoas e Victor Graeff, foram contabilizados 24 acidentes fatais. Mas o número de vítimas pode ser maior. As estatísticas de óbito da PRF são contabilizadas até duas horas depois do acidente. Caso algum envolvido morrer no hospital ficam fora do cálculo.

Pela avaliação do órgão, o número é alto. O chefe da PRF na região, Adão Vilmar Madril, atribui a isso motivos como imprudência, excesso de velocidade, ultrapassagens em locais proibidos e o consumo de bebidas alcoólicas.

Para o delegado, é necessário mais rigor em multas por ultrapassagens indevidas. “Tem que equiparar com o valor dos casos de embriaguez.” Dessa forma, realça Madril, os motoristas ficarão receosos em ser flagrados pela polícia.

As ocorrências por ultrapassagens entre Pouso Novo e Tabaí chegam a 106. “Uma parcela ínfima”, admite. Quanto à fiscalização, Madril considera que a estrutura da PRF atende as necessidades mínimas. “Em caso de acidentes graves, temos alguma dificuldade.”

Na BR-386, a 4ª delegacia da PRF registrou até o fim de abril, 28.744 veículos acima da velocidade. Nos 250 quilômetros, foram registrados 391 acidentes, com 182 feridos e 17 mortos.

Duas mortes

Dois servidores do Daer morreram após o caminhão tombar. O acidente aconteceu próximo das 8h40min dessa quarta-feira. O motorista, Ademar Francisco de Azeredo, 52, foi esmagado e morreu no local. José da Rosa Lopes, 53, não resistiu aos ferimentos e morreu à tarde no Hospital de Estrela. Outro ocupante do caminhão, Severino Pereira Azeredo Neto, 57, ficou ferido e segue em observação no hospital.

O veículo seguia no sentido capital interior. No quilômetro 355, no acesso à Trans Santa Rita, o veículo desviou para evitar o choque em um carro que estava à frente, aquaplanou e tombou sobre um barranco.

Primeira morte em 27 horas de liberação

O trânsito sobre o viaduto em Fazenda Vilanova foi aberto às 15h30min dessa segunda-feira. Às 18h de terça-feira, Fernando Pereira Rodrigues, 37, de São Leopoldo, pilotava uma Yamaha Fazer, placas IKP-5408, quando foi atingido por um ônibus, que seguia no sentido interior capital.

A vítima estava de férias na casa de familiares. A morte comoveu moradores do município de 3.697 mil habitantes. A dona de casa, Fábia de Castro, considera a liberação prematura. “Ficou horrível. Pouca sinalização, movimento de carros por todos os lados.”

Pedestres que precisam atravessar a rodovia confirmam o perigo. “Os carros continuaram usando as vias laterais”, relata o estudante Leonardo Trindade, 12.

Família quer Justiça

Parentes de Rodrigues pretendem ingressar com ação no Ministério Público (MP) para apurar as responsabilidades da morte do motociclista. Primo da vítima, José Osmar da Silva Filho, conta que após o sepultamento, a família definirá quais atitudes vão tomar.

Ele culpa a precariedade da sinalização. “Isso ocasionou o acidente. O trajeto ficou fechado dois anos. Abrem de uma hora para outra, sem dedicar atenção necessária.”

Em Fazenda Vilanova, nos primeiros cinco meses, quatro pessoas morreram na BR-386. A mobilização da família de Rodrigues, conta Silva Filho, pretende reunir parentes de outras pessoas que morreram em acidentes na rodovia. “Queremos dar o exemplo e evitar que essas tragédias continuem.”

Outro primo de Rodrigues, Rafael da Silva Pereira, 20, reforça o coro de queixas. Critica a liberação de duas pistas no viaduto, quando o projeto prevê quatro. “Não estava pronto. Como podem liberar.”

Rodrigues era casado e não tinha filhos. Trabalhava como operador de máquinas. O ônibus que atingiu o motociclista tinha 38 passageiros. Ia de Teutônia para Triunfo. No tacógrafo, foi constatado que o veículo seguia dentro do limite de velocidade. Pelo relato do condutor, não houve como frear ou desviar. Estava claro, mas chovia no momento do acidente.

Reunião define mudanças

Antes da liberação do tráfego sobre o viaduto da rodovia foram realizadas reuniões entre PRF, concessionária responsável pela obra e Dnit. Para Madril, a abertura foi antecipada devido à pressão dos moradores do município.

Nos encontros, trataram sobre que tipo de sinalização seria colocada nos acessos, retornos e na elevada. Conforme o delegado da 4ª delegacia da PRF, os apontamentos da necessidades de tachões, placas de pare e cones foram atendidos pela empresa que trabalha na duplicação. “Para mim, hoje está mais seguro”, reforça.

Na manhã de ontem, ocorreu nova reunião. Ficou estabelecida a instalação de mais placas no trecho. Outra melhoria será na iluminação sobre a passagem, considerada precária pelo chefe da 4º delegacia da PRF.

Pela apuração da polícia, a causa do acidente foi a imprudência. “O motociclista entrou na pista sem olhar.” Os cavaletes que impediam a passagem por baixo do viaduto foram retirados ontem. Isso possibilita aos motoristas e pedestres do município a passagem sem precisar acessar a BR-386. “O problema agora, e a população tem de ter cuidado, é na passagem depois do viaduto.”

O chefe da 4º Delegacia da Polícia Rodoviária Federal de Lajeado, Adão Vilmar Madril, considera a imprudência como principal causadora dos acidentes.

A Hora: Qual sua avaliação com relação aos acidentes? Quais são os motivos?

Adão Vilmar Madril: Na BR-386, temos um movimento intenso. Os acidentes acontecem por imprudência. Um exemplo foi esse de hoje (ontem) de manhã. Provavelmente o motorista estava sem cinto e as condições do veículo eram ruins.

O caminhão estava em condição precária, não seria aconselhável transitar na rodovia. Dizer que foi por causa da aquaplanagem, não concordo, porque isso só ocorre quando o veículo está com excesso de velocidade.

Se estiver dentro do limite e em caso de chuva, ficar abaixo disso, não tem risco de aquaplanar. Esse não é motivo para um acidente mais grave. Se tem água na pista, diminui a velocidade, mantém uma distância daquele que vai à frente. Isso é dirigir defensivamente. O que o nosso condutor não faz.

Como fazer para reduzir esses números?

Madril: Campanhas de conscientização. Temos de educar nossos motoristas. Nos treinamentos dos novos condutores, poderiam ser mais longos, mais exigentes e com mais acompanhamento. A grande parte dos condutores que saem da autoescola, pega a primeira carteira, ele se cuida. Primeiro porque está na provisória. Depois, até renovar a primeira, continua aquele resquício do ensinamento. Mas quando pega a definitiva, daí ele se acha piloto.

Vemos que os acidentes estão ligados ao excesso de velocidade, falta do uso do cinto de segurança, ultrapassagens proibidas, consumo de álcool entre outros. Para mim, é preciso mais rigor nas punições. As multas devem ser mais altas.

Quais os trechos mais perigosos da BR-386?

Madril: O mais perigoso é na parte alta. Em Pouso Novo, nesta época tem muita neblina e trafegam muitos caminhões carregados. Na área urbana, entre Lajeado e Estrela, devido ao movimento intenso e a travessia de pedestres. E também na parte onde está sendo feita a duplicação. É um local muito perigoso.

A PRF foi convidada a participar a ajudar na elaboração do projeto da duplicação? Vocês tiveram acesso? A polícia concorda com a segurança viária, ou tem alguma restrição?

Madril: Acesso ao projeto nós tivemos. Mas a parte viária, não tem como interferir porque não somos técnicos. Nossa responsabilidade é a segurança. Entendo que o projeto, dentro das possibilidades, é seguro. Mas isso depende de nós, que vamos transitar pela estrada. Alguns erros foram corrigidos. Quando foi duplicado de Tabaí até Canoas, simplesmente se aumentou a rodovia. Se colocou quatro faixas, sem uma divisão entre as vias, o que aumenta o risco de colisões frontais. Aqui tem um canteiro no meio, as pistas são mais largas, tem acostamento. Vai ficar, teoricamente, mais segura.

E para o pedestre?

Madril: Esse é um caso a parte. O pedestre precisa se conscientizar e procurar o local mais seguro para fazer a travessia.

Na rodovia, tem locais seguro ou falta?

Madril: Acho que em alguns pontos faltam. Deveriam ter mais lugares para travessia. Seriam necessárias passarelas. Mas aí entra outra discussão. Tem a passagem, mas o pedestre tem de usar. Não é o caso aqui.

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