Justiça inicia o julgamento da cacique

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Justiça inicia o julgamento da cacique

Treze testemunhas de acusação falam sobre a venda de drogas na tribo caingangue

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

aaaA Justiça começou a ouvir as testemunhas sobre a suspeita de tráfico de drogas na aldeia caingangue. A primeira audiência ocorreu ontem, no Fórum de Estrela. Do lado de fora, famílias indígenas acompanhavam o movimento e pediam pela liberdade da cacique Maria Antônia Soares da Silva.

Para evitar confusões, o policiamento foi reforçado nas imediações. Eram duas viaturas da Susepe, um camburão e outros dois veículos da Brigada Militar (BM). Soldados do Pelotão de Operações Especiais (POE), de Lajeado e Estrela, também participaram da ação.

Ao todo, estão marcados cerca de 34 depoimentos. A audiência começou às 9h30min e foi até as 18h. No primeiro dia foram ouvidas 13 testemunhas de acusação. Sem informações sobre o processo, os índios no lado de fora reclamavam: “A gente está aqui desde às 7h e ninguém veio nos chamar para falar”, conta Jair Soares. Afirma que a prisão da cacique é perseguição, pois, segundo ele, não há provas contra ela.

Conforme o advogado dos acusados, Marco Alfredo Mejia, como algumas testemunhas não compareceram, foi decidido não alterar a ordem de depoimentos. Cerca de 20 pessoas estão convocadas para fazer a defesa na outra audiência que ainda não tem data marcada.

Na saída dos acusados, as famílias indígenas se posicionaram próximo da viatura da Susepe. Gritaram e bateram palmas ao verem a líder da tribo. Maria foi reencaminhada para Montenegro. Os outros dois investigados, Gelson de Oliveira, marido, e Adelar Soares, irmão da cacique, voltaram para o presídio de Lajeado.

Testemunha diz sofrer ameaças

Em um dos depoimentos, um morador de Bom Retiro do Sul afirmou receber ameaças de morte. Ele foi convocado pela Justiça na semana passada. Em uma das ligações, diz que as pessoas sabiam que ele seria uma das testemunhas.

No depoimento, ele confirmou as acusações contra a cacique, Oliveira e Soares. “Tentaram me intimidar quando cheguei. Gritavam para eu cuidar o que ia falar.”

Ex-usuário de crack, a testemunha conta que a motivação para falar sobre o caso surgiu devido ao sofrimento que passou. Relata que vendeu pertences para manter o vício e teve que sair de um trabalho para pagar as dívidas com drogas. “O dinheiro da rescisão serviu para acertar a conta com os traficantes.”

Segundo ele, houve casos em que os acusados iam nas casas dos devedores para pressionar pelo pagamento. Com relação à receptação de produtos roubados, afirma que os índios incentivavam os usuários a levarem celulares para trocar por pedras de crack na aldeia.

Advogado desqualifica acusação

De acordo com Mejia, há uma pandemia de índios viciados em drogas na tribo. Conta que as testemunhas fumavam crack com os réus. Sobre as ameaças de morte, defende que não é verdade. O advogado afirma que isso é pressão para conseguir a condenação.

Para ele, como a maioria das testemunhas é usuário. “Algumas coisas são fantasia, que não colaboram para chegar na verdade.”

Violência contra os devedores

O delegado da Polícia Civil (PC) responsável pelo caso, Rodrigo Machado Reis, foi o primeiro a testemunhar. Segundo ele, há provas suficientes que confirmam que a aldeia servia como base para venda de drogas. “Pegamos drogas em momentos diferentes. Produtos que pertenciam à usuários. Ouvimos mães que relatavam medo que algo acontecesse com os filhos.”

De acordo com ele, os investigados tinham uma postura violenta. Agrediam usuários devedores para forçá-los a pagar as dívidas. Acredita que é possível que estejam ameaçando testemunhas para tentar coagi-los.

Entenda o caso

Em agosto, a Operação Apache reuniu mais de 160 policiais e 34 viaturas para uma atuação inédita na região. O efetivo, contou com participação da PC e da BM e resultou na prisão de cinco pessoas na tribo caingangue, que fica às margens da BR-386, entre Estrela e Bom Retiro do Sul. Dos presos, quatro foram por tráfico de drogas e uma por porte ilegal de arma de fogo.

As investigações levaram um ano. O delegado Reis apurou que havia venda de maconha e crack era liderada pela cacique Maria Antônia Soares e pelo genro, Joel dos Santos, morto em junho.

Segundo a polícia, após o assassinato dele, uma menor de idade, filha da cacique, assumiu o posto. Os investigados são acusados pelo Ministério Público por associação e tráfico de drogas. A prisão preventiva gerou manifestos dos indígenas, inclusive com o bloqueio da BR-386. Conforme a investigação, a venda de drogas funcionava 24 horas.

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