A solução é regional

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

A solução é regional

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A comitiva de prefeitos, vereadores, líderes comunitários, representantes de entidades e empresários voltou de Blumenau com uma certeza: o Vale do Taquari precisa de um plano de ação regional para evitar novas tragédias. Não é momento de olhar para o passado e apontar eventuais culpados. E não podemos insistir em soluções individuais e, por vezes, fantasiosas. Foi isso que os agentes da cidade catarinense resolveram fazer após a tragédia de 2008. Eles decidiram agir. E agiram. Sistemas robustos de monitoramento, capacitação e treinamento contínuo de servidores concursados e terceirizados, investimento e aproveitamento de novas tecnologias, obras estruturantes de impactos reais e muito – mas muito mesmo – trabalho de conscientização junto às comunidades impactadas deram o tom da mudança cultural. Tudo isso balizado pelos mais variados e complexos projetos técnicos custeados pelos entes públicos das esferas estadual e federal, e realizados em parceria com órgãos nacionais e internacionais. Em resumo, há muito trabalho a fazer. Mas podemos chegar lá!

Conscientização na base

O programa Defesa Civil na Escola de Blumenau é uma espécie de “Proerd” totalmente voltada aos problemas gerados pelos fenômenos climáticos. Em síntese, é trabalhar a conscientização das comunidades por meio das crianças e adolescentes. Mais de 50 mil alunos já foram diretamente impactados pelo inovador modelo, que já gerou um segundo movimento: o Agente Mirim da Defesa Civil. Muito além dos simulados realizados em escolas municiais, estaduais e particulares, as cartilhas, palestras, aulas temáticas e ações presenciais mudaram a cultura local com movimentos simples e assertivos. E facilmente copiáveis, diga-se de passagem.

RS x SC

O Estado de Santa Catarina possui 20 coordenadorias regionais para 295 cidades. Todas muito bem capacitadas e com número expressivo de servidores de diferentes áreas técnicas (hidrólogos, geólogos, meteorologistas, engenheiros, advogados, bombeiros, voluntários médicos, entre outros). Já o Rio Grande do Sul só possui nove coordenadorias regionais para 497 municípios. E para ficar na nossa aldeia, a Coordenadoria Regional de Defesa Civil do Vale do Taquari possui apenas dois profissionais para atender um dos rios mais complexos do país (afora os demais desafios da DC).

“Donativos são uma encrenca”

Diretor de Gestão de Desastres do Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres de Santa Catarina, o gaúcho e coronel César Nunes é taxativo ao afirmar que a organização de doações e donativos pode ser uma grande “encrenca” para a Defesa Civil. De forma alguma ele despreza a boa vontade dos voluntários. Mas reforça a necessidade de uma maior organização em momentos de crise extrema. Para tal, o Centro possui orçamento e gestão própria para realizar licitações (registro de preço) para a compra de “materiais básicos”. Entre esses, telhas, alimentos, material de limpeza e colchões. Já as roupas e calçados ele prefere deixar a cargo de outros departamentos públicos. Em âmbito regional, alguns prefeitos já aprenderam na pele essas dificuldades.

50 anos da Defesa Civil

Tudo passa pela Defesa Civil. É desta forma que o poder público de Blumenau encara o problema das enchentes, enxurradas e deslizamentos de terra, especialmente. Concessionárias de energia e água, por exemplo, não se movem em áreas novas sem antes consultar os especialistas lotados na DC municipal ou estadual. Os possíveis erros já são verificados na essência. Na origem. Existem exceções? Até acredito que sim. Mas nem de perto se comparam ao que verificamos nos últimos 20 anos em todo o Vale do Taquari. Em solo catarinense, há menos “paciência” com os “permissivos”. Mas isso não nasceu à toa. Por lá, a DC vai completar nada menos do que 50 anos de existência.

TIRO CURTO

  • O governo de Blumenau criou abrigos específicos para animais domésticos. E sem esquecer das pessoas, é claro. Aliás, o modelo de abrigos para humanos é inspirador. São mais de 50 espaços distribuídos em diferentes regiões da cidade. Isso facilita a evacuação e garante maior conforto e confiança aos flagelados. Afinal, ninguém quer abandonar o próprio lar e, pior, ser levado de forma abrupta para um ponto muito distante da própria casa.
  • Nem tudo são flores, é claro. Prefeito blumenauense, Mário Hildebrandt (Podemos) também é o presidente da Associação dos Municípios do Vale Europeu (Amve). E ele está tentando desde 2019 a implantação de um modelo regional de monitoramento meteorológico, hidrológico e pluviométrico. Ainda não conseguiu. E não por culpa dele, é claro.
  • No Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres de Santa Catarina, as modelagens para apontar possíveis áreas atingidas pelos fenômenos naturais são realizadas de forma contínua, ininterrupta e 24 horas por dia. Isso garante muito mais credibilidade para quem utiliza as informações e precisa encarar a dura tarefa de conduzir evacuações.
  • Prefeito de Estrela e (ainda) presidente da Amvat, Elmar Schneider (MDB) viaja hoje para Brasília e, entre uma agenda e outra, vai realizar um encontro com representantes do projeto Japan Internacional Cooperation Agency (JICA), a entidade responsável pelos principais projetos estruturais e sociais já implantados (ou em fase de estudo e implementação) em Blumenau. Um movimento crucial ao Vale do Taquari.
  • Representante da Associação dos Municípios do Alto Taquari (Amat), o prefeito Jonas Calvi (PSDB) foi um dos principais responsáveis pelo sucesso da comitiva que visitou Blumenau. Não fosse a pró-atividade e liderança do gestor encantadense e, muito provavelmente não haveria um representativo grupo de 36 agentes da nossa região participando da missão catarinense.
  • Em tempo, a Universidade do Vale do Taquari (Univates) já possui um papel fundamental na construção do Plano Regional de Prevenção e Combate às tragédias naturais. E precisa ser muito mais aproveitada e provocada pelos demais agentes envolvidos na causa. Afinal, tudo parte do conhecimento técnico e da pesquisa. E essa é a principal expertise da nossa estimada Univates.
  • Para finalizar, vamos precisar de muito dinheiro para evoluir na proteção contra as enchentes. E só vamos conseguir de forma regional, planejada e estruturada.

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