A região emprega mais de 46,2 mil profissionais na indústria. O número corresponde a 42,9% do total de trabalhadores com carteira assinada. Entre os segmentos com maior demanda está a área da transformação de alimentos e bebidas. Com a automação de processos para maior produtividade, aumentam as lacunas da mão de obra qualificada.
Diante das perspectivas de expansão para 2023, as indústrias projetam a necessidade de mais profissionais com formação em nível técnico. Dados do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) indicam que 95% das empresas precisam contratar. Para atrair jovens e reduzir o déficit de trabalhadores, a região deve ampliar a opção de cursos.
De acordo com o coordenador técnico de Educação Profissional do Senai Lajeado, Marcelo Francisco Schedler, há uma expectativa de receber pelo menos 90 alunos em cursos técnicos durante o ano. Eles se unem a outros 150 que iniciaram os estudos entre 2021 e 2022.
“O Senai de Lajeado recebeu a habilitação de cursos técnicos há dois anos. Nossa meta é ter um ciclo de pelo menos 400 jovens em formação”, observa Schedler. Segundo ele, por muito tempo houve o desequilíbrio nos níveis de ensino e a área técnica ficou em segundo plano. Na sua avaliação, a transformação das indústrias desperta a necessidade desses profissionais.
Hoje, a unidade regional do Senai conta com quatro modalidades de cursos técnicos e até o fim do ano deve receber nova habilitação. “Temos uma demanda significativa tanto na área mecânica quanto elétrica, em especial voltada à indústria de alimentos”, pontua Schedler.
Com duração média de um ano e meio a dois anos, os cursos técnicos são considerados uma ferramenta importante para a rápida inserção ao mercado de trabalho. Além da demanda por profissionais com essa formação, a remuneração destes profissionais também é atrativa. Os formados em automação, eletrotécnica, eletroeletrônica e eletromecânica recebem de R$ 3 mil a R$ 5 mil.
5 mil técnicos em um ano
Levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) revela que o RS precisa formar 5 mil técnicos durante o ano. As áreas mais procuradas estão vinculadas ao perfil profissional dos cursos técnicos de Mecatrônica e Automação Industrial, que apresentam maior flexibilidade nas operações das indústrias e potencializam o crescimento da carreira profissional.
O diretor regional do Senai/RS, Carlos Trein, destaca que muitas indústrias gaúchas precisam de profissionais e há um grande número de pessoas desempregadas no estado (cerca de 370 mil). O problema é a falta de qualificação.
“Os cursos técnicos estão alinhados com o constante investimento nas tecnologias da Indústria 4.0 (manufatura digital) e com movimento de modernização que representa a integração de diferentes tecnologias como inteligência artificial, robótica, sistema ciber-físico, entre outros”, afirma Trein.
“Déficit de profissionais força automação de processos”
A lacuna de mão de obra compromete a produtividade em diferentes setores da economia. De acordo com o diretor da área industrial da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT), Anderson Capitanio, a escassez de profissionais também desafia níveis básicos do processo produtivo.
Em sua percepção, não há solução de curto e médio prazo. “O déficit de profissionais força a automação de processos. Eu mesmo investi em uma empacotadora que faz o serviço de dois funcionários, pois havia dificuldade de contratar”, reitera Capitanio.
Ainda segundo o diretor de indústria da CIC-VT, o setor passa por constante transformação. “Surgem muitas demandas tecnológicas e o modelo de ensino não acompanhou essa evolução. Os próprios hábitos dos jovens mudaram e precisamos encontrar a forma certa de atraí-los para o mercado de trabalho.”
Pesquisa e inovação
Outra estrutura disponível para a formação técnica é o Parque Científico e Tecnológico da Univates (Tecnovates). Por meio de parcerias com empresas, são desenvolvidas soluções para atender o setor produtivo. O local conta com linhas de produção para aproximar ao máximo os estudantes da experiência do cotidiano de uma fábrica.
Um desses espaços é o Centro de Pesquisa em Energias e Tecnologias Sustentáveis. De acordo com a analista de laboratório Munique Marder, desde 2011 é oferecida a infraestrutura para a indústria. “Atendemos as demandas da academia, empresas e demais organizações que necessitem de qualificação ou na forma de prestação de serviço.”