TRADIÇÃO da cabeça aos pés

SEMANA FARROUPILHA

TRADIÇÃO da cabeça aos pés

A indumentária gaúcha é seguida à risca dentro do Centro de Tradições Gaúchas (CTG). Do chapéu e laços a sapatilhas e botas, a pilcha carrega a história e preserva a cultura do Rio Grande do Sul

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TRADIÇÃO da cabeça aos pés
Patrícia Cristina Rambo e Rafael Amadeo Rezner são dançarinos no CTG Bento Gonçalves.
Vale do Taquari

Laço, sapatilha e vestido. Lenço, chapéu e bombachas. Não é difícil reconhecer uma prenda ou um peão. Com suas vestimentas, essas figuras se tornaram marcas registradas do gaúcho em todo o país. E, ainda hoje, são reconhecidas como parte das tradições do Rio Grande do Sul.

Na história, a indumentária gaúcha é uma mistura das vestes indígenas com os trajes utilizados pelos colonizadores europeus, em especial, portugueses e espanhóis. E foi com a mescla dessas culturas que a figura do homem e da mulher que vivia nos pampas surgiu.

Mas, com o tempo, e com a criação do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), em 1980 foram criadas regras e padrões no modo de se vestir. Os trajes, quando completos, passaram a ser considerados sociais.

Clarice Borges é patroa do CTG Tropilha Farrapa

Patroa do CTG Tropilha Farrapa, Clarice Borges descreve que as mangas do vestido da prenda, por exemplo, não podem estar acima do cotovelo. A camisa do peão, não importa a estação do ano, deve ser de manga longa. “Se estivermos pilchados adequadamente, podemos entrar em qualquer local. Mas também existe um traje alternativo, para passeio, que inclui a bombacha feminina”, conta.

Traje para meninas

Para meninas menores de 15 anos, conforme as regras do MTG, não é permitido o uso de flores no cabelo. Os penteados não são completamente presos e utilizam um laço de fita. Além disso, as unhas só podem ser pintadas com cores claras.

“Procuramos preservar as nossas tradições. Quando as meninas crescerem, elas vão ter muito tempo para serem adultas, para pintar as unhas, usar brinco grande, usar colar, todas essas coisas”, comenta Clarice.  Conforme a patrona, as prendas mais velhas também não usam anéis grandes, e os penteados levam flores, seja no coque ou com outras amarrações.

Para prendas

Para compor a indumentária feminina, a prenda usa sapatilha nos pés. A bota também pode ser utilizada, mas é destinada apenas para as prendas adultas. Como parte da indumentária, também está a meia-calça, que pode ser branca ou clássica transparente.

Por baixo do vestido, a prenda ainda utiliza a anágua, que serve para dar volume e melhor caimento ao tecido do vestido, assim como a bombachinha, que ajuda a cobrir as transparências. “O vestido tem várias cores e modelos, mas eles são sempre bem fechados”, conta Clarice.

Para peões

Além das botas, faz parte da indumentária do peão o cinto ou guaiaca, a bombacha, a camisa e o lenço, que pode ser verde, vermelho, amarelo, azul, branco ou preto. Além disso, existe o lenço xadrez, carijó e scavino. O gaúcho também usa um chapéu. “Pra nós, ele só pode usar o chapéu quando está numa apresentação, dentro do galpão, dançando e cantando, ou para lançar. Em um ambiente coberto não se usa chapéu”, reitera Clarice. O gaúcho também utiliza a faca como acessório. E, se for a um evento oficial, pode vestir o blazer ou casaco.

Na história

Os trajes passaram por mudanças ao longo dos anos. De acordo com os tradicionalistas Andreas Finke e Ana Cristina Finke, do CTG Tropilha Farrapa, a indumentária histórica é dividida em primitiva e farroupilha, desde a ocupação portuguesa (a partir de 1737), até o surgimento da bombacha, em 1875.

“Os trajes atuais têm seu início com a fundação do primeiro centro de tradições gaúchas, o 35 CTG, fundado em Porto Alegre em 1948”, destaca Ana.
Ela diz que, no início, os homens utilizavam muitos adereços, como boleadeiras, uma espécie de instrumento para caçar, assim como esporas, cinturão e facas.

Mas, apesar de muito utilizada pelos gaúchos antigos, hoje esses típicos trajes são vistos em locais específicos, em especial, na fronteira e em regiões onde a lida no campo ainda é muito presente. “Principalmente a bombacha é utilizada para andar a cavalo, e andar pelos matos”, comenta Ana.
Além disso, o traje gaúcho é visto em concursos tradicionalistas, apresentações, grupos de dança, bailes e rodeios.

Gaúcho ganha espaço na moda

A pesquisa “Indumentária Gaúcha e a sua influência na moda”, de Fabiana Maffezzolli, também faz um histórico dessa tradição. De acordo com o trabalho, a indumentária gauchesca começou a traçar o perfil dos trabalhadores rurais nas estâncias. Neste período, as mulheres eram conhecidas como “chinas”.

“Contudo, o movimento gauchesco ganha uma nova roupagem com o passar do século XX, a indumentária gaúcha – tanto no Uruguai, Argentina ou Rio Grande do Sul, passa a ser motivo de orgulho para suas populações”, destaca Fabiana.

Com isso, a roupa do modo gaúcho passa a ser industrializada e passam a surgir lojas especializadas para atender as demandas. A pesquisadora também destaca que a cultura gauchesca foi o que inspirou o estilista brasileiro Carlos Miele a criar sua coleção apresentada em Nova York. Peças com referências dos trajes típicos gaúchos foram vistas na passarela, como ponchos, chapéus e faixas com estamparia geométrica.

 

 

 

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