Cuidado também para elas

Dia das Mães

Cuidado também para elas

Apesar do tabu, a depressão pós-parto é uma realidade na vida de muitas mulheres. Conversar sobre o assunto sem preconceito é importante, assim como o apoio da família e amigos

Por

Cuidado também para elas

“É difícil explicar. Eu olhava para ela, sentia amor, carinho de mãe. Mas estava cansada e não conseguia achar um caminho que me ligasse ao sentimento puro de maternidade”. Os primeiros dias depois de dar à luz não foram fáceis para Daiane Ritter, 29. Em meio a pandemia e longe da família, se sentia triste e insegura, mesmo que quisesse dar todo o amor à pequena Ariella. Diagnosticada com depressão pós-parto, ela procurou na fé e na força de vontade, uma forma de se curar.

Ariella nasceu em junho de 2020, com uma gestação tranquila. Daiane começou a sentir contrações um dia antes e foi para o Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Seu desejo era passar pelo parto normal. Mas sem a dilatação necessária, os médicos optaram pela cesária. Essa foi sua primeira decepção.

Com as restrições da pandemia, Daiane não podia receber visitas, e contou com o apoio do marido. Mas, já nos primeiros dias, começou a se sentir estranha. “A maternidade traz com ela muitas dores. É uma bênção, mas existem muitos momentos difíceis”, conta.

O casal morava em São Leopoldo na época, e a família de Daiane, em Bom Retiro do Sul. A distância era preenchida com visitas. Mas, assim que ela ficava sozinha, ia para o quarto chorar. No período, pensou muitas vezes que não era uma pessoa boa, e sentia não estar vivendo a maternidade que imaginou.

“A TV e as redes sociais passam uma imagem de que a maternidade é um jardim de rosas. Tem esse lado também, mas nunca é mostrado o outro lado, quando teu corpo é alterado, tu sente as dores do parto, a gente acaba passando por isso”, ressalta.

Em busca de ajuda

Quando percebeu que a tristeza não passava, Daiane começou a assistir pregações nas redes sociais. Cristã, procurou em Deus a força para passar pela doença. Mas aquilo não era suficiente e, em uma madrugada, ela acordou assustada, com falta de ar. Depois do episódio, o marido decidiu procurar ajuda médica.

“A partir do dia em que fui consultar, saí diferente. Comecei a aplicar as coisas que me falavam, enxergar as coisas de forma diferente”, conta. Foi neste período que publicou um vídeo nas redes sociais para falar sobre o assunto, e deixou a doença para trás.

De olho nos sintomas

Cansaço, alteração de sono e apetite, choro e falta de concentração são comportamentos comuns de mulheres logo após o nascimento dos filhos. De modo geral, esses sintomas são superados em duas semanas. Mas, quando perduram, é hora de ligar o sinal de alerta.

“A mãe se sente sem forças para viver a nova rotina”, comenta a psicóloga Maria Júlia Lohmann Wagner. Ela explica que a depressão pós-parto tem os mesmos sintomas que qualquer depressão, o que inclui o desinteresse, em especial, pelo bebê.

Mas cada mulher reage de um jeito. Além disso, a depressão não se limita à primeira gestação e pode ocorrer em qualquer período, logo após o parto ou meses depois. No entanto, mães que já tiveram o diagnóstico têm maior chance de apresentá-lo outra vez.

Algumas mulheres desenvolvem episódios de delírios ou alucinações, que levam a perturbações mentais mais severas em relação à própria vida e a do bebê.

Conforme Maria, não é possível destacar uma causa específica para o desenvolvimento da depressão. O desequilíbrio hormonal do fim da gestação, transtornos mentais prévios, fatores fisiológicos, ambientais e emocionais são alguns dos possíveis motivos.

A consultora em amamentação, Joana Moraes, explica que a alteração hormonal pode deixar o corpo desestruturado. “Muda toda a rotina, a mulher se sente muito mais cansada, não dorme direito. Então, faz parte do processo”, explica.

A recomendação da profissional é direcionada para os companheiros e familiares. “É preciso acolher, dar carinho, ter paciência, e não se assustar, porque vai passar”, salienta. Nessa situação, o apoio é importante tanto para a mãe quanto para o bebê.

“É preciso que se fale sobre os transtornos mentais sem preconceito, pois a falta de apoio e entendimento leva as mães a sentirem culpa e medo de relatar pelo que estão passando”, alerta Maria.

Caso os sintomas permaneçam, podem acarretar em um transtorno depressivo maior e prejudicar o vínculo da mãe e do bebê, assim como o desenvolvimento da criança.

Quando a depressão passa, a relação se estabelece de forma saudável. Embora seja muito comum que as mães se culpem, é comum que os prejuízos da relação sejam temporários e reparados.


Depressão ou baby blues?

Apesar de parecidas, o baby blues e a depressão pós-parto, são condições diferentes. O Baby blues pode ocorrer logo após o parto e se caracteriza por um estado de tristeza, irritabilidade, choros frequentes, instabilidade, falta de energia e desânimo intenso. Os sintomas são frequentes no pós-parto, mas devem durar apenas duas semanas. À medida que os hormônios vão se estabilizando, os sintomas cessam.


Saiba mais sobre a doença

• Um estudo da Universidade Federal de Pelotas, encomendado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, aponta que depressão pós-parto afeta a vida de 1 em cada 4 mães brasileiras que vivem na pobreza, ou extrema pobreza.

• Conforme pesquisa da UFRGS, cerca de 15% das mulheres apresentam sintomas sugestivos de depressão pós-parto. A análise mostrou que mães que moravam sem um companheiro, cuidavam sozinhas do bebê, tinham um histórico de transtornos psiquiátricos ou que sofreram algum tipo de violência obstétrica, tinham mais propensão a desenvolver o quadro.

• O Instituto Van Andel, da Universidade Estadual de Michigan publicou um estudo mostrando que 15 biomarcadores encontrados no sangue de mulheres grávidas podem indicar com até 83% de precisão possíveis ocorrências de sintomas da depressão. Neste caso, um exame de sangue poderá identificar a doença.


Acompanhe nossas redes sociais: WhatsApp Instagram / Facebook.

Acompanhe
nossas
redes sociais