140 anos de fé, resiliência e empenho comunitário

PARÓQUIA SANTO INÁCIO

140 anos de fé, resiliência e empenho comunitário

Das mais antigas do Vale do Taquari, comunidade celebra aniversário neste fim de semana. O templo faz parte da história e consolidação de Lajeado como cidade, e se tornou patrimônio da comunidade. Para marcar a data, Igreja Matriz promove programação especial neste sábado e domingo

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140 anos de fé, resiliência e empenho comunitário
Igreja Matriz é uma das poucas a apresenta a figura de Deus em suas pinturas / Crédito: Divulgação
Lajeado
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Antes mesmo da fundação de Lajeado, uma comunidade religiosa de origem jesuíta se constituía na então colônia de Conventos, em terreno doado por Antônio Fialho de Vargas. A igreja mais próxima, porém, ficava em Santo Amaro (hoje General Câmara). Era preciso percorrer um longo caminho e atravessar o rio Taquari para batizados, missas e casamentos.

Foi a partir da necessidade de um novo templo que surgiu a Paróquia Santo Inácio de Loyola, em 31 de julho de 1881. De acordo com o livro “Grão de Mostarda”, do pesquisador José Alfredo Schierholt, a primeira menção de “Capela Santo Inácio” foi em 11 de maio de 1879, mas a construção foi demorada por falta de recursos.

Enquanto isso, um salão no sobrado de Fialho de Vargas foi transformado em oratório e lá eram feitos os atos litúrgicos por quase 24 anos. Schierholt conta que a primeira imagem do padroeiro foi trazida de Roma e entregue à comunidade “em uma dia de grande multidão”.

Incêndio e reconstrução

Quando a comunidade cresceu, a capela foi ampliada, em formato de cruz. Duas torres também faziam parte da estrutura que na época já tinha espaço para receber mil fiéis. Mas, depois de um tempo, pararam as reformas.

O zinco enferrujou, o forro apresentava perigo e grande parte da madeira estava infestada por cupins. Já havia a ideia de construir uma igreja nova. Mas, em uma madrugada quente de terça-feira, 13 de janeiro de 1953, um incêndio destruiu a construção.

Delésia Dresch Ramos, 78, era criança na época e foi testemunha ocular do episódio. A caminho do açougue do pai, que funcionava perto do hospital, soube do acontecimento. “Corri até lá, parei na praça e vi tudo incendiando”, lembra.

A origem do fogo é desconhecida, mas havia a suspeita de um incêndio proposital. “Todo dia os policiais iam lá para peneirar as cinzas e tentar encontrar o ouro que teria derretido”, lembra Delésia.

Depois disso, começou uma campanha para a reconstrução da igreja, com uma parceria entre a comunidade católica e evangélica, que cedeu o sino para tocar nos momentos importantes. Enquanto isso, as missas eram celebradas na capela do Colégio Madre Bárbara.

Delésia conta que quando ergueram as paredes laterais e colocaram o telhado da nova estrutura, a comunidade organizava festas, primeiro na rua, depois no interior da estrutura, que era ainda de chão batido, para arrecadar recursos para a construção.

Ela trabalhou na paróquia por 32 anos e, nesse tempo, vivenciou momentos importantes como o ano do centenário.

Do incêndio de 1953, sobraram os sinos que ainda hoje estão na torre da igreja / Crédito: Bibiana Faleiro

Patrimônio comunitário

De acordo com a historiadora Lauren Waiss da Rosa, Lajeado dos anos 1800 era composta por diferentes etnias, por meio da colonização, dos nativos e do processo de escravidão. Naquele tempo, era a fé que reunia as comunidades e as igrejas, ao lado das escolas, eram edificações importantes para o início de uma cidade.

“Esses colonos estão em um ambiente diferente, projetando uma vida melhor em outra terra, com um idioma diferente, e a fé vai abraçar essas pessoas, trazer esperança e ensinar”, destaca a historiadora.

Segundo Lauren, foi a partir da consolidação da Igreja Matriz Santo Inácio de Loyola que Lajeado se organizou e se emancipou de Estrela. “A memória de Lajeado perpassa a Igreja Matriz, a praça no entorno.

Ainda hoje a comunidade se sente pertencente ao patrimônio mesmo sem estar vinculada à sua crença, porque faz parte da história da cidade, dos nossos antepassados”, explica.

Ela também ressalta o envolvimento comunitário desde a construção da primeira capela. “As ações de restauração só ocorrem quando a comunidade percebe que aquilo deve ser preservado como um marco histórico”, ressalta.

Ela é uma das autoras do livro Igreja Matriz Santo Inácio de Loyola de Lajeado, RS: patrimônio, restauração e participação comunitária, que conta o processo de grande restauração feita na igreja entre 2010 e 2011.

22 anos como padre

O Padre Antônio Puhl, 71, era pároco da paróquia Santo Inácio de Loyola na época. Natural de Mato Leitão, veio a Lajeado em 1998. Naquele tempo, estava engajado na formação de lideranças e na motivação comunitária.

Dos 45 anos de atuação como padre, passou 22 em Lajeado, onde fez amizades e diz ter sido acolhido como família. Padre Antônio lembra do envolvimento comunitário nos mutirões para a reconstrução da igreja e do reconhecimento da comunidade.

O resultado disso foi o título de cidadão lajeadense concedido a ele antes de sair da cidade. No ano passado, ele passou a integrar a comunidade de Santa Cruz do Sul e hoje é pároco na Paróquia Ressurreição e na comunidade de Santo Inácio, no bairro Universitário. “Quantas crianças eu batizei. São lembranças que me fazem continuar sendo lajeadense. Eu saí de Lajeado mas continuo acompanhando”, ressalta o padre.

Foco na caridade

Natural de Arroio do Meio, o Padre Valdir José Biasibetti atuou por quatro anos na paróquia na década de 80. Ele fazia um trabalho de ensino religioso nas escolas e tinha forte envolvimento com a educação de adolescentes.

Depois disso, passou por outras comunidades até ser designado pelo Bispo Dom Aloísio Alberto Dilli para ser pároco da Paróquia Santo Inácio de Loyola, onde atua desde fevereiro do ano passado, ao lado do vigário paroquial Silvino Tarcisio Hammes.

De acordo com ele, hoje a igreja se preocupa em fortalecer a pastoral da caridade, que atende 50 famílias com doação de alimentos e roupas todos os meses. “Temos percebido a sensibilidade do povo em favor dos necessitados”, destaca o pároco.

Ele também ressalta a volta das catequeses. Este ano, serão novamente celebradas a 1ª Eucaristia e a Crisma na igreja. “Queremos incentivar que as pessoas voltem a frequentar a igreja, com todos os cuidados, porque acreditamos ser importante a fé ser celebrada aqui dentro também”, diz o pároco.

Crédito: Bibiana Faleiro

Daqui para frente

Após a reconstrução da igreja, a estrutura já passou por reformas e restaurações. Entre as mudanças, também está a transmissão virtual das celebrações que iniciou durante a pandemia, e um processo de cadastramento digital dos batizados, Crismas, 1ª Eucaristias e casamentos.

“Depois o próprio sistema retira as informações e vamos saber quem são os casados do ano 1960, por exemplo”, destaca o presidente da entidade, Fernando Röhsig, A diretoria também tem planos para arrumar o telhado e uma das paredes da igreja, além de projetos futuros que ainda não saíram do papel.

Para os 140 anos

Sem a tradicional festa do dia do padroeiro, também no dia 31, que reunia a comunidade no salão paroquial, mais uma vez a celebração do aniversário da paróquia será no formato drive thru. De acordo com o presidente da paróquia, Fernando Röhsig, já foram vendidos 1,5 mil cartões para a retirada de meio frango no domingo a partir das 10h30, após a celebração religiosa que inicia às 9h30.

Para a data, além da comunidade, foram convidadas autoridades municipais, representantes da Diocese de Santa Cruz do Sul, e representantes da comunidade luterana de Lajeado.

 

Igreja Matriz é uma das poucas a apresenta a figura de Deus em suas pinturas / Crédito: Divulgação

Programação

  • Sábado, 31 de julho: às 18h, missa do 3º dia do tríduo na Matriz Santo Inácio com bênção da Bíblia e da água de Santo Inácio.
  • Domingo, 1º de agosto: às 9h30, solene missa de Ação de Graças do Dia do padroeiro e pelos 140 anos de fundação da Paróquia Santo Inácio.
  • Domingo, 1º de agosto: a partir das 10h30, entrega do meio galeto com polenta no sistema drive thru, em frente à Matriz Santo Inácio. A refeição custa R$ 30.

ENTREVISTA
“Somos cristãos em comunidade”

Dom Aloísio Alberto Dilli • Bispo de Santa Cruz do sul
• O religioso conta que as cidades se organizavam ao redor das igrejas e hoje os templos físicos resgatam a história dos antepassados.

• A Hora: Qual é a importância das paróquias para a organização das cidades?
Dom Aloísio: Os primeiros cristãos se preocupavam muito para que a fé continuasse na vida de família, de comunidade. Os imigrantes se reuniam, o grupo escolhia o seu professor e ele ensinava as crianças, dava a catequese. As cidades eram organizadas ao redor da igreja e eles faziam isso dentro do contexto de sua época. Hoje é diferente e Lajeado atende uma comunidade urbana.

• AH: O que os 140 anos da paróquia significam para a fé comunitária?
Dom Aloísio: Não é possível ser cristão sozinho. Somos cristãos em comunidade. O próprio templo é um testemunho da fé viva e dos antepassados que usaram o espaço para compartilhar a sua fé. Essa é a obra que eles nos deixaram e hoje nos adaptamos às nossas famílias e comunidades.

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