“Lena só queria ter uma vida tranquila”

Feminicído

“Lena só queria ter uma vida tranquila”

Casal foi encontrado morto dentro de residência em Bom Retiro do Sul. De acordo com a polícia, homem matou ex-esposa e cometeu suicídio

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“Lena só queria ter uma vida tranquila”
Maria Helena morava sozinha na casa da família desde a separação, cerca de cinco meses atrás. Foto: Matheus Chaparini
Vale do Taquari

Maria Helena da Silva Pereira, 54, morava na mesma casa há pelo menos dezoito anos. Após um período difícil, finalmente vivia um bom momento.

Nos últimos anos, superou um câncer, que a afastou do trabalho em uma fábrica de calçados, e perdeu a mãe idosa, que tinha alzheimer, de quem cuidou praticamente sozinha. Cerca de cinco meses atrás, separou-se de Janito Roberto da Costa.

Há três meses estava aposentada. Ainda assim, vendia cosméticos por catálogo nas redondezas e trabalhava com costura em casa. “Ela era batalhadora, se virava”, diz uma vizinha.

Após a separação, o ex-marido mudou-se para a chácara da família, na localidade de Faxinal da Silva Jorge, no interior do município. Maria Helena ficou morando na casa de dois pisos localizada na rua Marino Gorgen, bairro Imigrante.

A via de chão batido tem pouco movimento e apenas meia dúzia de casas com grades baixas ou sem cerca.

Às amigas do bairro, Lena, como era conhecida, se queixava que o marido não era um homem carinhoso. Nas últimas semanas, havia relatado às vizinhas que conhecera uma pessoa e estava iniciando um novo relacionamento. De acordo com os relatos de moradores, Janito nunca havia aceitado bem o término da relação.

“Ela estava bem feliz. A Lena só queria ter uma vida tranquila, coitada. Mas não conseguiu”, conta uma vizinha.

Maria Helena da Silva Pereira tinha 54 anos. Foto: Divulgação

Dois corpos encontrados na casa

Na noite dessa terça-feira, a Brigada Militar foi chamada ao local. No quarto que fora do casal, os brigadianos localizaram dois corpos baleados caídos no chão. Na mão do homem, um revólver calibre 38 com quatro cápsulas deflagradas e uma apenas batida, sinal de que a arma pode ter falhado em uma das tentativas.

A Polícia Civil acredita que Janito tenha matado Maria Helena com dois tiros na cabeça e atirado contra si em seguida.

“O caso está sendo tratado como feminicídio seguido de suicídio. O revólver foi apreendido no local, na mão de uma das pessoas, que se acredita que tenha cometido o crime”, afirma o delegado Juliano Stobbe.

O corpo do homem possuía dois ferimentos de bala, um no peito e outro na cabeça. O crime teria ocorrido por volta do meio dia.

Quatro tiros que ninguém ouviu

Vizinhos estranharam a presença do homem no local desde a noite de segunda-feira. Segundo os relatos, não era comum ele visitar a ex-esposa. O veículo dele, um Fiat Strada Adventure vermelho com placas de Taquari, permanecia no pátio frontal da residência na tarde de ontem.

Ninguém ouviu os disparos. A casa fica próxima à esquina com a rua Mathias Diedrich, que está sendo asfaltada. As máquinas trabalharam até ás 17h.

De acordo com a Polícia Civil, não havia nenhum registro de violência em relação ao casal ou medida protetiva. Os moradores não relatam nenhum episódio anterior de agressão.

Os corpos foram enterrados ontem no cemitério Barreiro, em Taquari. Eles deixam dois filhos, um morador da cidade e outro que vive em Santa Catarina.

“Esta situação sempre permeia o feminicídio”

“O feminicídio geralmente está ligado a uma situação em que o homem vê que seu esforço por continuar o relacionamento já não tem mais chance de dar certo“, avalia a titular da delegacia de mulher, delegada Márcia Bernini.

De acordo com a delegada, a situação de um fim de relação não aceito pelo homem é predominante nos casos de feminicídio.

“São praticamente todas as ocorrências. Esta situação sempre permeia o feminicídio, a mulher não querer mais e o cara estar insistindo”, afirma.

Márcia orienta que, nestes casos, quando houver indicativo de que pode haver violência, a mulher procure a polícia e solicite medida protetiva. “Pode salvar uma vida”, defende.

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