Arsenal surpreende inclusive a polícia

ESTRELA - Maior apreensão de armas do RS

Arsenal surpreende inclusive a polícia

Polícia Civil apreendeu 40 armas, drogas, relíquias em jóias e dois veículos de luxo. Pelos cálcuos, a operação impactou em mais de R$ 1 milhão em grupo que atua no Vale. Criminosos seriam responsáveis pelo abastecimento de pontos de tráfico em várias cidades

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Arsenal surpreende inclusive a polícia
Estrela
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“Era um entra e sai o tempo todo, a toda hora. Até de madrugada ficava vindo gente na casa dele.” Esse é o relato de um morador próximo da casa onde a Polícia Civil encontrou um arsenal de guerra. A operação ocorreu no fim da tarde dessa quinta-feira, na rua Padre José Junges, no bairro Boa União. No endereço, os policiais prenderam Marcel Dieger, 37. Ele morava na casa fazia seis meses.

Com ele, os agentes encontraram dez fuzis AK-47, de fabricação russa (originalmente usado pelo Exército Soviética depois da 2ª Guerra Munidal), quatro fuzis AR-15 calibre 5.5, seis espingardas calibre 12., 20 pistolas 9 milímetros e .40.

Além das armas de uso restrito, foram localizados cerca de 8 quilos de cocaína e 7 de maconha, três balanças de precisão, uma prensa para preparação de tabletes de drogas e, afora o Jeep Compass onde foram localizados os armamentos, um GM Astra, com placa de Estrela. Os fuzis AR-15, segundo a Polícia, são capazes de derrubar um helicóptero.

A investigação

De acordo com o delegado regional Miguel Mendes Ribeiro, o resultado da operação trata-se da maior apreensão de armas da história da Polícia Civil do Estado. Segundo ele, faz parte das investigações dos grupos criminosos que atuam em todo o território gaúcho.

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Segundo ele, a partir de uma denúncia de movimentação estranha na residência no bairro Boa União, policiais passaram a monitorar a movimentação no endereço.

A movimentação de pessoas estranhas intrigou os investigadores. Esse acompanhamento alertou os agentes.

No entanto, a investigação se surpreendeu com a quantidade de armas na casa. “Achavamos que teriam algumas armas, mas não tantas”, declara o delegado da cidade, José Romaci Reis.

Para ele, a soma de tudo que foi apreendido na casa do criminoso chega a mais de R$ 1 milhão. “O que significa uma quebra acentuada e significante no poderio bélico e financeiro da quadrilha.”

A operação teve a participação de nove agentes.

“Cabeça de lata”

Segundo a investigação da Polícia Civil, Marcel Dieger, que até então não tinha passagens criminais graves, atuava como subalterno do grupo criminoso, o que a PC chama de “cabeça de lata”.

Ele era responsável pela distribuição de drogas em pontos de tráfico nas cidades vizinhas de Estrela. Além disso, fornecia armas para uso pessoal de traficantes e funcionários do crime.

Residência no Boa União servia para abastecimento de armas e drogas

Residência no Boa União servia para abastecimento de armas e drogas

Além disso, o delegado José Romaci Reis trabalha com a hipótese das armas serem usadas também para assaltos a bancos.

“Ele não nos falou nada. Garantiu o direito de permanecer calado. Mas é comum estas quadrilhas usarem armas deste porte para praticar este tipo de crime”, conta.

Reis, que trabalha faz 6 anos como delegado de Estrela, comenta que um dos destinos finais deste tipo de criminoso acaba sendo a prisão.

“Ele ficou apavorado quando entramos em sua casa e achamos tudo. Mas isso faz parte do nosso trabalho do dia a dia”, diz. “O trabalho deles é se esquivar da polícia, o nosso é encontá-los e tomar posse de suas ilegalidades”, complementa.

Operação similar

Em outubro do ano passado, a Polícia Civil promoveu uma investigação similar ao que ocorreu na quinta-feira em Estrela.

Na ocasião, foram apreendidos 15 fuzis e 20 pistolas em opoeração feita em Santa Cruz do Sul.

O morador havia recebido em torno de R$ 10 mil para fornecer o armamento para um grupo criminoso que também atua no Vale do Taquari.

Ainda que tenha sido um volume menor de arma, na época, estimou-se que o golpe no crime naquela vez foi de cerca de R$ 3 milhões.

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Surpresa e incredulidade 

A chegada dos policiais surpreendeu alguns dos moradores. Uma vizinha de Dieger, que prefere não ser identificada por medo de represálias, afirma que nunca havia desconfiado de nenhuma movimentação criminosa na residência dele.

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“Eu estava vendo TV e minha filha disse que tinha um monte de policiais na frente da casa dele”, conta. Segundo ela, a esposa de Dieger sempre a cumprimentava na vizinhança e pareciam uma família normal. Cuidavam de duas crianças e tinham uma vida pacata.

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Entrevista

“Cada quadrilha tem seu próprio caminho”

Para o Secretário de Segurança Pública do Estado, Cezar Schirmer, os melhores resultados contra a criminalidade estão sendo feitos no combate a lavagem de dinheiro feito por facções.

Como estas facções conseguem armamentos tão potentes?

Schirmer – Cada quadrilha tem seu próprio caminho. Mas pelo que viemos acompanhando, a maioria das armas vêm do Paraguai e do Uruguai. Alguns grupos criminosos importam armas, ionclusive dos Estados Unidos. Além disso, depois do acordo de paz entre o governo da Colômbia e Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), alguns terroristas resistentes têm exportado armas para todo Brasil.

Quais os caminhos para combater estas facções criminosas?

Schirmer – Estamos ampliando os trabalhos de inteligência das forças de Segurança Pública. Por meio de trabalho integrado, fazemos operações que têm resultado em prisões e apreensões que desarticulam e enfraquecem estas organizações criminosas. Mas, sem dúvidas, os melhores resultados que estamos tendo é no combate a lavagem de dinheiro destas facões. Pois, quando apreendemos estes recursos que estão nas mãos do crime, evitamos práticas de outros delitos ainda maiores.

A tua pasta tem exemplo de alguma operação neste sentido?

Schirmer – Recentemente apreendo um grande grupo que roubava carros de luxo para distribuir peças em 15 estados da federação. Além de apreenermos estes bens, deflagramos os recursos financeiros que estavam nas mãos desta quadrilha.

Estes grupos criminosos do Vale são os mesmos que atuam na Região Metropolitana?

Schirmer – Sim. O grande consumidor de drogas e armas é a grande Porto Alegre e o grande fornecedor de drogas e armas são países como Paraguai e Bolívia. Estas armas, como as encontradas no Vale, tendem a abastecer os grandes grupos de traficantes da região – principalmente para assaltos a bancos, que lotam as participações do lucro entre as quadrilhas. Inclusive, eles acabam terceirizando este tipo de crime, contratam capangas de outros grupos para assaltos a bancos e roubo de cargas. Mas é fato, que este tipo de arma também é utilizada para que eles usem, claro uns contra os outros.

Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br

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