Documentário resgata origens da Ferrovia do Trigo

HISTÓRIA RETRATADA NAS TELAS

Documentário resgata origens da Ferrovia do Trigo

Com obras retomadas entre as décadas de 1960 e 1970, a EF-491 foi pensada como um projeto moderno e inovador para o transporte no estado. Trajetória da via férrea é, hoje, registrada em produção audiovisual, que deve ser apresentada na edição do Trem dos Vales deste ano

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Documentário resgata origens da Ferrovia do Trigo
Malha viária foi construída para ligar o Vale à capital . Crédito: Kadu Bernardi/Divulgação
Vale do Taquari

Ligar o Vale do Taquari à capital em três horas era um dos objetivos da EF-491, conhecida como Ferrovia do Trigo. Com obras retomadas na década de 1960, a inauguração só ocorreu mais de 10 anos depois. Até então, as estradas eram precárias, assim como a oferta de transportes, feitos por meio de vapores que levavam cerca de 12 horas para chegar a Porto Alegre, com saída de Estrela. Na época, a linha férrea mudou a realidade do estado e, agora, tem história resgatada no documentário que leva o nome da ferrovia.

De acordo com o roteirista e diretor Cleber Zerbielli, natural de Ilópolis, o projeto era um desejo antigo da região, colocado em prática pela Lume Eventos, por meio da Lei de Incentivo à Cultura. As gravações iniciaram em 2022 e o documentário, com 30 a 45 minutos, deve ser lançado durante a edição do Trem dos Vales deste ano.

Para a produção, foram utilizadas cenas históricas restauradas, além do relato de um antigo trabalhador da ferrovia, Luiz Geroldi, que registrou o período em um diário. De acordo com Zerbielli, há também a ideia de fazer um fotolivro com os materiais coletados.

História pelos trilhos

O documentário apresenta momentos históricos da construção da linha férrea, com base no trabalho da historiadora e professora Cristiane Secchi Luceno, que também participou das gravações. Apaixonada pela história ferroviária desde criança, ela voltou à Ferrovia do Trigo quando começou a visitar diferentes municípios do Vale do Taquari.

Durante a graduação, o interesse pela obra aumentou e a professora percebeu poucas informações publicadas sobre o assunto. Assim, entre 2006 e 2008, foi em busca de fontes documentais, pesquisas nos arquivos locais e conversou com ex-trabalhadores da construção.

Todo o resgate deu vida ao trabalho “Ferrovia do Trigo: uma história sobre trilhos (1940-1980)”, orientado pelo professor Luis Fernando Laroque. Apesar do foco nos anos de 1940 e 1980, a pesquisa também busca entender como foram as primeiras iniciativas para a construção, décadas antes do projeto.

“Percebemos que os moradores do Vale do Taquari, já nas primeiras décadas do século XX, se mobilizaram junto ao Governo Estadual, fazendo solicitação para interligar as regiões coloniais ao centro do estado, escoando a produção e possibilitando a chegada de insumos com maior eficiência”, ressalta.

Com a chegada da Primeira Grande Guerra, no entanto, o Vale sofre com o “engavetamento” do pedido, que só voltou a ser estudado a partir do final dos anos 1930. Quinze anos depois, foi feito um estudo para a viabilidade técnica da obra e escolha de traçados. O projeto está arquivado no acervo do Museu do Trem de São Leopoldo.

O traçado dos rios foi determinante para o desenho da nova ferrovia. Mesmo tendo um alto custo, a decisão foi acompanhar o Rio Guaporé. Ao longo do percurso, foram construídos mais de 30 túneis e 20 viadutos.

O transporte hoje

A Ferrovia do Trigo foi inaugurada em 1978, mesmo período em que as grandes rodovias, como ERS-130 e BR-386 eram construídas. “A nossa ferrovia foi gestada, planejada e executada em momentos históricos diferentes, que explicam o porquê dela ter ficado subutilizada poucos anos depois de sua inauguração, mesmo sendo um projeto moderno e audacioso para o século XX”, destaca Cristiane.

A ferrovia é hoje administrada pela Rumo Logística. Pelos trilhos, são transportados fertilizantes, combustíveis, trigo, milho, soja, entre outros produtos.

 

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