Ainda há tempo para engravidar

Comportamento

Ainda há tempo para engravidar

O desejo de ter um filho nem sempre é suficiente para colocar o plano familiar em prática. Seja por obrigações profissionais ou por problemas de fertilidade, a reprodução assistida tem se tornado uma aliada para os casais. Apesar da evolução tecnológica, no entanto, a procura tardia dos pacientes pelo tratamento faz com que as taxas médias de sucesso sejam de 50%

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Atualizado quinta-feira,
02 de Maio de 2022 às 17:22

Ainda há tempo para engravidar
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Há pelo menos 40 anos, casais inférteis, homoafetivos ou pessoas solteiras que tinham o sonho de serem pais, tinham apenas uma opção: a adoção. Mas no fim da década de 70, o nascimento do primeiro bebê a partir da fertilização in vitro fez com que a reprodução assistida se tornasse uma opção e, hoje, são mais de 8 milhões de bebês nascidos por meio da prática no mundo.

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Entre eles, está o pequeno Lucca, filho de Raquel Avila e Diego Rodrigues. O casal lajeadenses está entre os 6310 pacientes que passaram pelo Centro de Reprodução Humana (CRH) do município nos últimos quatro anos. Ao todo, foram 500 ciclos de fertilização in vitro ou inseminação artificial feitos na instituição, e mais de 130 bebês nascidos.

Depois de dois anos tentando engravidar, o casal descobriu que Raquel tinha baixa reserva ovariana e Diego, uma reserva ainda menor de espermatozóides. A partir deste momento, procuraram pelo CRH. “Eles nos contaram que de forma natural seria praticamente impossível engravidar”, lembra ela. Com os especialistas, decidiram que, entre inseminação artificial e fertilização in vitro, a segunda era a mais indicada.

“Discutimos bastante e como teríamos que gastar um valor significativo, escolhemos investir naquilo que tivemos mais chances de dar certo”, conta Raquel. O processo custou cerca de R$ 25 mil.

Todo o processo, que levou três meses, não foi fácil e envolveu grande carga hormonal e emocional. “Exige muito do casal. Mas o procedimento em si foi mais tranquilo do que eu imaginava”, conta. Já na primeira tentativa, tiveram sucesso e, então, veio a comemoração pela espera de Lucca.

Até as 30 semanas, tudo corria bem. Mas, no período, Raquel descobriu a pressão alta e precisou ter cuidados significativos com a dieta. Agora, com o pequeno Lucca, de dez meses, nos braços, a família está mais tranquila.

“Ser mãe é muito mais do que eu imaginava ser. Não há como descrever esse sentimento. Só temos a agradecer a Deus e a ciência”, descreve Raquel.

Como aumentar as chances?

Conforme o Dr. Marcos Höher, coordenador do CRH, cada vez mais os casais optam por fazer análise cromossômica e genética dos embriões antes dos procedimentos. “Dessa forma é possível fazer uma espécie de triagem, e você vai colocar embriões cromossomicamente saudáveis, o que aumenta a chance de sucesso, e diminui a chance de abortamento”, explica. Ainda assim, em nenhuma das técnicas, a probabilidade de sucesso é de 100%.

Isso também se deve pela procura dos pacientes cada vez mais tardia. Hoje, casais que procuram o atendimento têm, em média, entre 36 e 38 anos. Por isso, apesar do avanço tecnológico, a taxa de sucesso é de 45% a 50%.

Quando se faz o congelamento de óvulos cedo, por volta dos 25 anos, a taxa de sucesso é maior. “Mas a maioria das pessoas não faz esse planejamento reprodutivo”, comenta.

Isso faz com que pessoas interessadas em ter um filho só busquem acompanhamento do centro depois de apresentarem problemas ao engravidar. Por meio de exames, no entanto, é possível identificar os níveis de óvulos e espermatozoides, e já se previnir.

Em alguns países, inclusive, os procedimentos são custeados pelo governo, e o número de tratamentos tem aumentado. Conforme a revista Medicina SA, o Brasil lidera o ranking latino-americano dos países que mais fazem fertilização in vitro, inseminação artificial e transferência de embriões. Em 25 anos, 83 mil bebês brasileiros nasceram por meio de tratamentos de reprodução assistida.

Mãe e doador

Em outros casos, os procedimentos são procurados para produção independente, como fez Elisa Lotici Henni, 39. Hoje, ela e o filho Vicente, de dois anos e oito meses, são inseparáveis. Essa convivência era parte do sonho de Elisa, que sempre quis ser mãe. Com companheiro ou não, a decisão por dar vida ao filho foi tomada aos 35 anos, por meio da fertilização in vitro.

Mãe solo, e morando longe do pai e do irmão, Elisa lembra dos desafios. Mas a alegria de ter um filho nos braços não dá espaço para o arrependimento. Entre 2018 e 2019, da decisão pelo procedimento até a notícia da gravidez, pareceu um longo período de espera. “Fiquei ansiosa, na expectativa. Foram muitos exames”, conta.

Durante o procedimento, foram coletados três óvulos e, na primeira tentativa, com o sêmem de um doador, ela engravidou. Um dos embriões ainda ficou congelado. Vicente nasceu no dia 5 de novembro de 2019, de pele clara e cabelos loiros, como a mãe. Hoje, ela gostaria de ter mais um filho. Mas, por enquanto, os planos não têm previsão de saírem do papel.

Planos e prioridades

O principal motivo que leva uma mulher ou homem a optarem pelo processo de congelamento de óvulos ou sêmens é o desejo de postergar a maternidade ou paternidade. Muitas vezes, pacientes oncológicos fazem o procedimento antes da quimioterapia. Em outros casos, mulheres solteiras decidem congelar para garantir o sucesso da gravidez no futuro.

Sempre muito envolvida com estudos e desenvolvimento da carreira, a médica e fisioterapeuta Caroline Stumof, de 39 anos, optou por congelar seus óvulos em 2018, aos 35 anos.

Quando tinha 20, ela entrou para faculdade de fisioterapia. Em 2016, conseguiu realizar o sonho de cursar medicina, na Univates. Formada desde dezembro de 2018, ela termina a residência médica quando tiver 42 anos. Até lá, seu foco é a vida profissional.

“Congelar os óvulos me trouxe tranquilidade. A minha intenção não era ser mãe a qualquer custo, porque essa é uma grande responsabilidade”, destaca. Depois que terminar a residência, o plano é engravidar de um companheiro que seja um pai presente para seu filho. “Não é a minha prioridade agora. E, se eu posso me planejar, é melhor. Esse é um presente que a medicina nos deu”, conclui.

Dados do Centro de Reprodução Humana de Lajeado

  • Ciclos de fertilização in vitro ou inseminação já realizados: 500
  • Congelamento de embrião, óvulo e sêmen: 510
  • Ciclos para transferência de embrião: 470
  • Atendimentos: 6.310
  • Nascimentos: mais de 130

Diferença entre fertilização in vitro e inseminação artificial

• Fertilização in vitro
É feito o estímulo da ovulação na mulher, com ajuda de remédios e hormônios, e a partir disso são coletados os óvulos. Da mesma forma, os espermatozoides do homem também são coletados.
A fecundação é feita em laboratório. Os embriões são monitorados quanto ao desenvolvimento e depois são colocados direto no útero.

• Inseminação artificial
Para inseminação artificial, é preciso colocar o sémem no útero e não o embrião. Neste caso, é necessário que a mulher esteja no período fértil.

“Cada casal pode ter no máximo 8 embriões em desenvolvimento”

Coordenador do Centro de Reprodução Humana (CRH), do Hospital Bruno Born (HBB), Dr. Marcos Höher, explica sobre as mudanças dos procedimentos ao longo dos anos.

Quantos óvulos vocês fertilizam para um dar certo?
A gente estimula os ovários tentando obter o maior número de óvulos possível. Até junho do ano passado, todos os óvulos que vinham nós injetávamos com os espermatozoides do cônjuge ou do doador. Então, se vinham quatro ou vinte óvulos, todos eram fertilizados para ver quantos embriões se formavam. Sendo que existe um afunilamento: às vezes começa com dez óvulos, mas lá na frente resulta em dois ou três embriões. Existe uma seleção natural. No meio do ano passado, o Conselho Federal de Medicina estipulou que cada casal pode ter no máximo 8 embriões em desenvolvimento. Então agora temos uma limitação.

E há casos de terem gêmeos, trigêmeos. Isso ainda é comum?
Um dos motivos que as taxas de sucesso não estão aumentando tanto quanto a gente gostaria, é porque no passado se transferiram três, quatro embriões para o útero. O que aconteceu, é que havia uma alta taxa de gemelaridade. Isso gerava um problema obstétrico e pediátrico. Nós, na parte dos médicos de reprodução, tínhamos a nossa missão cumprida, mas a gestação com gêmeos, trigêmeos, quadrigêmeos, é mais complicada, é de risco. Então a gente começou a reduzir o número de embriões produzidos, e agora a gente costuma colocar um ou dois. Ocorrem menos gravidez de gêmeos, trigêmeos, propositalmente, para evitar maiores complicações.

E dentro dessas avaliações antes de colocar o embião, tem como saber o sexo do bebe, por exemplo?
Tecnicamente é possível. A gente tem como fazer uma avaliação cromossômica dos embriões, e assim é possível ver se é o cromossomo X ou Y, se é um menino ou uma menina. Mas com a nova legislação do Conselho Federal de Medicina, não podemos falar e liberar essas informações, justamente para coibir qualquer desejo do casal de escolher os sexos dos bebês.


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