Vizinho do perigo

Editorial

Vizinho do perigo

O homicídio de um homem no Novo Tempo, em Lajeado, nessa quarta-feira, é um sinal da presença de grupos criminosos ligados ao tráfico de drogas dentro do loteamento popular. Uma suspeita alertada pelo A Hora no início deste ano e…

O homicídio de um homem no Novo Tempo, em Lajeado, nessa quarta-feira, é um sinal da presença de grupos criminosos ligados ao tráfico de drogas dentro do loteamento popular. Uma suspeita alertada pelo A Hora no início deste ano e que se confirma a partir das ocorrências policiais da venda de entorpecentes no local.
Nos muros em frente aos apartamentos, pichações com mensagens e referências a uma facção criminosa nascida dentro dos presídios gaúchos. “É proibido roubar na quebrada”, diz uma delas. Um alerta direto dos gerentes do narcotráfico aos ladrões.
Duas ruas abaixo, mais mensagens, só que do grupo rival. Não há como dizer se as pichações são recentes ou não, mas é um indicativo de que o bairro Santo Antônio é uma área de disputa conflagrada entre criminosos.
Importante destacar, como mesmo ressaltou o delegado Márcio Moreno em entrevista concedida na edição de ontem, não se pode criminalizar os moradores do loteamento popular. A maioria não tem ligação com qualquer ilicitude. No entanto, estão no radar do poder paralelo. Procuram não se meter nos negócios dos traficantes para não sofrerem represálias.
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Esse problema ganha cada vez mais forma de drama social e ratifica um erro crasso no planejamento. Projetos habitacionais para famílias de baixa renda são necessários e nobres. Garantir condições de moradia dignifica as pessoas.
Por outro lado, o projeto de Lajeado não avaliou a necessidade de infraestrutura nas proximidades. O transporte público, acesso a postos de saúde, creches e áreas de lazer. São 448 apartamentos. Em uma estimativa rasa, cada família é composta por três pessoas. Em um total, são 1.344 moradores.
Também se abre um risco. Guardada as proporções, em São Paulo, nos governos de Paulo Maluf, foram construídos edifícios populares. Com o passar dos anos, se tornaram redutos da criminalidade devido à desassistência do poder público. Tornaram-se bolsões de miséria, em que as crianças e jovens ficaram expostas aos traficantes.
Em resumo, a concentração de famílias carentes em um mesmo espaço provoca um revés social. Sem vivenciar outros horizontes, outros ambientes da cidade, reproduzem o que enxergam no cotidiano. Ao invés de garantir inclusão, amplia a desigualdade social.

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