O melhor da solidariedade e o “ajudar” para aparecer

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

O melhor da solidariedade e o “ajudar” para aparecer

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Fazer o bem sem olhar a quem. Uma frase bíblica que serve como uma das bases da fé cristã. Ajudar quem precisa é um ato nobre. Revela grandiosidade de espírito, pois quem o faz, não espera nada em troca.

O ato de doar (seja tempo, bens materiais, dinheiro, ou de levantar as mangas e trabalhar) mostra o melhor de nós. Como repórter, pude testemunhar centenas de voluntários, vindos das mais diferentes cidades do país, demonstrando que a generosidade é uma característica muito presente na nossa sociedade.

Esses voluntários, verdadeiros heróis anônimos, deixam um rastro de esperança à medida que se dirigem às áreas afetadas para oferecer auxílio. Eles resgatam vidas, distribuem mantimentos, reconstroem casas e fornecem consolo às vítimas. Suas ações mostram que, mesmo nas circunstâncias mais sombrias, a empatia e o desejo de ajudar o próximo permanecem vivos.

Na sombra do espírito altruísta, há pessoas alheias ao impacto emocional dos momentos de crise. Também quem escolhe se esconder (até como uma forma de defesa pessoal), e quem procura algo para se beneficiar. Cada um reage de uma forma.

Na sociedade narcisista atual, há quem compareceu nas áreas de desastre para garantir likes e views nas redes sociais. A promoção pessoal em momentos de crise é, no mínimo, questionável.

Devemos nos perguntar: essas ações são genuínas ou apenas uma busca por reconhecimento? A verdadeira solidariedade não precisa dos holofotes, ela age nos bastidores, sem alarde. Aqueles que desejam fazer o bem não se importam com a visibilidade.

Foto: Divulgação

Reação em momentos de desastre

A psicologia traz muitos conceitos interessantes sobre como os nossos sentimentos e ações respondem às provações inesperadas. Inclusive na própria ficção e na literatura podemos ter alguns insights.

Os livros de autores como Aldouls Huxley, Cormac McCarthy, e até José Saramago (no Ensaio sobre a Cegueira), trazem a luta por sobrevivência em rupturas sociais. Séries de televisão (desde Jornada nas Estrelas até The Walking Dead) trabalham conceitos e teorias presentes no campo das ciências humanas.

As reações das pessoas em momentos de crise são diversas e complexas. Dependem da personalidade, dos valores e das experiências do indivíduo. Um dos nomes mais reconhecidos nesta área é o sociólogo americano Enrico Quarantelli. As pesquisas dele contribuíram bastante na compreensão do comportamento humano em situações de desastre. Ele trouxe três aspectos muito pertinentes: o envolvimento, a apatia e a busca por vantagens.

·Envolvimento

Pessoas que agem com altruísmo e empatia. Respondem à crise com um desejo natural de ajudar. Isso pode ser motivado pela capacidade de se colocar no lugar do outro e sentir sua dor. O altruísmo, a disposição de fazer o bem sem esperar nada em troca, é uma característica comum nesses indivíduos. A psicologia sugere que o altruísmo pode ser influenciado por fatores como criação, valores pessoais e identificação com as vítimas.

· Apatia

Em situações de crise, a sobrecarga de informações, imagens chocantes e notícias perturbadoras podem levar algumas pessoas a se sentirem impotentes e emocionalmente exaustas. Isso pode resultar em um desligamento emocional para proteger a própria saúde mental. Outra causa é a falta de identificação. Um exemplo muito marcante é a distância geográfica. Por exemplo, quase no mesmo momento em que o Vale enfrentava a enchente, um terremoto no Marrocos matou mais de 2 mil pessoas: A falta de identificação com as vítimas também pode contribuir para a apatia. As pessoas são mais propensas a se envolverem emocionalmente quando se sentem próximas da situação.

· Busca por vantagens

Em todas as crises sociais, há quem busca tirar vantagem da situação. Isso pode incluir apropriação indébita de recursos destinados às vítimas, furtos e roubos, espalhar informações falsas para ganho pessoal, ou mesmo promover ações de caridade apenas para melhorar a própria imagem pública. A psicologia também traz a Teoria
da Troca Social. Sugere que há pessoas que tomam decisões com base na maximização de benefícios e minimização de custos.

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