A dor não pode ser pretexto. Quem são os responsáveis?

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

A dor não pode ser pretexto. Quem são os responsáveis?

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Atualizado sábado,
09 de Setembro de 2023 às 16:37

Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Governador, presidente e prefeitos. Nesta ordem. Por aí começa a apuração sobre a responsabilidade de cada um nesta tragédia. O fenômeno natural foi intenso, nunca visto e trágico. Nisto todos concordam.

Neste momento de feridas abertas, a primeira ação é cuidar das pessoas. Aspecto pertinente nas falas do chefe do Executivo gaúcho. Ainda assim, palavras bonitas e discursos emotivos estão muito longe das explicações que a sociedade merece.

São centenas de desaparecidos, pelo menos 36 mortes confirmadas (número que cresce a cada momento), famílias inteiras despedaçadas e tantos outros que perderam tudo o que tinham. Por esse conjunto, jamais poderemos nos abster de apurar onde foram os erros nos momentos cruciais.

Dois aspectos saltam os olhos. Primeiro: quando os planos de contingência foram colocados em prática? Depois: o tempo de resposta para acelerar a retirada das famílias. Neste sentido, o governo do Estado falhou. O próprio governador disse que não havia informações de que a chuva provocaria tal estrago.

Ledo engano. Havia informações sim, e muita. Desde segunda-feira ao meio dia, para ser preciso. O acumulado de chuva chegou a 300 milímetros nas cabeceiras de domingo até segunda. Inclusive os especialistas da Metsul advertiram nas postagens de que seria uma enchente extrema. O Estado não viu? A Sala de Situação e seus boletins às Defesas Civis não deram conta dessas condições?

A redação do A Hora recebeu vídeos de pontes sendo arrancadas pela força da água em municípios, como Nova Roma do Sul. Isso dava um indicativo muito claro do que estava por vir. Nada foi obra do acaso.

Previsões falhas e comandos que subestimaram o impacto da cheia, em resumo. Também precisamos falar: as defesas civis por muito tempo foram negligenciadas pelas administrações públicas. Esse organismo do Estado precisa de um olhar mais profissional.

Colocar um responsável, como cargo comissionado pela escolha do prefeito, é no mínimo duvidoso. Com todo respeito aos servidores, não é só deles o peso dessa tragédia. Está mais em quem decide.

Quanto ao governo federal, é outro elo que precisa ser cobrado. Pergunto: será que se houvesse mais envolvimento dos três entes (União, Estado e municípios), uma comunicação mais efetiva, o envio das tropas do exército e de aporte aéreo poderia ter sido antes? Ter os botes presentes em meio a elevação das águas poderia ter poupado muitas vidas.

Dezenas de famílias atingidas pela cheia relataram demora para carregar e descarregar os caminhões até os veículos fazerem o caminho de volta. Um tempo precioso. Os veículos do Exército e a presença dos soldados teriam sido fundamentais para melhorar o tempo de resposta. Faltou prevenção e trabalho em conjunto.

O assunto é muito delicado, ainda assim, explicações dos governantes são essenciais. Acredito, inclusive, que em um futuro breve, teremos movimentos do próprio Ministério Público em relação a isso, com uma investigação aos moldes do que aconteceu no incêndio da Boate Kiss.

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