Qualidade da água melhora, mas segue nas duas piores faixas

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Qualidade da água melhora, mas segue nas duas piores faixas

Dos 26 pontos analisados na terceira etapa de monitoramento, 81% estão na faixa ruim e 19%, na péssima.

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Qualidade da água melhora, mas segue nas duas piores faixas
Foto: Luciane Ferreira
Vale do Taquari

A terceira etapa de coleta e análise de água de mananciais da região mostram resultados ligeiramente mais favoráveis do que nas duas anteriores, em 2022. Mesmo assim, não houve avanço suficiente para sair das faixas ruim e péssima, as piores em uma escala que ainda tem ótima, boa e regular.

Este ano, os testes comprovaram 81% dos pontos no nível ruim e 19%, péssimos. Na primeira amostragem, em abril de 2022, os resultados foram 48% ruim e 52% péssima. Na análise de outubro passado, 74% das amostras apontaram para a faixa ruim e 26%, péssima.

Iniciativa

O monitoramento da qualidade da água é uma iniciativa do Grupo A Hora. As coletas são feitas em dois rios e 13 arroios em onze municípios da região.

Em 2022, ocorreram duas etapas (março e outubro). Neste ano, os pontos de coleta passaram de 23 para 26, incluindo amostras em Venâncio Aires.

Arroio Lambari tem o pior índice de qualidade

Na mesma faixa de IQA estão o arroio Encantado, em Lajeado, Castelhano, em Venâncio Aires, e o Saraquá, em Santa Clara do Sul.

Foto: Luciane Ferreira

Entre os 26 pontos monitorados, o Índice de Qualidade de Água (IQA) mais baixo foi verificado no Arroio Lambari, em Encantado, 11,61. Classificado na faixa péssima (0 a 25), o manancial vem registrando índices cada mais baixos. Na análise de março de 2022, estava em 22,46, em outubro, 19,31.

Na faixa péssima também estão o arroio Encantado, 13,21, o Saraquá, 18, 6, e o Castelhano, 21,18.

Em todos os demais pontos dos arroios e rios, a faixa de qualidade é a ruim (26 a 50). A escala ainda tem as faixas regular (51 a 70), boa (71 a 90) e ótima (91 a 100).

As amostras com melhor índice são as do rio Taquari, em Venâncio Aires e em Arroio do Meio, ambas com 31,43; rio Forqueta, em Marques de Souza (30,35), e Arroio Boa Vista, em Estrela (30,08).

Faixas do IQA

  • Ótima – 91 a 100
  • Boa – 71 a 90
  • Regular – 51 a 70
  • Ruim – 26 a 50
  • Péssima – 0 a 25

Índice zero de oxigênio pode terminar com a vida aquática

O arroio Encantado, que corta o Parque Professor Theobaldo Dick, está com índice zero de oxigênio dissolvido. Na primeira análise, em março de 2022, o resultado foi 1 (um) e nas duas últimas, em outubro do ano passado e março de
2023, foi zero.

De acordo com o biólogo Cristiano Steffens, o fato de estar acima do limite da pior classe compromete a vida aquática no manancial. Ele observa que esta repetição de resultados mostra que a sazonalidade não interferiu na condição da água.

Outro ponto com baixo índice de oxigênio dissolvido é o arroio Saraquá, em Santa Clara do Sul. As três amostras apontaram 1,6, 1,2 e 0,99 – todas abaixo da pior classe.

Classe 1

O rio Taquari, nos cinco pontos analisados, está na classe 1, no parâmetro oxigênio dissolvido. Steffens explica que o volume de água e a extensão do manancial facilitam a depuração. Entretanto, observa que os arroios, como afluentes, se estiverem com níveis baixos de oxigênio dissolvido, haverá maior chance de comprometer a qualidade do Taquari.

Esgoto

O parâmetro coliformes termotolerantes, maior indicador de contaminação por fezes, tem pontos com índices exorbitantes. No arroio Lambari chega a 160 mil/100 ml, enquanto o limite da pior classe é 3200/100 ml.

Mesmo assim, houve melhora neste parâmetro, comparando a última amostra com as duas anteriores. Em março de 2022, 11 pontos estavam acima do limite da pior classe. Em outubro, este número baixou para seis, e na análise de 2023, para cinco.

Saiba o que significa cada parâmetro 

Oxigênio dissolvido na Água (OD):

Representa a concentração de oxigênio na água. É imprescindível para preservação da vida aquática. Concentrações muito baixas comprometem a sobrevivência de peixes e outras espécies. A baixa concentração de OD indica contaminação por esgoto (poluição orgânica).

Coliformes termotolerantes:

São bactérias encontradas no aparelho digestivo de animais de sangue quente e são indicadores de poluição por esgoto doméstico. A bactéria Escherichia coli (E. coli) é a principal representante deste grupo e é o melhor indicador da contaminação da água por fezes.

Fósforo:

É um parâmetro importante para os processos biológicos. Em excesso, pode causar eutrofização da água (a eutrofização de um corpo de água resulta no crescimento excessivo de algas e plantas aquáticas que, quando mortas, são decompostas por bactérias que consomem o oxigênio da água, tornando-o indisponível para outras espécies.) O fósforo está presente nos esgotos domésticos, devido à presença de detergentes superfosfatados e matéria fecal. A drenagem provocada pelas chuvas em áreas agrícolas (dejetos de animais e uso inadequado de fertilizantes) e urbanas também contribuem para contaminação dos cursos d’água. Os efluentes industriais também são fontes relevantes de fósforo.

Demanda bioquímica de oxigênio (DBO):

Representa a quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica, ou seja, oxigênio dissolvido na água que foi consumido por bactérias e outros microorganismos nos processos de degradação da matéria orgânica. Valores altos
de DBO indicam o lançamento de carga orgânica, principalmente esgoto doméstico, e também efluentes industriais.

Nitrogênio amoniacal:

A principal procedência é oriunda de esgotos sanitários, os quais lançam nitrogênio orgânico (presença de proteínas) e amoniacal (por meio da quebra de partículas da ureia). Também provém de indústrias químicas, No parâmetro coliformes termotolerantes, os índices estão acima do limite da pior classe em 11 pontos. Este parâmetro indica, entre outros contaminantes, a presença de esgoto doméstico. No parâmetro fósforo, oito locais estão acima do limite da pior classe. E em 15 pontos se enquadram na classe 3, em uma escala de 1 a 4 (pior). O resultado aponta para possível presença de efluentes domésticos, industriais e de atividades agropastoris.

Venâncio Aires recebe laudos e destaca conjunto de ações

Índice de Qualidade da Água do rio Taquari, em Mariante, é ruim e no arroio Castelhano, péssimo.

Amostras foram coletadas no arroio Castelhano (foto) e no rio Taquari (Foto: Luciane Ferreira)

O município de Venâncio Aires recebeu os primeiros resultados do Índice de Qualidade da Água (IQA). Os dados mostram que os dois pontos do Arroio Castelhano, antes e depois do local de captação da Corsan, são classificados como péssimos. O rio Taquari, em Mariante, está na faixa ruim. A coleta de amostras ocorreu em março.

De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Nilson Lehmen, os resultados preocupam a equipe técnica da secretaria. “Atribuímos, principalmente, ao déficit de tratamento correto dos esgotos domésticos da área urbana.” Lehmen explica que a rede coletora de esgoto ainda não atende todo o município. Apesar da estação de tratamento (ETE) já estar em operação, ainda existem muitas residências que não estão conectadas à rede. “Por isso, não destinam seus efluentes para o tratamento correto”, reforça.

Outro fator que afeta a qualidade da água é a falta de proteção dos cursos hídricos e nascentes. “Apesar de o município possuir um projeto de recuperação de nascentes, que está proporcionando significativas melhorias em termos de recuperação e preservação, ainda há muitas áreas vulneráveis que têm impacto na qualidade e quantidade das águas que desembocam no arroio Castelhano.”

O secretário acrescenta que este fator, aliado à questão das secas, que têm sido cada vez mais frequentes e intensas, interferem diretamente na diminuição da vazão de água, o que reduz a capacidade de depuração do recurso hídrico.

O índice um pouco melhor apresentado no rio Taquari, em Mariante, é atribuído à distância da área de maior concentração urbana, diferente do que ocorre em muitos outros municípios da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, explica o secretário.

Medidas

Na tentativa de mudar a atual realidade, o município, ressalta Lehmen, tem investido na recuperação de nascentes.

Um grupo de trabalho está revendo e estudando a legislação que trata do parcelamento do solo. “O objetivo é tornar obrigatória a instalação de Estação de Tratamento de Esgotos e canalização individualizada para os novos loteamentos.”

Resultados das análises

  •  Os Coliformes termotolerantes (E. Coli) são os maiores indicadores de poluição por esgoto doméstico;
  • Até 160/100 ml de água corresponde à classe 1;
  • No ponto antes da captação da Corsan a análise apontou 7900/100 ml;
  • No ponto após a captação da Corsan a análise apontou 4900/100 ml;
  •  Os dois pontos estão acima do limite da pior classe que é até 3200/100 ml.

Saiba mais

O Laboratório Unianálises é responsável pelo trabalho técnico. Contratado pelo Grupo A Hora, tem feito as análises físico-químicas e microbiológicas desde o ano passado, quanto começou o monitoramento em mananciais da região. Neste ano, o projeto foi ampliado de 23 para 26 locais pesquisados, incluindo o arroio Castelhano e o rio Taquari, em Mariante.

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