Um barulho mental que inibe o foco: a vida com TDAH

SAÚDE

Um barulho mental que inibe o foco: a vida com TDAH

O diagnóstico tardio é um dos principais problemas de quem enfrenta o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Com o tratamento adequado, pacientes conseguem recuperar a concentração e seguir a vida sem grandes empecilhos

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Um barulho mental que inibe o foco: a vida com TDAH
Crédito: Divulgação
Vale do Taquari

Falta de atenção e dificuldade em se concentrar e ficar quieto. Esses são os principais sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que atinge cerca de 5,3% das crianças e 2,5% dos adultos no mundo. O diagnóstico é comum e o transtorno pode ser tratado com medicação.
Entretanto, nem sempre é fácil identificar o problema. Para a psicóloga Carolina Berwanger, 32, o diagnóstico só chegou aos 15 anos, por um psiquiatra de Porto Alegre, depois de uma série de problemas de concentração na escola. A família buscou por soluções como acompanhamento psicológico e com psicopedagoga, mas não teve sucesso.

Desde que o TDAH foi identificado, a ritalina passou a fazer parte da vida de Carolina. “Posso te dizer com certeza que sem o medicamento seria muito mais difícil conseguir me manter focada no trabalho, estudar e fazer o que precisa ser feito no meu dia a dia”, conta Carolina.

A partir do tratamento, a psicóloga diz que sentiu alívio e percebeu a autoestima melhorar. “Ter o diagnóstico também me fez entender que o meu baixo rendimento escolar não estava relacionado a uma preguiça ou desmotivação, mas sim a um funcionamento cerebral diferente”, comenta.

A psicóloga Carolina Berwanger recebeu o diagnóstico de TDAH aos 15 anos. Para o tratamento, a ritalina foi incorporada à rotina. Crédito: Júlia Amaral

Ausência de diagnóstico

Casos como o de Carolina são recorrentes. Conforme o médico psiquiatra Rafael Moreno, a hiperatividade é mais comum em meninos e se torna mais aparente por volta dos seis anos. “As meninas com TDAH tendem a ser mais desatentas. E isso muitas vezes faz com que elas sejam subdiagnosticadas. O menino, que é hiperativo, claramente a gente enxerga na sala de aula, por exemplo”.

Conforme o especialista, 15% das pessoas com TDAH vão desenvolver transtorno bipolar. “É muito comum a criança ou adolescente começar com TDAH e depois evoluir para a bipolaridade. Em geral, no início da vida adulta ocorre essa migração”, ressalta o psiquiatra.  A falta de diagnóstico e de tratamento podem acarretar uma série de problemas no futuro. Conforme Moreno, em 98% dos casos não tratados, outras comorbidades surgem, como ansiedade ou depressão.

Depois da depressão

Pierre Wulff, 29, só descobriu o TDAH aos 28 anos, quando investigava, junto do psiquiatra, quais eram as origens da depressão que enfrentava. Até então, a vida se mantinha em uma constante bagunça, com dificuldades para manter uma agenda ou uma rotina.

A partir do resultado, o sócio proprietário da Nomaden Bier conseguiu se entender melhor e assimilar que os problemas de foco não eram simples. “O TDAH é um barulho mental. Uma dificuldade de organizar as ideias, de manter focado. Tu é simplesmente taxado como desligado, bagunçado, procrastinador ou preguiçoso. Mas na verdade é tudo uma bagunça mental”.

Foi durante o tratamento para depressão que Pierre Wulff descobriu o TDAH, aos 28 anos. Hoje, o medicamento o ajudam a manter a rotina . Crédito: Arquivo Pessoal

Desde o ano passado, Wulff faz uso de medicamentos e diz que eles são “a faísca para o foco”. Para ele, a falta de informação sobre o assunto contribuiu para o diagnóstico tardio. “Eu não desenvolvi TDAH agora, eu sempre fui assim. Só meus pais e professores não tinham a informação para me ajudar”, comenta.

Wulff acredita que conversar sobre o assunto e difundir informações ajuda tanto quem tem o transtorno, quanto quem convive com ele. “Tu acaba se sentindo fracassado, porque não consegue realizar algo. Tuas perspectivas de realização baixam. O bom é que agora está se trabalhando bastante isso”.

Como é feito o diagnóstico

Segundo Moreno, em geral, o indivíduo chega ao consultório com sintomas de falta de atenção, que são comuns. A diferença é que o paciente com TDAH não tem apenas um sintoma e os impactos disso são percebidos em diferentes aspectos, seja no ambiente profissional ou vida pessoal. Além disso, em caso de transtorno, os sintomas duram mais de seis meses e pelo menos um deles deve ter iniciado antes dos 12 anos.

Tratamento

Dois remédios fazem parte do tratamento: ritalina e venvanse. Segundo o psiquiatra Rafael Moreno, os medicamentos são fundamentais, uma vez que a psicoterapia não é o suficiente. Os fármacos ajudam na aceleração da maturação cerebral, mas é preciso avaliar cada caso, já que pacientes com depressão ou ansiedade precisam de cuidados com alguns remédios.

“Os sintomas, com o tempo, vão atenuando. Em cerca de metade dos casos que tratam durante a infância, não tem sintoma de TDAH na vida adulta. Aí para de tomar remédio”, ressalta.

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