De casa, para qualquer lugar do planeta

T.I. SEM FRONTEIRAS

De casa, para qualquer lugar do planeta

Entre as possibilidades do trabalho remoto, a chance de atuar em uma empresa estrangeira e continuar morando no Vale é uma das vantagens. Profissionais da área da TI são os que mais se destacam neste modelo que conecta a região a países como EUA, Israel, Inglaterra e Canadá

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Atualizado quinta-feira,
23 de Fevereiro de 2023 às 12:02

De casa, para qualquer lugar do planeta
Morador de Lajeado, Carlos Felipe Geib, 31, trabalha na empresa Claroty, com sede em Israel (Foto: Bibiana Faleiro)
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Morar no Vale do Taquari, mas receber o salário em dólar ou euro. Essa é a realidade de trabalhadores da região, que são empregados de forma remota por empresas do exterior. As vagas se direcionam, sobretudo, para área de Tecnologia da Informação (TI) e são destinadas aos profissionais com experiência e conhecimento em outras línguas, como o inglês.

Fundador e CEO da BIMachine, Douglas Scheibler, acredita que o Vale tem investido na formação desses profissionais. No caso dos empregados em multinacionais, com salário acima da média para a região, Scheibler observa a vantagem para o giro da economia regional e desvantagem de perder um profissional habilidoso, com capacidade para empreender na área.

“A gente vê que tem poucas startups surgindo e isso já é um problema de longo prazo”, reforça. Ainda assim, o movimento das pessoas do Vale trabalhando para o exterior, para Scheibler, não é volumoso. O aumento ocorreu durante a pandemia, mas ainda são casos isolados, já que exigem qualificação elevada.

A modalidade permanece e se consolida em empresas maduras e com processos estabelecidos. Assim, o número de negócios que voltam ao emprego híbrido ou presencial tem crescido.

Douglas Scheibler, Fundador e CEO da BIMachine

Oportunidades

Mesmo com a volta do presencial, ainda é alta a possibilidade de trabalhar para empresas estrangeiras. De acordo com Carlos Felipe Geib, esta é uma modalidade em crescimento. O morador de Lajeado é profissional de TI e atua, hoje, em uma empresa de Israel. Além disso, já foi professor no Curso Técnico em Informática da Univates.

“As empresas de fora já viram que no Brasil existe mão de obra qualificada. O nosso fuso horário também facilita, pois conseguimos atender Europa e América do Norte com uma diferença pequena de horário”, destaca.

ENTREVISTA


Mouriac Diemer • coordenador dos cursos de Engenharia de Software, de Engenharia da Computação, Sistemas de Informação da Univates

“Profissional competente sempre tem colocação”

A HORA – O que leva os profissionais daqui a trabalhar para empresas de fora?
Diemer – A área de TI é organizada por projetos. A equipe se reúne no início da semana e determina quais são as atividades e ao final da semana é fechada aquela rodada. Assim é mais fácil de administrar o trabalhador. E, se eu estou trabalhando para um grande centro, o salário é maior para todas as áreas, porque o custo de vida é maior. Imagina isso sendo transposto para o exterior. Receber em euro ou dólar e ter custo de vida em reais.

A HORA – As empresas do Vale deixam de oferecer alguma coisa?
Diemer – Nada. Nós temos boa qualidade de vida e bons ambientes de trabalho. As empresas procuram manter seus trabalhadores e oferecem oportunidade de crescimento profissional. A questão talvez seja o salário. Obviamente isso tem alguns reveses. Muitas empresas do exterior têm diminuído o volume de contratação. Em uma empresa remota, você é conhecido pelo o que entrega. Se não satisfizer, é um problema. E você está concorrendo com pessoas de todo lugar do mundo. Então existe uma instabilidade no emprego. Mas isso é relativo. Profissional competente sempre tem colocação, seja remoto ou presencial.

A HORA – Para a região, o que significa ter esses trabalhadores daqui empregados no exterior?
Diemer – É muito bom. É alguém que vive, consome, tem a vida social aqui, mas que trabalha fora e traz divisas para dentro do município. O ponto negativo talvez seja a perda de alguns talentos da região. Por outro lado, para o profissional, significa que há oportunidades. Nossa região é forte na área e, além disso, tem o mundo inteiro à sua disposição.

A HORA – Há quanto tempo começou esse movimento de trabalho remoto na área da T.I.?
Diemer – O trabalho remoto na área da T.I. sempre existiu, mesmo antes da pandemia, mas de maneira menos intensa. Mas ele começou com o crescimento da área como um todo no exterior, com as chamadas big techs. Com isso, simplificou o trabalho remoto. Mas é inegável que durante a pandemia, a área de T.I .foi muito demandada e muitos projetos de digitalização foram antecipados. Muitas empresas tiveram que botar em prática esses projetos de e-commerce, por exemplo. Eu acho que o “boom” da coisa foi de 2020 para cá.

Oportunidades fora do país

1 – Novo, mas experiente 

Ainda no Ensino Médio, Janquiel Kappler, 24, começou a trabalhar na área de informática. Depois de participar do Programa Jovem Aprendiz, foi contratado por uma rede de supermercados de Lajeado e demonstrou interesse pela área de TI e começou sua experiência no setor.

No último ano do colégio, cursou o Técnico em Informática da Univates, e passou a trabalhar para outra empresa, com foco em Firewall e Segurança da Informação. Com um currículo recheado e um bom inglês, no fim do ano passado Kappler recebeu uma mensagem pelo Linkedin com um convite para uma entrevista em uma multinacional de Israel, que também tem sede no Brasil, e foi contratado.

“A gente acaba conhecendo muitas pessoas, culturas e idiomas. Também tenho a flexibilidade de trabalhar de qualquer lugar, desde que tenha um notebook e acesso à internet”, conta.

 

2 – Rumo a Londres

Natural de Teutônia, Douglas Eduardo Reckziegel, 25, começa o dia perto das 6h e, entre 14h e 16h, termina as últimas tarefas. Ele foi contratado pela empresa Faceit, da ESL Faceit Group, de Londres, na Inglaterra, e trabalha de forma remota, hoje, em Novo Hamburgo.

A oportunidade surgiu em 2022. Reckziegel conta que durante os estágios da faculdade de Direito, fazia trabalho voluntário para uma empresa que gerenciava ligas e campeonatos de jogos digitais e teve contato com diferentes instituições do mundo. Entre elas, a Faceit, que tinha interesse na América do Sul, e entrou em contato com ele pelo Twitter.

“Para quem é de fora, às vezes é um pouco complicado de analisar o mercado brasileiro, então eu ajudo eles a focar nas estratégias corretas e atingir o público da melhor forma”, conta Reckziegel. Pela empresa, ele já viajou para o Rio de Janeiro e Espanha em eventos e, em março, vai para Londres encontrar a equipe e participar de treinamentos.

3 – Empresa remota

Há pouco mais de 10 anos, o lajeadense Klaus Fernando Etgeton, 28, iniciou a carreira na área da TI, com o desenvolvimento de aplicativos Android. Em 2017, o engenheiro de software teve a primeira experiência com trabalho remoto, quando passou a integrar a equipe da startup Gravit, na Áustria. Hoje, trabalha para o grupo multinacional Alludo, com sede no Canadá.

“Meu trabalho é dinâmico e exige bastante comprometimento, minhas principais responsabilidades incluem contratação e teste de novos funcionários, design de arquitetura de sistemas, liderança de equipe e desenvolvimento de funcionalidades”, conta. Etgeton ainda não conhece a sede da corporação, que se oficializou como uma empresa totalmente remota.

4  – Flexibilidade

Natural de Bom Retiro do Sul, Carlos Felipe Geib, 31, trabalha na área de TI há mais de 10 anos. Depois de atuar em empresas do Vale e de Porto Alegre, recebeu a primeira oferta de um serviço remoto em uma empresa dos Estados Unidos.

Com a experiência, novas portas abriram e Geib foi contratado pela Claroty, de Israel, que trabalha com segurança cibernética para ambientes industriais, hospitalares e órgãos públicos.

Hoje, ele é engenheiro de implantação dentro da instituição, com clientes, em especial, nas Américas, mas com projetos também em outros continentes. Geib acredita que ter experiência com soluções de rede e segurança é um diferencial. Entre os benefícios do trabalho, está o salário recebido em moeda estrangeira, além da criação de uma rede de contatos global. A flexibilidade de horário e local de trabalho também são atrativos. Por outro lado, a falta de colegas de forma presencial no ambiente pode ser um ponto negativo.

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