A deusa do castigo

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

A deusa do castigo

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Themis é no mundo moderno o símbolo da justiça. Sua imagem no Brasil é bem conhecida: ela é aquela mulher sentada defronte ao Supremo Tribunal Federal em Brasília, venda nos olhos e espada no colo segura pelas duas mãos.

Themis não teve vida fácil, seu pai foi um tirano: Urano, uma espécie de céu primitivo foi criado por Gaia, a Terra para cobri-la. Depois se tornou companheiro de Gaia e cumpria muito bem seu papel como reprodutor. Juntos eles legaram os doze Titãs, três ciclopes, e três Hecatonquiros.

Urano tinha medo de perder seu poder para os filhos e os empurrava de volta para o ventre de Gaia. Cheia de rancor, Gaia pedia vingança aos filhos, mas apenas o mais novo, Cronos, a ouviu. Armado de uma foice ele castrou o pai e trouxe seus irmãos de volta, entre os quais Themis e tomou o lugar do pai como comandante supremo do mundo.

Castrado, Urano enlouqueceu. Gaia quis proteger Themis, entregando-a para ser criada por Nyx, a deusa da noite e da escuridão, mas Nyx estava cansada e entregou não só Themis, mas também sua própria filha Nêmesis aos cuidados das Moiras.

As Moiras eram as deusas do destino. Elas fiavam o fio da vida e cuidavam para que um destino fosse designado para cada um e que ninguém escapasse dele. Elas criaram Themis e Nêmesis, ensinando-lhes tudo sobre a ordem cósmica e natural das coisas, como o ciclo da vida, além da importância de zelar pelo equilíbrio.

Com tais ensinamentos, Themis se tornou a deusa guardiã da consciência coletiva e personificava a lei, a ordem social, a lei espiritual e justiça divina. Era frequentemente invocada na corte quando se faziam os juramentos perante os magistrados, pois representava o ajuste das divergências para estabelecer a paz. Por isso, Themis passou a ser considerada a Deusa da Justiça e protetora dos oprimidos, a quem os romanos chamavam de Deusa Justitia.

Nêmesis, por sua vez, se tornou a deusa da devida proporção e equilíbrio, ela punia toda transgressão dos limites da moderação e restaurava a boa ordem das coisas, por isso era considerada a divindade do castigo. Ostentando uma espada que representa a justiça, trazia nas mãos uma ampulheta advertindo que a justiça poderia demorar, mas seria certeira. Por isso, muitas vezes é relacionada ao destino.

Oscar Niemeyer, quando projetou a praça dos Três Poderes em Brasília, concedeu lugar especial a figura de Themis, uma consideração especial à figura da justiça no mundo moderno. Se pudesse voltar no tempo, o imortal arquiteto talvez pudesse repensar sua obra e colocar ao lado de Themis sua prima Nêmesis. Isso talvez servisse de lembrança não só a todos os brasileiros, mas em especial aos juízes e advogados de que não há justiça sem castigo.

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