Notícias que ninguém quer dar

Opinião

Júlia Amaral

Júlia Amaral

Jornalista

Colunista do Caderno Você

Notícias que ninguém quer dar

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É comum eu chegar em casa animada com alguma história nova que conheci por causa do trabalho. Uma entrevista, uma foto, uma viagem que volta e meia reforça o barato que é trabalhar com reportagem. Mas nem tudo é festa. Às vezes a gente precisa respirar fundo e segurar o choro para depois seguir escrevendo.

Na sexta-feira, 27, eu e a colega Bibiana Faleiro publicamos uma reportagem especial sobre os 10 anos do incêndio da Boate Kiss. Durante a semana, conversamos com vítimas da tragédia e com pessoas que perderam amigos ou familiares. Assim como naquele domingo de 2013, um nó se formava na garganta. Reviver esse episódio, agora como repórter, teve outro peso: o da responsabilidade.

Ao mesmo tempo, produzimos a reportagem especial desta edição do Caderno Você, que também não foi leve. Para falar sobre relacionamentos abusivos e histórias que, infelizmente, muitas mulheres vivem, foi preciso estar atenta para conduzir uma entrevista que não fosse invasiva e pensar em formas de não expor as vítimas, sem esconder a realidade.

Saber a hora de parar, sentir qual pergunta pode ou não ser feita, entender as fronteiras que não podemos ultrapassar. Essa não é uma tarefa simples. A sensibilidade precisa andar de mãos dadas com o profissionalismo e com a ética. Aprendemos isso na faculdade, claro, mas a prática é sempre uma escola mais severa.

Ninguém gosta de dar notícias ruins. Muito menos lembrar daquilo que causa dor. Mas contar essas histórias também é uma forma de fazer com que elas não se repitam. Não contar seria negligenciar, fingir que não aconteceu ou que não acontece.

Às pessoas com quem conversamos essa semana, nosso muito obrigada pela compreensão e disponibilidade para as entrevistas. Desejo que nosso trabalho seja também uma forma de apoio às lutas.

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