Demanda hídrica no setor agroindustrial do Vale do Taquari – Parte II

Opinião

Carlos Cyrne

Carlos Cyrne

Professor da Univates

Assuntos e temas do cotidiano

Demanda hídrica no setor agroindustrial do Vale do Taquari – Parte II

Por

O texto que se segue é a continuidade do relato sobre a pesquisa que realizamos em parceria com a diplomada Laura Kehl, da Univates, e com o prof. Guilherme Oliveira, da UFRGS, sobre um recurso que desperta a atenção da sociedade, a água. A primeira etapa do diagnóstico da demanda hídrica consistiu na estimativa das variáveis relacionadas à produção agropecuária e indústrias de carnes e leite. Conforme os dados encontrados, a estimativa de abates com base nos dados do IBGE (1995, 2006) foi subestimada para aves, para suínos e para bovinos, na comparação com os dados obtidos na pesquisa local, bem como a estimativa de produção leiteira

Esses erros se devem ao uso da tendência observada no estado do RS para estimar os abates e a produção de leite no VT. A demanda hídrica para o setor agroindustrial no VT, considerando as nove categorias produtivas analisadas, foi estimada em 222,9 mil m3.dia-1, tendo como referência o somatório entre a produção primária (pecuária e arroz irrigado – IBGE 2006, 2015) e a produção de carnes e leite (abates e produção leiteira – consulta local). Quando consideradas apenas as informações do IBGE (2006, 2015), a demanda foi estimada em 172,9 mil m3.dia-1, ou seja, 22% menor em relação aos dados refinados pela pesquisa local. A produção de arroz irrigado é a que mais demanda recursos hídricos, com 120 mil m3.dia-1.

Apesar da área plantada de arroz irrigado corresponder a apenas 0,76% da área do VT, esse cultivo é responsável por mais de 50% da água consumida na região. A demanda de água na indústria para produção de carnes e de leite foi estimada em 57,8 mil m3.dia-1 na consulta local, sendo superior à demanda de água para dessedentação animal (45 mil m3.dia-1), correspondendo a 26% da demanda total para o setor agroindustrial. Nesse aspecto, destacam-se as indústrias de carne de aves (25,1 mil m3.dia-1) e as indústrias de leite (21,7 mil m3.dia-1).

Em relação à participação de cada setor na demanda hídrica agroindustrial, observa-se uma regionalização do consumo hídrico voltado à pecuária na porção centro-norte do VT, enquanto as indústrias possuem maior participação no eixo central e a irrigação do arroz na porção sul. Pode-se afirmar que o VT apresenta uma demanda hídrica inferior à disponibilidade hídrica superficial.

Os principais rios da região apresentam vazões médias estimadas superiores a 20 m3.s-1, o que garante o atendimento às demandas por água. Essa constatação é amparada pelo diagnóstico realizado no Plano de Bacia do Taquari-Antas. Pode-se concluir que a maior parte das demandas se refere à produção do arroz irrigado, às margens do Rio Taquari, e às atividades pecuárias como a criação de gado de corte e de suínos. No primeiro caso, a retirada de água é superficial, com a construção de canais de irrigação.

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Já nas propriedades agropecuárias com ênfase na criação de animais, localizadas preferencialmente na porção centro-norte da bacia, predominam as outorgas para uso da água subterrânea. Ainda que o setor agroindustrial apresente um grande consumo hídrico, as vazões médias estimadas no VT são superiores à demanda regional por água. Os dados completos podem ser obtidos em https://revistas.ufrj.br/index.php/aigeo/article/view/37978

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