Em cima do cavalo,  saúde e bem-estar

EQUOTERAPIA

Em cima do cavalo, saúde e bem-estar

Reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) há 25 anos, a equoterapia traz benefícios para a saúde física e mental, como a melhora da postura, do foco e da confiança. No Vale do Taquari, três centros trabalham com a prática e vivem essas melhoras no cotidiano

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Em cima do cavalo,  saúde e bem-estar
Ao lado da mãe, Natália, a pequena Azucena, de três anos, pratica a equoterapia, e á apresenta melhoras na postura, equilíbrio e fala. Crédito: Bibiana Faleiro
Vale do Taquari

Em cima do cavalo, Bettina Werle Cavalheiro, 16, canta e gosta de chamar pela mãe. Portadora da Trissomia do cromossomo 21, mais conhecida como Síndrome de Down, a menina deixou de falar durante a pandemia, e encontrou na equoterapia um estímulo para se comunicar.

Fora da prática que utiliza animais para desenvolver o físico e o emocional, no entanto, ela prefere não falar, mesmo com o incentivo dos pais, Silvani Maria Werle Cavalheiro, 59, e Henrique César Rodrigues Cavalheiro, 56. A relação de Bettina com a equoterapia é antiga. A mãe conta que aos dois anos, a filha não caminhava. Naquela época, encontrou um centro em Porto Alegre, onde moram, e aos 3 anos, Bettina deu os primeiros passos.

Aos 5, com as atividades da escola, parou com a prática. Até metade de 2020. “Bettina desenvolveu uma depressão e não quis dizer mais nenhuma palavra”, conta Silvani. A segunda passagem da menina pela equoterapia foi no Instituto Lado a Lado, em Cruzeiro do Sul, e, desta vez, as dificuldades foram maiores.

“No início ela não queria subir de jeito nenhum. Mas faz mais ou menos um mês, ela começou a falar em cima do cavalo, a cantar, a dizer ‘mamãe’. Desde a pandemia que eu não escutava a palavra ‘mamãe’”, conta Silvani.

Reabilitação

Para a fisioterapeuta e coordenadora do Instituto Lado a Lado, Olga Bohn Martins, a história de Bettina serve como inspiração e é muito debatida entre a equipe. Apaixonada por natureza e pela cultura gaúcha, a relação da profissional com a equoterapia surgiu em 2008, quando o namorado comentou sobre a prática.

Depois de muitas pesquisas, Olga fundou, dois anos depois, o Centro de Equoterapia Vida, o primeiro empreendimento particular do ramo na região. Em pouco tempo, um curso de especialização abriu seus olhos para as outras possibilidades. “Usávamos a prática somente como recurso de fisioterapia, mas é o emocional que comanda. Não adianta eu pedir para a pessoa melhorar a postura se ela não está bem”, explica.

Assim surgiu o Lado a Lado, com o objetivo de utilizar a equoterapia em todas as áreas do desenvolvimento humano. Hoje, além da terapia, que inclui a reabilitação física e o tratamento para a saúde mental, o instituto trabalha com recreação e equitação. Conduzidos por uma turma de nove funcionários, entre fisioterapeutas, psicóloga, psicopedagogas e instrutor de equitação, são 90 praticantes a cada semana no instituto. Nas quintas-feiras de manhã, é a vez de Azucena Dias Barcellos, de 3 anos, participar da atividade.

Por meio da equoterapia, Bettina, 16, voltou a ter estímulos para falar. Crédito: Bibiana Faleiro

No conjunto, a melhora

Foi um pequeno atraso no desenvolvimento da menina que fez os pais Natália Dias e Bernardo Barcellos procurarem a instituição. Com um ano e meio na época, a menina não caminhava, tinha dificuldades no equilíbrio e na fala.

Natália conta que a busca pela equoterapia foi uma sugestão da irmã, fisioterapeuta. Antes de levar a filha para o espaço em Cruzeiro, no entanto, a menina fez algumas aulas em Bagé, cidade natal da mãe.

“A gente começou as sessões lá para já ter esse primeiro contato, porque não sabíamos como ela ia receber essa questão. Mas Azucena logo gostou do cavalo”, conta Natália.

Um ano e meio depois do início da terapia, os pais vêem mudanças no desenvolvimento da filha. “Ela começou a caminhar esse ano efetivamente. Foi um trabalho árduo, mas trouxe muitos benefícios. A integração dela com os animais, ela é muito destemida, e acho que tem a ver com as atividades também”, destaca a mãe.

Além disso, Natália acredita que o progresso está ligado ao conjunto de terapias também fora do campo, como o trabalho da fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudióloga.

No cavalo

Além de auxiliar no tratamento físico e motor, já que o andar do cavalo imita os movimentos dos passos humanos, a equoterapia é um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação.

“Respeitamos muito a espontaneidade do indivíduo e o tempo dele, mas precisamos de toda uma equipe, porque a equoterapia é uma ciência, não é achismo”, reforça a coordenadora da Lado a Lado, Olga. Desde a escolha do cavalo, o treinamento do animal, até a condução durante as sessões, tudo é feito com base em estudos sobre a prática.

Cada praticante anda com o cavalo ideal para ele. Os animais com poucas reações, por exemplo, podem não ser os mais indicados para as crianças mais agitadas, por isso é importante a equipe conhecer os animais e os praticantes. “O cavalo propõe uma terapia mais lúdica, e trabalha a área física, emocional e cognitiva”, destaca a psicóloga do espaço, Janice Dessoy.

Muitos dos trabalhos também são feitos para prevenir problemas futuros. Ainda que o atendimento principal seja de crianças de adolescentes, os pais de pessoas com autismo também participam das atividades, em especial, em um grupo de apoio psicológico.
Hoje, o Vale também conta com o Centro de Equoterapia Abraço Forte, em Encantado, e o Centro Sítio Viva Vida, em Cruzeiro do Sul.


A Equoterapia

É indicada para pessoas de todas as idades, que apresentam os seguintes quadros clínicos:

• Lesões neuromotoras;

• Depressão;

• AVE (AVC, derrame);

• Paralisia cerebral;

• Traumatismo craniano encefálico;

• Lesões medulares;

• Síndromes diversas;

• Doenças genéticas, neurológicas, ortopédicas, musculares e metabólicas;

• Disfunções sensório-motora;

• Transtorno da coordenação motora;

• Distúrbios de linguagem, aprendizagem, comportamentais e emocionais;

• TDAH, autismo, dislexia e outras dificuldades em leitura, escrita e raciocínio lógico matemático;

• Timidez e segurança;

Benefícios

– Socialização

–  Interação

–  Noção temporal

–  Linguagem

–  Diminuição da ansiedade

–  Equilíbrio

–  Coordenação motora

–  Rotina e introdução de limites

 

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