Brasil, o país do passado?

Opinião

Guilherme Cé

Guilherme Cé

Economista

Brasil, o país do passado?

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Atualizado quarta-feira,
20 de Julho de 2022 às 16:49

“Você é useiro e vezeiro em fabricar programas de governo desde os tempos de Getúlio e Juscelino. No Brasil, os problemas não mudam; logo, não mudam também as soluções”. Essa frase foi dita por Tancredo Neves, então primeiro-ministro na breve experiência parlamentarista brasileira entre os anos de 1961 e 62, para o economista Roberto Campos.

Ao receber o convite para escrever no A Hora, lembrei-me da frase acima e também de alguns artigos esparsos escritos nesse mesmo jornal durante os anos de 2015 e 16. E não tive como não sentir uma certa tristeza pela nossa mesmice. Os problemas de hoje, mesmo que por razões não exatamente idênticas, se assemelham aos de 1960 ou 2015: inflação, baixo crescimento econômico, populismo fiscal, instabilidade política e uma sociedade que teima em não enfrentar frontalmente seus problemas.

É verdade que houve avanços desde 2016, como o Teto de Gastos e as Reformas Trabalhista e da Previdência. Como também é inegável que tivemos avanços no passado, com o Plano Real – moeda que completou 28 anos agora em julho – e a Lei de Responsabilidade Fiscal, para ficar apenas nas duas maiores reformas estruturantes das últimas décadas. E, sempre bom lembrar, com o Bolsa Família, que unificou e aprimorou diversos programas sociais e criou uma politica pública de sucesso, por mais que alguns, até pouco tempo atrás, torcessem o nariz.

Mas, apesar dos avanços pontuais, o Brasil teima em repetir muitos dos erros do passado. Somos, há tempos, o “país do futuro” na teoria, porém que parou no tempo na vida real. Enquanto vimos países mundo afora darem saltos de produtividade, gerando ganhos consistentes de renda e superando de forma sustentável o subdesenvolvimento, nós preferimos seguir adiando as reformas necessárias na esperança de que fazer mais do mesmo daria certo. Não deu. E, lamento dizer, não dará.

E isso não é culpa de ninguém mais do que de nós mesmos. O Brasil não é o que é a toa. Somos nós que elegemos os políticos que tanto criticamos ou que aplaudimos medidas populistas – como se a conta de hoje não virá, muito mais cara, no futuro. O fato é que só deixaremos de ser o país do passado quando enterrarmos a crença em soluções mágicas ou cura indolor para os nossos problemas complexos. Ou, pior, acreditando em salvadores da pátria, seja lá quem ele for ou qual bandeira ele levante. Para ser o país do futuro é preciso aprender com o passado e decidir que o futuro começa com decisões difíceis hoje.


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