“Na indústria, o processo é tudo”

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“Na indústria, o processo é tudo”

Oscar Hunemeier é diretor da Plastrela, empresa com 42 anos de história na produção de embalagens

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“Na indústria, o processo é tudo”
Oscar Hunemeier completou mais de três décadas dedicadas à Plastrela. Crédito: Thiago Maurique
Vale do Taquari

Hoje, a Plastrela é uma das principais produtoras de embalagens plásticas do Brasil, com produção de cerca de 1,5 mil toneladas de bobinas técnicas por mês. Além de Estrela, a empresa possui uma planta industrial na cidade de Aparecida do Taboaldo, no Mato Grosso do Sul.

– Quais as tuas origens familiares?

Oscar Hunemeier – Eu tenho 56 anos, nasci e cresci no Centro de Estrela. Fiz o primeiro e segundo grau no Colégio Martin Lurther e tenho uma forte origem alemã. Meus avós são de Imigrante, onde tenho parentes, assim como em Colinas, Santa Clara do Sul e no interior de Lajeado.

Meu pai tinha uma pequena indústria, depois foi mal nos negócios, teve problemas de saúde e faleceu cedo. Nos deixou aos 59 anos. Então, fui criado pela minha mãe, uma irmã e forte laços com minha vó e uma tia.

– Quando decidiu ingressar na área?

Hunemeier – Desde sempre gostei do ramo financeiro e tinha o sonho de sair de casa. Fiz um trato com a família: se eu passasse em Agronomia na Ufrgs, eles me bancariam em Porto Alegre. Mas não entrei por causa da Lei do Boi. Na época, quem era filho de agricultor e comprovasse propriedade rural, tinha vantagem. Então, decidi tentar contábeis na antiga Fates.

Passei na Univates quando ainda estavam começando a implantar o segundo curso, de Administração. Minha família tinha recursos apenas para duas cadeiras, mas consegui um estágio. Naquela época era diferente, havia pouca oportunidade e muita gente querendo trabalhar.

– Como foi o início da caminhada profissional?

Hunemeier – Tive oportunidade na Souza Cruz, em Lajeado, onde estagiei como analista de contrato de safra. Fiquei por três meses e eles propuseram renovar o contrato, mas não havia perspectiva de longo prazo. Nesse meio tempo fiz um teste no Itaú e umas semanas depois me chamaram para trabalhar de contínuo, Office Boy. Com isso, consegui completar minha faculdade. Primeiro fiquei no Itaú de Estrela, depois fui transferido para agência de Lajeado. Mas no banco eu não trabalhava na área e queria exercer a profissão.

– De que forma você começou a atuar em contabilidade?

Hunemeier – Estava a cinco anos e meio no Itaú e o banco me ofereceu oportunidade de trabalhar em São Paulo, na auditoria. Mas eu era um cara de Estrela e decidi ficar na cidade. Nesse meio tempo, o administrador da Plastrela, seu Artur, veio conversar comigo.

Ele tinha convidado várias pessoas do Itaú para trabalhar e me ofereceu vaga de contador na Plastrela. Fui conhecer a empresa, que na época pertencia ao grupo Avipal. Todo o Centro Administrativo era na Cavalhada em Porto Alegre e lembro muito bem do dia que eu estava na Capital, porque foi o dia que minha avó faleceu. Decidi aceitar. Foi meu segundo emprego de carteira assinada.

– Como foi assumir esse desafio?

Hunemeier – A empresa produzia 10% do que produzimos hoje. Eu tinha 24 anos e não conhecia o que era a contabilidade na prática. Na época, tinha que fazer os registros nos computadores em Porto Alegre.

Eu pegava o ônibus às 6h10min em Estrela, chegava na Rodoviária de Porto Alegre às 8h e pegava um táxi para a sede da Avipal, que era na zona Sul. Passava o dia inteiro digitando, depois gerava o relatório e voltava para a Estrela. Em uma semana tinha que voltar de novo.

A empresa foi evoluindo e depois passamos a fazer a contabilidade na Avipal em Lajeado, onde hoje era a BRF, ou na Granolho, que também era uma empresa do Grupo Avipal. Até que elaborei um projeto e informatizarmos a Plastrela.

Com 42 anos de história, empresa produz 1,5 mil toneladas de boninas de embalagens por mês

– Como se deu o crescimento da empresa?

Hunemeier – Sempre tivemos investidores com objetivo de crescer com inovação. A cada semestre, recebemos novos equipamentos e a empresa sempre está preparada para o mercado. Em 2001, a parte societária se alterou.

Na Avipal, era mais uma empresa do grupo, cujo foco era produzir frango, alimento. De 25% a 30% do que fazíamos era para a Avipal. Um dos investidores, o senhor Shen Bay Yuen, se desfez com todas as ações do grupo Avipal e ficou só com a Plastrela.

Nesse momento ele trouxe o filho dele, Jack Shen, para ser um dos gestores. A empresa ganhou outra proporção, com vários investimentos. Fomos a primeira empresa do Estado a produzir embalagens para ração Pet, por exemplo.

– Porque a decisão de iniciar uma operação no Mato Grosso do Sul?

Hunemeier – A partir de 2006 a 2008, quando decidimos investir no centro do país. Instalamos uma unidade industrial no para atender Sudeste e centro Oeste. Tivemos que desenvolver toda uma estrutura. Foi um grande desafio, porque como vou fazer controlar uma estrutura distante? Na indústria, o processo é tudo.

Quando tu estabelece um padrão das coisas, se você seguir, sempre alcança o resultado, guardadas as variações. No Mato Grosso do Sul, a cultura é completamente diferente da do Vale do Taquari e do RS. Então, é preciso estabelecer o processo, mas entendendo o fator cultural e humano das pessoas.

– Quais os motivos da tua evolução na empresa?

Hunemeier – A Plastrela sempre investiu no capital humano e proporcionou a fazer cursos. A empresa me permitiu uma pós-graduação na Univates, um curso de especialização na ESPM em Porto Alegre, entre outras qualificações.

Quando eu era contador, tinha muita penetração e auxílio da estrutura da Avipal, então buscava aprender sobre essas ferramentas e adquirir informações. Quando uma empresa cresce, a pessoa tem que crescer junto, para dar suporte técnico, intelectual e administrativo. Vários colegas também participaram desse crescimento e estão conosco até hoje.

– É possível conciliar a dedicação empresarial com a familiar?

Hunemeier – Tenho carga horária intensa, mas a cobertura de excelentes profissionais. Conheci minha esposa no Itaú, temos mais de 30 anos de casado e dois filhos. Construí a base familiar lá atrás e meus filhos estão criados, saindo de casa.

Mas, sempre tive uma liberdade na Plastrela e pude frequentar as reuniões e eventos do colégio dos meus filhos,por exemplo. Meu trabalho hoje, faz parte do meu foco da vida, mas tenho que saber que a minha história na empresa tem início, meio e fim.

Um dia terei que passar o bastão para outra pessoa porque não terei o mesmo pique. Por isso, preciso deixar alguém preparado para assumir. Hoje, acredito que estou na melhor fase de maturidade intelectual. Mas, no longo prazo, preciso encaminhar a sucessão.

– Qual o futuro da Plastrela?

Hunemeier – É bastante promissor. Existem desafios devido a forma como o plástico é visto pela sociedade, mas o problema é a falta de conscientização das pessoas sobre como tratar a embalagem.

Temos vários programas de reciclagem, pois o plástico é totalmente reutilizável. O problema é a pessoa jogar embalagens no chão, porque vai parar nos rios. Temos uma planta totalmente dedicada a reciclagem onde reutilizamos todo o nosso resíduo industrial.

O segmento precisa apostar na reciclagem porque ajuda o meio ambiente e reduz custos internos. Quanto à empresa, temos tudo para manter a trajetória de crescimento.

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