A deusa do castigo

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

A deusa do castigo

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

“A crise da autoridade começa em casa, quando temos medo de dar ordens e limites ou mesmo castigos aos filhos. Estamos iludidos por uma série de psicologismos falsos. Muito crime, pouco castigo! Leis antiquadas, ou insuficientes. Assim chegamos, como reféns em casa ou ratos assustados na rua.”

Lya Luft

Themis simboliza no mundo moderno a justiça. Sua imagem no Brasil é bem conhecida: ela é aquela estátua feminina que aparece sentada defronte ao Supremo Tribunal Federal em Brasília, venda nos olhos e espada no colo segura pelas duas mãos.

Themis não teve vida fácil, seu pai foi um tirano: Urano, uma espécie de céu primitivo, foi criado por Gaia, a Terra, para cobri-la. Depois se tornou companheiro de Gaia e cumpria muito bem seu papel como reprodutor. Juntos eles legaram os doze Titãs, três ciclopes e três Hecatonquiros.

Urano tinha medo de perder seu poder para os filhos e os empurrava de volta para o ventre de Gaia. Cheia de rancor, Gaia pedia vingança aos filhos, mas apenas o mais novo, Cronos, teve a coragem necessária. Armado de uma foice ele castrou o pai e trouxe seus irmãos de volta, entre os quais Themis, e tomou o lugar do pai como comandante supremo do mundo. Desde então o tempo controla a vida humana.

Castrado, Urano enlouqueceu. Gaia protegeu Themis entregando-a para ser criada por Nyx, a deusa da noite e da escuridão, mas ela estava cansada e entregou não só Themis, mas também sua própria filha Nêmesis aos cuidados das Moiras.

As Moiras eram as deusas do destino. Elas fiavam o fio da vida, cuidavam para que um destino fosse designado para cada um e que ninguém escapasse dele. Elas criaram Themis e Nêmesis ensinando-lhes tudo sobre a ordem cósmica e natural das coisas, como o ciclo da vida, além da importância de zelar pelo equilíbrio.

Com tais ensinamentos, Themis se tornou a deusa guardiã da consciência coletiva e personificava a lei, a ordem social, a lei espiritual e justiça divina. Era frequentemente invocada na corte quando se faziam os juramentos perante os magistrados, pois representava o ajuste das divergências para estabelecer a paz. Por isso Themis passou a ser considerada a

Deusa da Justiça e protetora dos oprimidos a quem os romanos chamavam de Deusa Justitia.
Nêmesis, por sua vez, se tornou a deusa da devida proporção e equilíbrio. Ela punia toda transgressão dos limites da moderação e restaurava a boa ordem das coisas, por isso era considerada a divindade do castigo.

Ostentando uma espada que representa a justiça, trazia nas mãos uma ampulheta advertindo que a justiça poderia demorar, mas seria certeira. Por isso, muitas vezes é relacionada ao destino.

Oscar Niemeyer quando projetou a praça dos Três Poderes em Brasília concedeu destaque à figura de Themis,  uma consideração especial a figura da Justiça no mundo moderno. Se pudesse voltar no tempo e à vida , o imortal arquiteto talvez pudesse repensar sua obra e colocar ao lado de Themis sua prima Nêmesis.

Isso talvez servisse de lembrança não só a todos os brasileiros, mas em especial aos juízes do Supremo Tribunal Federal, de que não há justiça sem castigo.


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