“Geração Z” e a quebra de padrões

Comportamento

“Geração Z” e a quebra de padrões

Conhecidos pela sua aptidão com as novas tecnologias e desejo pela liberdade, pessoas nascidas a partir dos anos 90 até 2010, representam os jovens de hoje. As principais diferenças para as gerações anteriores são aspectos como amor, ideais e trabalho

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“Geração Z” e a quebra de padrões
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Busca pela própria identidade e auto representação. Liberdade no amor e desprendimento da vida financeira. Engajamento social e o desejo de “ser feliz”. Estas são características que muitos jovens de hoje têm em comum. Com o avanço da tecnologia e mudanças no contexto cultural e econômico, essa geração, conhecida como “z”, que representa os nascidos na década de 90 até 2010, tem se diferenciado das anteriores, por representar as grandes mudanças sociais.

Professora de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da Univates, Bernadete Cerutti explica que o termo “Geração z” tem origem na palavra “zapping”, que remete a ágil e constante troca de canais da televisão por meio de um controle remoto, em busca de algo que seja interessante de ver e ouvir.

De acordo com ela, esse grupo ainda se encontra em fase de consolidação, e se apresenta como uma geração com facilidade em usar tecnologias digitais. Além disso, é conectada às tendências e novidades tecnológicas e, por isso, considerada “diferente”.

“É comum ouvir adultos dizerem, por exemplo, que os jovens de hoje parecem ter nascido com um chip no cérebro, já que assimilam rapidamente as inovações tecnológicas do mercado. Não raramente, já ensinaram familiares a usar recursos digitais ou criar um perfil na rede social”, destaca.

Esses jovens também são identificados por manterem relacionamentos inovadores, sejam sociais ou amorosos. Além de se preocuparem com ideais que fazem sentido para eles. Bernadete ainda destaca que em termos de trabalho, a “Geração z” acredita que o crescimento profissional se dá a partir de conhecimentos somados a novas experiências e vivências. Por isso, não costumam ficar muito tempo na mesma empresa.

“Entre as características desse grupo está a valorização da liberdade de expressão e escolha”, reforça a professora. Além disso, gostam de desafios e ideias inovadoras que podem gerar a própria renda.

Conflitos da geração Z

Por outro lado, é um grupo que apresenta altos índices de problemas associados à saúde mental. A professora lembra que a preferência pelo contato virtual ao invés do físico, algo comum na “Geração z”, pode ocasionar dificuldades nas relações.

“Apresentam também problemas emocionais, como ansiedade, apreensão, solidão, depressão e preocupação de não estarem causando uma boa impressão nos outros”, complementa. Esses jovens não deixam de se comunicar, mas criam formas alternativas de se relacionar.

A desestrutura familiar, a baixa formação educacional e, por consequência, a baixa autoestima, também podem ocasionar desmotivação, falta de expectativas, dificuldade em aceitar críticas e de não saber lidar com as adversidades.

Dos Baby Boomers aos Alphas

Mas nem sempre os jovens se comportaram assim. As gerações conhecidas como “Baby Boomers, “x” ou “y” tinham outras ideias, valores, relações com o trabalho e com as pessoas, de acordo com o período em que nasceram. O contexto histórico, cultural e tecnológico de cada época contribuíram para essa mudança comportamental ao longo dos anos e é por meio de padrões como esses que os grupos foram criados.

As mudanças ainda não acabaram, e uma nova geração surgiu a partir de 2010, conhecida como Alpha. A principal diferença desse grupo para os anteriores é que eles já vivem, desde que nasceram, no meio da internet, e desenvolvem comportamentos mais ágeis e independentes. Mas, por outro lado, com maior dificuldade de concentração.

Diferença entre gerações:

Baby Boomers (1945 e 1960)
O termo, em inglês, se refere ao boom demográfico ocorrido nos Estados Unidos durante esse período. Esse é um grupo de pessoas focadas, mais rígidas e que não gostam de mudanças. Valorizam o trabalho e a dedicação à família, além da busca por melhores condições de vida e bem estar.

Geração X (1960 e 1980)
Passaram por diferentes transições políticas e prezam por estabilidade. Além de serem mais individualistas, são pragmáticos e dão muito valor à família. Tem grande poder aquisitivo e são fiéis às marcas de luxo.

Geração Y (1981 a 1996)
Emergentes da internet, que passaram por recessão econômica e globalização. Estão sempre em busca de inovação, além de serem flexíveis e questionadores. Se atendem ao consumo consciente e mostram apelo nostálgico nas compras.

Geração Z (1996 a 2010)
Tem identidade fluída, são autênticos e multitarefas. Gostam de formatos de áudio e vídeo, e acreditam e cobram propósito das marcas.

Geração Alpha (a partir de 2010)
Desde que nasceram, se viram rodeados de diversos dispositivos eletrônicos. São pessoas mais curiosas, independentes, ágeis, e empáticas. Por outro lado, apresentam maior dificuldade de concentração.

A GERAÇÃO Z E O AMOR

Douglas e Enzo, de 22 anos, namoram há um ano e quatro meses. O relacionamento proporciona para o casal confiança, crescimento mútuo e liberdade, coisas que acreditam ser indispensáveis. Entre tantas características de um namoro comum, os dois têm um acordo que surgiu de forma natural: o relacionamento aberto.

Ninguém precisa esconder o desejo por outra pessoa. “O que às vezes as pessoas confundem é uma atração momentânea com sentimento. Desde o início a gente falava sobre isso, sentimento é uma coisa, atração é outra”, explica Douglas.

Antes de Enzo, Douglas nunca pensou sobre o assunto. Ainda assim, a liberdade no namoro foi algo que surgiu sem a necessidade de discussões. Desde o princípio, o casal entendeu que cada um tem a sua individualidade, que deveria ser mantida e respeitada.

“Percebemos que éramos maduros o suficiente pra entender que a gente pode ir pra uma festa, estar com outras pessoas, voltar pra casa e continuar no nosso relacionamento, e tá tudo bem”, afirma o administrador.

A liberdade faz bem ao casal. Conforme Douglas, o que faz o acordo dar certo, entre outros motivos, é a semelhança de ideais, a sintonia e a clareza dos combinados e limites. “Amor é liberdade. É liberdade de ser quem a gente é. É algo que nos permite viver uma vida completa”, finaliza.

A GERAÇÃO Z COM O TRABALHO

Na última semana, Talita Becker, 25, saiu de um emprego fixo para investir em um sonho. Até os 15 anos, ela tinha certeza que iria ser cantora. Foi nessa época que seu pai, um dos maiores incentivadores de sua carreira, faleceu. Para fazer faculdade de música, era preciso morar em outra cidade e, por isso, o plano não foi adiante.
“Comecei a pesquisar e escolhi fazer psicologia, mas nunca me vi conciliando isso com a música. Tanto que eu tranquei o curso porque não tinha mais tempo pra tocar, e isso tava me fazendo mal”, lembra.

No fim de 2018, ela entrou para a banda Eletro Rádio e percebeu novas formas de seguir com a carreira. Entrou para o curso de marketing, que concluiu no fim do ano. “Temos que tornar a nossa carreira um negócio, é o que faço desde o ano passado”, conta.

Hoje, além da banda, Talita também dá aulas de técnica vocal, tem um projeto de música acústica com o namorado e de outro solo, com músicas autorais. Mesmo assim, percebe que escolheu um caminho “diferente”, quando é questionada se trabalha só com música e é aconselhada a ter mais um emprego.

“Eu acho que se tinha uma lógica de viver para trabalhar, de que o trabalho não precisa ser uma coisa boa, que tem que ser uma coisa custosa e que exige sacrifício”, pontua.

GERAÇÃO Z COM OS IDEAIS

A preocupação ambiental surgiu com mais força depois que o casal Leandro Peixoto, 24, e Júlia Bortoli, 23, optaram pelo vegetarianismo. No início, a escolha foi em compaixão aos animais. Mas, com estudos sobre o tema, também perceberam a importância da prática para a preservação do meio ambiente.

Ele se tornou vegano há seis anos e ela, há quatro. No dia a dia, além de não consumirem nada de origem animal, produtos que desperdiçam grande quantidade de água, também preferem os insumos locais e orgânicos, assim como vindos da agricultura familiar. Além disso, se preocupam com a separação do lixo e evitam o uso de sacolas plásticas.

“O modo de vida, de consumo e de produção que foi instituído há séculos está destruindo rios, solos, lagos, montanhas, animais e colocando em risco a existência da própria vida humana. Por isso essa questão é tão importante”, acredita Leandro.

Na hora de incentivar outras pessoas, o casal prefere a cautela. O ativismo é pelo exemplo. “Imaginamos que essas discussões vão crescer cada vez mais e esperamos que gerações futuras consigam produzir as mudanças necessárias para transformar o mundo num lugar mais justo, digno e harmonioso”.


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