Diálogo e empatia contra o suicídio

Saúde Mental

Diálogo e empatia contra o suicídio

Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção que alerta sobre a importância de uma rede de apoio para pessoas com sofrimento psíquico

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Atualizado segunda-feira,
13 de Setembro de 2021 às 11:59

Diálogo e empatia contra o suicídio
Natural de Venâncio Aires, Monyque tentou tirar a vida em 2014. Hoje fala sobre o assunto para ajudar outras pessoas / Crédito: Divulgação
Vale do Taquari
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“Acredito que não foi um motivo só. Acho que ninguém tenta um suicídio por um motivo só, é um acúmulo de coisas, às vezes imperceptíveis”. Natural de Venâncio Aires, Monyque Schmidt, 27, sentia-se mal fazia dias. Ela não tinha vontade de levantar da cama e se culpava pelo que não achava certo em sua vida.

Estava insatisfeita com o trabalho, passava por um término no relacionamento e, naquele dia, tinha brigado com a família. Ela achava que as pessoas ficariam melhores sem ela e, quatro dias antes do aniversário de 20 anos, em 6 de novembro de 2014, tentou tirar a própria vida.

“Depois disso, além de lidar com tudo o que estava acontecendo, ainda fiquei cadeirante. Lesionei a vértebra T11 e parcialmente minha medula, o que me levou a ficar paraplégica”, conta Monyque. No início foi difícil, mas com muita terapia e o apoio da família, ela melhorou e superou a doença. Na época, a menina não sabia que tinha depressão.

“A única pessoa com quem me abri foi minha irmã. Ela é psicóloga e achou que eu precisava de terapia. Eu tinha pedido pra ela não contar pra ninguém e ela ficou com medo. Foi uma surpresa pra todo mundo, todos achavam que eu estava bem”, lembra.

Depois de quase sete anos, Monyque se sente confortável para falar sobre o assunto e espera ajudar outras pessoas que passam pelo mesmo.

“Não tenho vergonha do que aconteceu. Acho que todo mundo está sujeito a ficar doente. As pessoas sabem que é importante ir ao médico, mas não pensam que a cabeça também faz parte da saúde”, destaca.

Hoje, a terapia continua fazendo parte da vida da estudante de pedagogia. Ela se forma no ano que vem e encontrou no estudo e nas viagens, algo para se motivar. Monyque é um dos 607 jovens que tentaram suicídio naquele ano. Depois disso, o número cresceu. Em 2018, foram 2001 tentativas de pessoas entre 20 e 29 anos, segundo dados do governo estadual.

Vale a Vida

Em Lajeado, a Univates, em parceria com a Unisc e Uergs, organiza o projeto Vale a Vida, com um grupo de pesquisadores apoiados pela Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do estado.

O projeto atende pessoas do Vale do Taquari e Rio Pardo. As inscrições vão até outubro e, para participar, basta entrar no site do Vale a Vida, clicar em “Quero Participar”, preencher os dados, concordar em fazer parte do projeto de pesquisa e marcar uma consulta com o psiquiatra. Depois, o paciente passa por quatro sessões virtuais de psicoterapia com profissionais capacitados.

Crédito: Bibiana Faleiro

Entre os pesquisadores do projeto, está a médica psiquiatra e psicoterapeuta, mestranda da Pós-graduação em Ciências Médicas da Univates Luiza Lucas. Ela explica que são coletados dados sobre como os participantes se sentem antes, durante e após os atendimentos, para estudar como as tele-psicoterapias afetam as pessoas. “Por exemplo, se elas melhoram de sintomas de ansiedade, depressão e irritabilidade, como isso ocorre, em quais pessoas funciona melhor, etc”, explica Luiza.

Desde março, quando iniciou, mais de 550 pessoas se cadastraram no projeto. Os principais motivos que levaram à procura das consultas são sintomas de ansiedade, depressão e irritabilidade.

“Os resultados têm sido ótimos, as pessoas estão aderindo bem às sessões de psicoterapia”, destaca Luiza. A pesquisa é vinculada ao programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da Univates. Os dados serão publicados em periódicos científicos internacionais e nacionais.



Comum entre os jovens

De acordo com o médico psiquiatra Rafael Moreno, esta é a segunda principal causa de morte entre adolescentes e jovens adultos no mundo.

Nos países desenvolvidos, o suicídio é mais frequente a partir dos 50 anos, e em países subdesenvolvidos, como o Brasil, o número é maior entre os jovens. Os dados também mostram maior número de homens que cometem suicídio em relação às mulheres. No Rio Grande do Sul, os casos mais comuns são de homens a partir dos 40 anos.

“A taxa relativa de suicídios em idosos também assusta, sendo uma das principais causas de morte nessa faixa etária”, ressalta o psiquiatra.

Moreno explica que o suicídio é um fenômeno multifatorial, que envolve questões genéticas, de personalidade, traumas infantis, presença de transtornos mentais, entre outros. “Geralmente temos um fator precipitante, como uma separação, uma briga familiar, um endividamento. Só que na maioria das pessoas, o estresse não leva a uma tentativa de suicídio. Em indivíduos predispostos, no entanto, sim”, destaca.

Entre os adolescentes, o psiquiatra ressalta que o bullying nas escolas e a pressão dos professores e pais por notas são fatores de risco para o comportamento suicida. Um movimento semelhante também pode ser percebido nas universidades, uma vez que, hoje, elas não garantem mais emprego, ou felicidade. Isso resulta em uma massa de jovens com formação superior e desempregados ou com trabalho em outra área fora de sua formação.

“Estudar e tirar boas notas não garante nada para ninguém. Ser feliz é a grande preocupação do jovem do século XXI, não é ter dinheiro para comprar um terreno e construir uma família”, acredita.
Com poucos projetos de apoio na região, o médico entende que o assunto deve ser abordado com menos tabu já na educação, desde a formação escolar às universidades.


Como ajudar
O primeiro passo para ajudar um paciente psíquico é não deixar que ele abandone o tratamento. Além de entender que são problemas crônicos, sem cura. Por isso, é importante aprender a conviver com as doenças ao invés de escondê-las.

Dados no RS em 2019
– Estado é o segundo com mais casos de morte pela causa no país;
– Faixa etária com mais casos foi entre 40 e 59 anos;
– No ano, Lajeado registrou 15 óbitos. Dados mostram que em cada 100 mil habitantes, 19,01 cometem suicídio;
– A depressão é a causa mais frequente, seguida por problemas de relacionamento e de saúde.

Fonte: Governo do Estado e Instituto Geral de Perícias.

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