“Nenhuma faca fica igual a outra”

ABRE ASPAS

“Nenhuma faca fica igual a outra”

Fábio Luiz Fabris, 62, deixou a aposentadoria de lado para se dedicar a um sonho: a arte da cutelaria e hoje faz facas campeiras. Ex-empresário encontrou na atividade um novo talento. Do que surgiu como hobbie, hoje também se transformou em uma fonte de renda extra

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“Nenhuma faca fica igual a outra”
(foto: Nágila Ferreira)
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Por que decidiu aprender sobre cutelaria?

Sempre gostei de facas. Acredito que a maioria dos homens gostam, principalmente quem está próximo do campo. Inclusive a faca artesanal faz parte da indumentária gaúcha. É algo durável, que perpassa os anos. Por vezes vai de pai para filho.

Com minha aposentadoria, precisava de algo para fazer. Eu sempre trabalhei no comércio, em contato com as pessoas, no meio do movimento. Ficar sem fazer nada me preocupava. Como já tinha esse desejo de fazer facas, eu disse: chegou a hora. Fui estudar, passei a ler, busquei conteúdos na internet e comecei.

Como foi aprender sozinho?

Muito de tentativa e erro. A primeira ficou um horror. A segunda muito feia. A terceira melhorou. Na quarta começou a ficar bom. Um dos segredos está na escolha dos materiais. Eu uso material reciclável, em algumas peças, mas também compro aço, madeira de lei e trançados.

Para fazer uma faca, temos de ser ferreiro, marceneiro e também sapateiro. É a união dessas habilidades. Comigo acho que tem algo que está no sangue mesmo. Meu bisavô, que se chamava Fábio também, era ferreiro.

Como saber se uma faca é boa?

É o fio. O principal é isso. O fio tem de ser durável. Para isso, é preciso fazer uma tempera muito boa. Mas além disso, a faca campeira faz parte da cultura do gaúcho. É a faca e o cavalo. O uso dela, se está no campo, serve para muita coisa. Além disso, tem a parte estética. Do uso da madeira para o cabo.

O que sente quando está na cutelaria?

Eu esqueço de tudo. Já não tenho problemas, graças a Deus, tenho uma aposentadoria tranquila. É um momento em que meu pensamento, minha concentração estão nas facas. Em cada etapa do processo. Faço com calma, aproveitando os momentos. Para fazer um lote de três ou quatro facas, levo dias. Cumpro com um processo sem afobação de tempo, sem ter que terminar logo.

Fabricar facas é mais um hobbie ou um negócio?

Tudo começou por um hobbie. Como disse, algo para me ocupar. São seis anos e em meio a isso, comecei a receber pedidos, encomendas. Acabou sendo uma forma de complemento da renda. Mas essa não é a prioridade.

Além dos pedidos por novas facas, muitos me procuram para afiar, para consertar o cabo. É aquilo né, é um bem durável, que as pessoas se apegam. O pai dá para o filho como herança. E ele quer preservar aquilo.

Dentro daquelas que já fabricou, tens as preferidas? Aquelas que não vende?

(Risos) Tenho cinco que são minhas, que ficaram lindas demais e não me desfaço. É um trabalho artesanal. Tem vezes que tenho uma ideia na cabeça, mas quando pego o material, faço de outro jeito. Muito pela característica da madeira. Faço um cabo mais alongado, ou um detalhe na cor. Nenhuma faca fica igual a outra.

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