Vantagens e desafios da vida na estrada

LIBERDADE SOBRE RODAS

Vantagens e desafios da vida na estrada

Viajantes deixam o endereço fixo e estabilidade para viver de forma nômade e conhecer diversos lugares do mundo em carro ou motorhome

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Atualizado segunda-feira,
17 de Maio de 2021 às 09:33

Vantagens e desafios da vida na estrada
(Foto: Arquivo pessoal)
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

O nascer do sol pode ser visto de diferentes luga­res por William Spessa­tto e Maya Jurisic. Isso porque, em 2018, o casal comprou um motorhome e decidiu “pegar” a estrada. Ele de Nova Bréscia e ela da Croácia, encontraram na Itália o lu­gar para iniciar esse sonho, e há três anos fazem parte dos diversos viajan­tes que escolheram trocar o conforto e a estabilidade de um endereço fixo para viver de forma nômade e conhe­cer diversos lugares pelo mundo.

William, o “Ika”, e Maya demo­raram a se acostumar com a vida na estrada. Afinal, viver em uma casa ambulante tem seus desafios. Entre eles, o acesso a internet, necessário para o trabalho de forma online, e encontrar locais para estacionar o motorhome nas grandes cidades, além do risco de assalto.

Muitos lugares também não pos­suem água para abastecer o carro ou local adequado para despejar a água suja. Mesmo assim, para eles, as difi­culdades são poucas perto dos bene­fícios dessa vida nômade que com­partilham no perfil.

“Se pudesse colocar em uma palavra essa experiência, seria li­berdade. Acordar em um lugar di­ferente todos os dias, conhecer a diversidade, as culturas, é uma vida que te deixa feliz por simplesmente acordar”, acredita Ika.

Desde que iniciaram a aventura, tinham um plano de visitar 100 países em cinco anos. Até agora, entre os lugares que conheceram, estão Itália, San Marino, Suíça, Liechesteinsten, Áustria, Eslová­quia, República Tcheca, Polônia, e outros mais de 30 países.

O próximo destino nos planos do casal era o norte da Ásia, passando pelos países da antiga União Sovié­tica até a Mongólia, viagem adiada com a pandemia. Hoje o motorho­me está estacionado em uma casa alugada no sul da Itália, e o casal espera o primeiro filho. Assim que as fronteiras abrirem, a ideia é voltar à estrada e levar o pequeno com eles por mais algum tempo.

Uma oficina de motorhome

Para viabilizar o sonho dos via­jantes, uma oficina em Taquari transforma ônibus, vans e outros automóveis em motorhomes. Nas garagens da Popó Home, Rodrigo Saldanha tem nove veí­culos em produção.

“A gente compra o automóvel ou o cliente larga aqui. Na maio­ria das vezes é comprado ônibus rodoviário que transita com pas­sageiros, então a gente arranca tudo o que tiver, os bancos, assoa­lhos, lataria, modificamos os fa

róis, para então começar a trans­formação”, explica Rodrigo.

Desde 2012 na profissão, o ta­quariense estima que já fez mais de 40 motorhomes e adaptações como os baús dos caminhões. O trabalho dele não é divulgado nas redes sociais, mas a própria clientela indica a oficina para ou­tros viajantes.

Durante a pandemia, a procura pelos serviços de Rodrigo tem au­mentado, mas principalmente para o comércio, já que o custo da trans­formação é mais barato. Segundo ele, um ônibus, por exemplo, custa, em média, 50 mil reais, e a monta­gem custa cerca de 120 mil. Com a colocação dos ítens necessários, como cama, cozinha e banheiro, cada veículo leva entre três e quatro meses para ser finalizado.

Mas nenhuma produção é igual a outra. O trabalho exige criati­vidade para atender o desejo dos clientes que são variados. Muitos deles querem o motorhome para rodeios e levam as famílias. Ou

tros fazem disso um negócio e re­vendem depois da transformação de Rodrigo. Para outros, ainda, o motorhome é realmente a nova casa, e o espaço interno do veículo é adaptado para abrigar tudo o que é necessário para se tornar um lar.

Entre os clientes da oficina, está o casal Marinês e Clineu da Silva que, natural de São Lou­renço do Sul, encontrou em Ta­quari, além de uma família, o que precisava para realizar o sonho de viver na estrada.

­­Motorhome: Cada dia um quintal diferente

Clineu era motorista de caminhão e viajava pelas estradas nacionais há anos. Foi nessas andanças que co­nheceu a esposa Marinês. Forman­da em arquitetura, ela acompanhava o marido nas viagens e se encantou pelos caminhos que percorreram.

“A estrada é libertadora. Tu tem a possibilidade de cada dia vivenciar uma experiência diferente. Conhe­cer pessoas de várias etnias, com outras culturas. Isso sempre nos en­cantou”, conta Marinês.

Acostumados com a vida na es­trada, a vontade de deixar o apar­tamento alugado para viver em um motorhome era um sonho que eles passaram a compartilhar e que foi reforçado com a pandemia.

Da aquisição do veículo à trans­formação em motorhome, o pro­cesso levou cerca de quatro meses e teve um investimento de 150 mil reais. No interior, foi colocado um quarto, ar condicionado, cama de casal, TV, armários aéreos, ba­nheiro com chuveiro a gás e água quente. Na cozinha, um frigobar, microondas, forno elétrico e toma­das para os eletrodomésticos. Toda a iluminação é feita com led.

O veículo também tem sofá e um espaço para os dois gatos que se mudaram com o casal. Na área externa, é possível montar uma pequena varanda, com um fogão, mesa portátil e cadeiras, onde o ca­sal costuma tomar café da manhã e assistir ao nascer no sol.

É tudo reduzido na “nova casa” e mesmo as louças ocupam o menor espaço possível. Hoje o casal não possui um endereço fixo, e quando precisam receber correspondências ou encomendas da internet, utilizam o endereço da família e amigos.

A primeira saída com o motorho­me, chamado Casa M e Silva, foi para São Lourenço do Sul. Hoje estão no extremo sul do estado, em Santa Vitó­ria do Palmar. O próximo destino nos planos do casal é o Uruguai e Argen­tina, antes de subir para o nordeste. “Não temos um período específico para viver dessa forma. O tempo vai nos dizer”, afirma Marinês.

De carro pelas estradas do país Viajantes deixam o endereço fixo e estabilidade para viver de forma nômade e conhecer diversos lugares do mundo em carro ou motorhome.

Muitos viajantes optam por pegar o próprio carro para percorrer o país ou atravessar as fronteiras. Entre eles, o morador de Lajeado Felipe Manfroi, que passou sete meses na estrada com o Honda FIT 2013. O carro, es­paçoso e econômico é carinhosamen­te apelidado de Roy, em homenagem ao Fitz Roy, uma famosa montanha na Patagônia Argentina.

Além de fotógrafo de casamento, Manfroi é sócio em uma empresa de viagens, duas áreas muito afetadas pela pandemia. Trancado no aparta­mento, ele queria estar na natureza e decidiu sair em busca de novos desti­nos nacionais para a empresa.

Desde que saiu de Lajeado, rodou por dez estados brasileiros, e passou pela região dos cânions gaúchos e catarinenses, Chapadas dos Veadei­ros (GO) e Diamantina (BA). Tam­bém andou por quase todo o litoral da Bahia até São Paulo.

“Com o agravamento da segunda onda da Covid, optei por voltar para casa. Pretendo ficar dois ou três meses pela região. Se as fron­teiras abrirem, vou para o Chile ou Argentina, caso contrário, subirei para o norte do Brasil, novamente de carro”, conta o viajante.

Manfroi deitou os bancos do veículo e uma chapa de madeira foi colocada para nivelar o espa­ço. Em cima fica o colchão e é ali que ele passa as noites durante a viagem. O carro também leva o fo­gareiro, mesa e chuveiro portátil, saco de dormir, alguns leds e ou­tros equipamentos.

A falta de uma geladeira, banhei­ro, energia elétrica e local fechado para banho são os pontos negativos ao viajar de carro. Mas campings e postos de combustíveis podem re­solver o problema.

Por outro lado, os benefícios são incontáveis. “Pude dormir de frente para o mar, na beira de cachoeiras, ­no alto de montanhas, no meio do mato. Antes, eu acumulava muito mais do que precisava e morando em um carro, aprendi que preciso de poucas coisas para viver bem e feliz. Mas é importante realizar via­gens menores antes de embarcar em um grande projeto”, acredita.

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