A manhã de ontem certamente ficará marcada na memória do frei Inácio Dellazari como um episódio marcante de sua passagem pelo Vale do Taquari. Desde janeiro, Dellazari é o responsável pelo Convento São Boaventura, em Imigrante. Por volta das 9h45, o frei, de 68 anos, dirigia no sentido da sede do município de Imigrante a Daltro Filho.
A visibilidade estava bastante comprometida em função do para-brisa, embaçado pela umidade, e dos óculos, embaçados pelo uso da máscara. Quando um caminhão de frangos passou no sentido contrário, jogou água de uma poça sobre o veículo.
Ao tentar desviar do caminhão, o frei caiu com o automóvel, um Volkswagen Fox, dentro do Arroio da Seca. “O carro não virou. Fiquei sentado no banco, me segurando no volante, nem os óculos caíram”, conta.
O acidente ocorreu próximo a um perau, a cerca de 3 km do convento. No local, a pista é estreita e sem acostamento. Com o nível do arroio alto em função das chuvas dos últimos dias, a água chega próximo da estrada.
“Nem deu tempo de pensar. Me vi sentado dentro do carro boiando na água”, recorda. Horas depois, refletindo sobre o episódio, ele destaca dois fatores que possibilitaram um desfecho tranquilo para o episódio.
A janela do lado do caroneiro abriu sozinha durante o acidente, foi por ela que Dellazari consegui sair do veículo. Outro detalhe foi a proximidade de um galho de uma árvore, onde ele se segurou.
“O correnteza estava uma violência, uma fúria. Só que na beirada, onde eu estava, não tinha tanta força. Fiquei até segurando o carro um tempo, uma mão no galho e outra na porta, mas não deu mais, e a água o levou”.
Resgate comunitário
O motorista do caminhão viu o acidente e acionou pessoas para o resgate. Cerca de oito pessoas com uma corda auxiliaram o religioso a sair da água fria.
Os Bombeiros Voluntários de Imigrante e Colinas (Imicol) foram até o local, mas quando chegaram o resgate já havia ocorrido.
“Ele conseguiu sair sozinho e se pendurou na árvore. Moradores conseguiram ajudá-lo. Ninguém mais viu o veículo. Literalmente sumiu”, diz o bombeiro voluntário Marcelo Ceppo. Ele relata que, com o acumulado de chuvas dos últimos dias, há relatos de vários pontos do município onde arroios estão transbordado.
Gratidão pela solidariedade
Com apenas seis meses de convívio com a comunidade local, ele ficou agradecido com a disposição dos moradores no resgate.“Tenho muita gratidão pela solidariedade de todos. Eu achei fantástico.”
Foi o primeiro acidente da vida do frei. Que dirige desde 1980. Ele não sofreu nenhum ferimento. O veículo ficou totalmente submerso e só deve ser localizado quando a chuva parar e o nível do riacho retornar ao normal.
