“Estou vivo”. São apenas duas palavras. Para Orlando Kaeffer, o suficiente para expressar o sentimento ao receber alta do hospital. Depois de 59 dias de internação na Unidade de Tratamento Intensivo para pacientes com covid-19 do Hospital Bruno Born, o empresário de 55 anos aprendeu a dar um valor diferente à vida.
Kaeffer foi internado no início de abril. Ao todo, foram 75 dias de hospital, entre quarto e UTI. Destes, o paciente esteve inconsciente por mais de um mês.
Quando retomou a consciência, sentiu-se deslocado no tempo. “Quando eu saí da UTI, ainda não tinha noção do que estava acontecendo. De repente acordei e perguntei para a enfermeira ‘que dia é hoje, que horas são, onde eu estou?’, porque eu não sabia nada”, conta.
Longo período inconsciente
Em média, os pacientes com coronavírus que precisam de ventilação mecânica permanecem intubados por 15 dias, o que já é considerado um longo período.
“Em 15 dias, a gente já começa a ter muitas complicações em função de o paciente estar sedado profundamente, com a musculatura paralisada. Isso traz sequelas. Realmente é uma vitória ele estar da forma como está”, explica o médico Fábio Cardoso, coordenador da UTI do HBB.
Entre as complicações, ele teve infecções, perda de função renal, que fez com que tivesse que passar por hemodiálise, e perda de massa muscular.
Outro fator que chama atenção é que Kaeffer não se enquadra no perfil dos pacientes que costumam ter maiores complicações com a covid-19. Com 55 anos e sem histórico de doença prévia, ele sequer integra o grupo de risco.
Cuidados e recuperação
Em casa, Orlando cuida agora de sua recuperação. São duas sessões diárias de fisioterapia, para recuperar a musculatura, acompanhamento de fonoaudióloga, cuidados nutricionais e de enfermagem. “Depois de todo esse tempo, eu posso dizer: eu renasci”.
O medo da morte e a volta por cima
Entre internação no Hospital Beneficente Santa Teresinha e na UTI em Santa Cruz, o aposentado Gilmar Xavier, 59 anos, ficou 21 dias longe de casa. Morador de Encantado, ele teve os primeiros sintomas da doença no fim de abril. No início, sentiu dores no corpo e na cabeça. Logo veio a febre, oscilando entre 38ºC e 39,5ºC.
No quinto dia, a situação piorou. “Fui puxar o ar e a respiração não veio. Liguei para a médica e ela me disse para ir ao hospital com urgência”, conta.
O momento mais difícil para Xavier foi o transporte de ambulância até Santa Cruz. “Eu estava mal, achei que ia morrer na viagem. Nunca chegava em Santa Cruz, parecia que estava andando há 3 ou 4 horas”, afirma.
Na UTI, teve um momento de piora, mas reagiu antes de ser intubado. A distância, ficou sabendo que sua morte já circulava na cidade, na forma de boato. “Tinha uns que falavam até que eu já estava morto. Daí o médico ligou para minha filha e disse que eu tinha reagido. Eu estava vivo de novo”, recorda.
Mais de um mês após a alta, ele não sente sintomas ou sequelas e recorda a felicidade ao sair do hospital e chegar de volta à cidade.
“Quando cheguei em Encantado, meus vizinhos me receberam, disseram que tinham rezado por mim. Fiquei muito contente. Estou tranquilo. Estou bem.”