Febre aftosa: o avanço no status sanitário

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Febre aftosa: o avanço no status sanitário

Enquanto produtores aplicam as doses no gado, líderes avaliam os pontos positivos e negativos de uma possível retirada da vacina. Estado espera resultado da auditória realizada em setembro. Hoje RS é considerado zona livre da doença com vacinação

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Febre aftosa: o avanço no status sanitário

Até o próximo dia 30, devem ser imunizados bovinos e bubalinos na faixa etária de zero a 24 meses. São cerca de 4,3 milhões de animais em 240 mil propriedades.
Dependendo do resultado da auditoria do Ministério da Agricultura, encerrada no dia 6 de setembro, o Estado pode avançar rumo a suspensão da vacina contra a febre aftosa.
Seguindo um questionário padrão, os técnicos vão revelar a nota atribuída ao serviço veterinário gaúcho. Se ela for superior a quatro, habilita o governo a solicitar a progressão de status sanitário internacionalmente, passando de território livre de aftosa com vacinação, para território livre de aftosa sem vacinação.
Enquanto aplica as doses no rebanho, cerca de 200 búfalos e 100 bois, o encarregado da Fazenda Bela Vista, em Boqueirão do Leão, Valdecir dos Santos (foto), acredita que a retirada da vacina será benéfica. “Ter sanidade é um quesito mundial e a porta de entrada para praticamente todos os mercados, sejam eles de lácteos, cárneos ou demais. Precisamos avançar e superar as adversidades criadas. Se pararmos, vamos perder investimentos e nunca conseguiremos fortalecer nosso setor de produção”, entende.
Além da aftosa, todo calendário de vacinas é mantido em dia. “Tivemos um surto de raiva bovina na região. Enquanto outros registraram grandes perdas, estávamos protegidos. Além de ficar tranquilos, garantimos mais qualidade à carne”, frisa.
Além disso, todo plantel é identificado com brincos. A rastreabilidade é exigência de mercados como o de Santa Catarina para livre movimentação de animais sem barreiras.

Conscientização

De acordo com o coordenador do Programa de Controle e Erradicação da Febre Aftosa da Seapdr, Fernando Groff, o Estado registrou os últimos casos em 2000 e 2001.
O avanço no status e a manutenção dele depende muito da conscientização do produtor, entende. “Hoje é a vacina que nos garante o certificado internacional de zona livre da doença. Não vacinar coloca em xeque todo trabalho e a nossa credibilidade sanitária”, afirma.
Por ano, a secretaria visita em torno de 22 mil propriedades para fiscalizar a correta aplicação. Quem deixar de aplicar as doses terá a área interditada e pagará multa. “Hoje somente 1,7% dos produtores não vacinam”, calcula.

Melhor remuneração

Quanto aos ganhos, destaca a possibilidade de conquistar novos mercados e a uma remuneração. mais alta. “Isso vai depender a indústria. Temos excedente de leite e carnes. Ela terá que traçar estratégias para conquistar clientes e que paguem melhor com base no status sanitário”, observa.
Para Groff, a retirada precisa ser discutida com todos os elos da cadeia produtiva a partir do anúncio do resultado da auditoria, previsto para dezembro. A vacina não protege contra o reingresso. Estamos há mais de 18 anos sem nenhum foco. Precisamos desenvolver o senso de biossegurança hoje presente na cadeia de suínos e aves. É um trabalho conjunto de vigilância das propriedades e fronteiras para evitar a doença e possíveis prejuízos, argumenta.

“Não podemos ficar isolados”

O presidente do Fundesa, Rogério Kerber, acredita que o produtor tem entendimento sobre a importância do processo de retirada para garantir a sanidade do rebanho e o avanço no status. “Esperamos que cada um faça a sua parte para que em breve o RS possa ser área livre sem vacinação.”
Para ele, o Estado não pode ficar isolado. O assunto vem sendo tratado há cerca de 10 anos e o Fundesa, quando foi constituído, estabeleceu como meta desenvolver ações voltadas a mudar o status sanitário do rebanho, recorda.
“Os setores de produção têm esse desejo. Evidentemente, todos têm cuidado e exigem as condições necessárias para se dar esse passo. O serviço de Defesa Sanitária continua trabalhando, investimentos estão sendo feitos para criar as melhores condições possíveis para que a avaliação seja positiva e tenhamos segurança de tomar a decisão”, observa.

Defesa animal é prioridade

De acordo com o secretário da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), Covatti Filho, o Estado já elaborou um plano estratégico para o cumprimento das metas, a partir de uma auditoria realizada em 2017, em conjunto com o governo federal. A implementação do plano tem permitido alcançar as metas definidas, sendo que a maioria delas já foi atendida ou está em andamento.
Conforme ele, houve progresso no sistema de vigilância e monitoramento a campo em todo o Estado, incluindo o controle de trânsito animal e de produtos de origem animal nos postos de divisa e Fronteira. Covatti Filho afirma que o Rio Grande do Sul tem mantido adequada estrutura de pessoal e de equipamentos, capilaridade em todo seu território e ausência de circulação viral de febre aftosa nos países limítrofes com o Estado.
“O progresso do sistema de defesa animal tem sido uma prioridade dos setores público e privado, e seu constante monitoramento permite considerar que o Rio Grande do Sul tem condições de atender aos requisitos necessários para a retirada da vacina contra febre aftosa”, diz.

Déficit de pessoal

A Seapdr estima a falta de até 150 gestores no interior para auxiliar no trabalho de controle, principalmente nas inspetorias. Já foram solicitados R$ 19 milhões à União para a compra de drones, carros, computadores e outros equipamentos. “Temos veterinários e agrônomos em número suficiente. Nossa carência é na área administrativa das inspetorias. Mas há restrições para fazer concursos públicos em razão da renegociação da dívida e precisaremos encontrar outros meios de contratação”, explica. Outro gargalo será o acesso a mercados internos, como o de Santa Catarina. Mesmo que avance no status, a defesa do Estado vizinho deve exigir a rastreabilidade de todo rebanho antes de abrir o ingresso sem barreiras. Já o Paraná também proibiu o acesso de animais com vacinação.

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