Carnes encarecem neste fim de ano

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Carnes encarecem neste fim de ano

Crescimento de exportações eleva preço do churrasco em período de demanda interna maior

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Carnes encarecem neste fim de ano

Para quem costuma comprar carne, isto não é novidade: chega a época de festas e os preços sobem. Neste ano, no entanto, uma série de fatores pode contribuir para um aumento mais significativo. As estimativas ficam entre 20% e 40% de alta para o mês que vem nos cortes mais usados para churrasco, como costela, maminha, vazio e picanha.
 
O motivo de sempre é a velha conhecida lei da oferta e procura: se aumenta a demanda por um produto e o estoque disponível não acompanha, o preço tende a subir. E a procura pelas carnes mais nobres costuma crescer cerca de 25%, todos os anos, em dezembro, na comparação com os demais meses. A estimativa é de Hans Röhsig, gerente de compras do STR Lajeado, com mais de 20 anos de experiência em supermercados. O período entre fim e início de ano também é a entressafra da pecuária de corte, com menos disponibilidade de animais para abate.
 
Neste ano, no entanto, o estoque de carnes está mais baixo do que o normal. A principal justificativa é o aumento das exportações, especialmente para a China. A produção de carne chinesa sofreu perdas significativas com a peste suína africana. Com isso, o país passou a importar carne já pronta – antes, buscava principalmente terneiros e soja para alimento dos animais. Esse aumento das exportações afetou principalmente os estoques dos maiores frigoríficos do Brasil, que acabam influenciando os preços de um modo geral.
 

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Alta já começou

Os preços já estão subindo. Carnes de rês tiveram alta de 9% entre outubro e novembro, segundo Röhsig. A coxa e sobrecoxa de frango, por exemplo, ficou 14% mais cara nas duas últimas semanas, entre os fornecedores do STR. “A gente não sabe exatamente quanto, mas se continuar a exportação, a tendência é aumentar mais”, afirma.
 
Alex Blau, pecuarista, distribuidor de carnes para mercados e dono de casas de carnes em Lajeado e Porto Alegre, concorda com as estimativas mais pessimistas: aposta em aumentos de cerca de 40% nos preços e considera possível a falta do produto no varejo. “E esse aumento pode ser mantido a longo prazo. Os preços dessa vez podem não retornar”, projeta, ao lembrar que as exportações de carne brasileira podem crescer ainda mais, com aberturas dos mercados russo e árabe.
 
Jordânia dos Santos, faxineira, já sentiu no bolso o problema. “O preço está sempre mudando, mas da semana passada para cá, deu para notar o aumento”, relata. Ela também contribui para o crescimento da demanda por alguns cortes no fim de ano, mas pondera: “Se a carne aumentar demais, tem que mudar hábitos”.
 
Por outro lado, a cabeleireira Eliane Cornélius não costuma acompanhar os preços das carnes. “Tem que comer igual, então eu costumo comprar sempre no mesmo mercado, que tem carne boa, e nem olho muito o preço”, explica. Além disso, ela afirma que, no dia-a-dia, a família consome pouca carne vermelha. No período de festas, no entanto, a situação muda. “Sempre tem uma festa extra”, afirma. Eliane, no entanto, não acredita muito nas explicações: para ela, as empresas aproveitam o período para lucrar mais.
 

Prejuízo por um lado, lucro por outro

Tanto Alex Blau, quanto Hans Röhsig confirmam um movimento desta época que pode beneficiar os consumidores: o consumo dos cortes do dianteiro do boi – as carnes de panela, como agulha e paleta – cai e os preços tendem a diminuir – principalmente através de promoções. Este mesmo cenário acaba por fazer com que os pecuaristas não lucrem mais no período – se eles ganham mais nos cortes nobres, perdem nestas carnes mais comuns. O aumento das exportações, é claro, também é boa notícia para o agronegócio, embora doa no bolso do consumidor final.
 

Pesquisa da Agas confirma aumentos

A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) faz levantamento de preços semanalmente junto a seus associados. Entre a primeira semana de outubro e a primeira de novembro se confirma a tendência de alta nos preços das carnes, com destaque para a costela suína e o coxão de dentro bovino.
 

FELIPE KROTH – felipekroth@jornalahora.inf.br

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