“Todo mundo deveria ser gari por um dia”

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“Todo mundo deveria ser gari por um dia”

Elisa da Silva Dias, 25, deixou Boqueirão do Leão com o marido, Gilson, e a filha, Bruna, faz cinco anos. O trabalho na lavoura de fumo era difícil e sobrava pouco para sonhar. Decidiram vir para Lajeado e hoje comemoram…

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“Todo mundo deveria ser gari por um dia”

Elisa da Silva Dias, 25, deixou Boqueirão do Leão com o marido, Gilson, e a filha, Bruna, faz cinco anos. O trabalho na lavoura de fumo era difícil e sobrava pouco para sonhar. Decidiram vir para Lajeado e hoje comemoram a conquista da casa própria

 
O que te fez vir para Lajeado?
A dificuldade. Nossa família plantava fumo. Não tínhamos terra. Era arrendado. O trabalho era braçal, difícil e não sobrava quase nada. A gente tirava só para sobreviver. Quando engravidei, meu marido e eu decidimos que era hora de procurar algo melhor. Em cinco anos aqui, conseguimos financiar a nossa casa. Quando viemos, moramos em um porão. Mas com muito trabalho e dedicação, tivemos essa conquista que nem imaginávamos.
 
 
Na varrição da cidade faz quase quatro anos, o que esse trabalho lhe diz sobre a educação da sociedade?
Parece que as pessoas não dão à mínima. Na média, são muito mal-educadas. Às vezes, estamos passando com o carrinho e atiram o lixo no chão. É plástico, toco de cigarro, garrafas. Fazem de conta que nem estão nos vendo. Parece que a gente não existe.
 
 
Mas tem quem valoriza?
Alguns. Mas a minoria. Uns 80% passam por nós como se fôssemos invisíveis. Não entendem que estamos trabalhando, tentando manter a rua limpa. Precisam saber que a cidade é de todos nós.
 
 
O que você sente quando atiram lixo no chão?
Desrespeito. Dá vontade de chamar e dizer: tu joga lixo no pátio da tua casa? Já pensou se não tivesse o nosso trabalho? Em poucos dias estaríamos caminhando com lixo no joelho.
 
Cada um que atira lixo no chão deveria fazer o que eu faço. Daí iria valorizar um pouco mais. Todo mundo deveria ser gari por um dia. Antes de trabalhar aqui eu também atirava lixo no chão. Hoje eu sei como é para manter o trabalho. Por mais que a gente se esforce, nunca conseguimos deixar 100% limpo.
 
 
Como a Bruna (8 anos) vê o teu trabalho? O que você diz pra ela sobre como a atitude de cada um interfere na natureza?
Converso bastante com ela. A atitude dela mudou desde que me viu trabalhando. Em casa mesmo, sempre procura a lixeira. Ela diz: vou colocar no lixo se não a mamãe tem que limpar. Por isso tenho esperança de que teremos uma nova geração diferente e mais consciente das suas responsabilidades.
 
 

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