Ainda vai fritar

Opinião

Fernando Weiss

Fernando Weiss

Diretor de Mercado e Estratégia do Grupo A Hora

Coluna aborda política e cotidiano sob um olhar crítico e abrangente

Ainda vai fritar

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Ainda vai fritar

ovo frito coluna fernando
No dia mais quente do ano, nessa quarta-feira, o termômetro colocado sobre o asfalto da Benjamin Constant, em Lajeado, marcava 54,4º C. O calor era tanto que resolvemos tentar fritar um ovo sobre o pavimento que quase expelia fumaça. Lajeado ferve, mas ainda é insuficiente para fazer um omelete no asfalto. Deve ter faltado azeite e sal. Se continuar nesse ritmo de aquecimento, daqui a uns anos, vai fritar.
 
 
 
Bolsonaro na versão 2 em 1
Havia muita expectativa para os primeiros discursos de Jair Bolsonaro como presidente. Ele conseguiu ser 2 em 1 em um intervalo de poucas horas. Em frente aos deputados, em seu discurso no Congresso, o novo presidente conteve palavras e bordões da campanha. Pediu apoio dos parlamentares e convocou-os a governar em harmonia e falando em acabar com as divisões do país. Tudo, politicamente correto.
Quando foi para a tradicional Praça dos Três Poderes, foi ovacionado pela multidão e não aguentou: “Vamos acabar com o “socialismo”; “Despetizar o governo” e, se necessário, “Derramar sangue vermelho sobre a bandeira”.
O presidente, tomado pelo ímpeto populista que o caracteriza, parecia em discurso de campanha eleitoral. Com a faixa no peito, Bolsonaro deve honrar e governar para todos os brasileiros, sejam petistas, psolistas, tucanos, pepistas. Não adianta pedir pacto e convocar a nação e o Congresso para um governo de conciliação, se, minutos depois, incorpora o fanfarrão que sempre foi.
O Brasil precisa de paz e de segurança. Precisa mesmo. E logo. Bolsonaro acerta no alvo quando coloca os dois temas no topo das prioridades. Mas, ao contrário do que pode parecer, paz e segurança não se constroem com linguagem vulgar, palavras de ordem ou bordões populistas. É necessário um pacto a favor do Brasil, como bem sugeriu o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Mas pacto envolve – ao menos deveria envolver – todos. Que Bolsonaro consiga controlar seu ímpeto, deixe de lado seus bordões eleitoreiros e dê o exemplo à altura do cargo e da missão que ocupa desde o dia 1º. Ser presidente da República é muito mais do que ser chefe do Exército. Afinal de contas, o governo é civil, embora ele seja militar. Para surpreender a nação com um governo de diálogo, como garantiu Onyx Lorenzoni, Bolsonaro precisa deixar de ser 2 em 1.
 

Não há tempo a perder

O primeiro discurso e as primeiras medidas do governador Eduardo Leite se aproximam muito daquilo que pregou e tentou implementar o agora ex-governador José Ivo Sartori ao longo dos últimos quatro anos. Não que isso seja ruim. Pelo contrário. Ambos pediram unidade para resolver os problemas do Estado e apelaram para que todos os poderes dividam o fardo da crise. A diferença é que Leite tem quatro anos pela frente para construir a sonhada unidade para tirar o estado do atoleiro. O tempo de Sartori já se foi.
A primeira impressão deixada pelo governo Leite é positiva. Austeridade e inovação, prometidas durante a campanha, estão bem vivas nas seis medidas anunciadas pelo novo chefe do Piratini. É indispensável reduzir o tamanho da máquina pública e baixar as despesas. Sartori passou quatro anos falando disso. A diferença entre ambos parece estar no ritmo: Sartori demorou para anunciar medidas mais severas. Leite saiu fazendo e promete intensificar.
Eduardo Leite também pediu apoio dos demais poderes: “Não é justo que o esforço seja só de alguns, quando todos compartilham do mesmo território e da mesma realidade. Executivo, Legislativo, Judiciário, servidores, empresários, profissionais liberais, estudantes, cidadãos, nenhum desses é uma ilha”, conclamou. Sartori fez parecido no início, mas não conseguiu seduzir os demais, especialmente os poderes Legislativo e Judiciário.
O desafio é gigante diante de um rombo financeiro anual bilionário. O mais jovem governador da história do RS parece estar disposto a pagar os preços políticos decorrentes de medidas impopulares e austeras. Que a barganha eleitoreira, o partidarismo e o paternalismo não barrem, mais uma vez, as reformas que o estado tanto precisa para sair do UTI e respirar sem aparelhos. Leite acertou em cheio: “Não podemos mais ficar parados no tempo, porque nem sequer temos mais tempo.”
E os CCs?
Estou curioso para ver o posicionamento do novo governador a respeito dos cargos comissionados distribuídos em dezenas de órgãos e setores. Não que ele sejam o problema do estado. São apenas parte. Mas convenhamos, e como bem escreveu o colega Rodrigo Martini, ontem, já não faz mais sentido manter cabides de emprego, como coordenadorias de coisa nenhuma, só para deputados e partidários abrigarem correligionários.

Entra e sai

Michel Temer entregou a faixa e saiu de cena. Saiu como entrou: de fininho. E sem voto.

Esses Acordos. Sempre eles

A política é feita de manobras, conchavos, negociatas. Infelizmente. A eleição da nova mesa diretora da câmara de Lajeado é a mais clássica tradução desse modelo perverso. Um estranho “acordo de cavalheiros” fez Lorival Silveira (PP) trair, mais uma vez, o “colega” Waldir Gisch, do mesmo partido, na escolha da mesa diretora. Por mais que a gente tente, é difícil compreender a involução em determinados setores da coisa pública.

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