O Vale sai pior do que entrou na eleição

Opinião

Fernando Weiss

Fernando Weiss

Diretor de Mercado e Estratégia do Grupo A Hora

Coluna aborda política e cotidiano sob um olhar crítico e abrangente

O Vale sai pior do que entrou na eleição

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Não foi dessa vez. De novo. Não fosse Edson Brum (MDB), estaríamos sem deputado algum para nos representar. Isso que o Brum é uma espécie de deputado “adotado” da região, pois, mesmo que ele more em Encantado, vota em Rio Pardo e mantém lá seu principal reduto eleitoral. Mas agarremo-nos a ele.
Eram 27 candidatos da região – 18 para estadual e nove para federal. Escrevemos aqui, logo no início da campanha, que eram demais. Mas não é só o número de candidatos que nos atrapalha. A falta de propósito de alguns concorrentes e a estratégia errada – ou a falta dela – dos partidos diminui a chance de aumentarmos nossa representatividade política.
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Olho para o vizinho Vale do Rio Pardo e encontro cinco deputados eleitos – dois federais e três estaduais. Entre os cinco, o ‘nosso’ e o ‘deles’ Edson Brum.
A região patina faz anos em busca de um melhor desempenho. Tem força econômica, localização geográfica, tem qualidade de vida, tem muita coisa. Mas não tem expressão política e não consegue se articular. Sidnei Eckert, durante a campanha, fez uma comparação pertinente: enquanto o Vale do Rio Pardo ganha um novo e milionário trevo de acesso, o Vale do Taquari ganha a ponte sobre o Saraquá. Outro exemplo: uma decisão política tirou do Vale do Taquari a Vara de Execuções Criminais e a mandou para Santa Cruz do Sul. Agora, todo controle sobre o sistema prisional de Lajeado é comandado de lá. E essa decisão é puramente política.
Mas, se sabemos que precisamos melhorar nossa expressão política, por que os eleitores preferem os de fora? Mais da metade dos 240 mil eleitores do Vale não escolheu um dos nossos 27. O número de brancos e nulos, como mostram os dois gráficos, foi maior do que o total de votos depositados nos nossos representantes. Onde erramos?
Parece-me que a falta de um propósito mais claro em torno de um projeto de região faz com que o eleitor não seja impactado. E não só o eleitor. Nossos representantes políticos, sejam prefeitos e vereadores, apoiam e criam dobradinhas com ‘forasteiros’ e fazem de conta que trabalham para os nossos.
A região precisa fazer uma reflexão e uma autocrítica. Estamos longe de conseguir coesão em torno de um projeto regional. O resultado das urnas é o reflexo mais real e fiel dessa falta de estratégia dos partidos, dos políticos e das instituições. Nos faltam líderes.
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ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Muitos candidatos entraram na campanha deste ano para se cacifar para a eleição de 2020. Sabiam, vários deles, que não chegariam lá. Nem queriam. Queriam mesmo era projetar o nome em torno de um projeto eleitoreiro pessoal e partidário. Ou seja, demarcar território para chegar forte em dois anos nas eleições municipais, especialmente de Lajeado.

Vejamos

Márcia Sherer (MDB) 11.558 votos em Lajeado
Mariela Portz (PSDB) 6.533 votos em Lajeado
Sérgio Kniphoff (PT) 6.282 votos em Lajeado
O nome dos três estará no debate central a partir do ano que vem, quando começam a surgir os potenciais candidatos a prefeito de Lajeado.


Frustração

Mareli Vogel fez a campanha mais cara para deputado estadual na região. O partido apostou R$ 400 mil para eleger uma mulher à Assembleia. Mesmo com todo aporte, a representante de Teutônia fez menos de dez mil votos.

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Ricardo Wagner (PR) apostava nos votos dos seus discípulos da igreja. Investiu “pesado” e amarga um resultado frustrante. Projetava pelo menos 70 mil votos, oriundos das dezenas de igrejas espalhadas pelo estado, nas quais ele é líder. Pelo visto, os discípulos não foram muito ‘fiéis’.

O erro

Enio Bacci (PDT) está na história da política regional. Emendou cinco mandatos de deputado federal e um sexto como estadual. Ainda assim, nos últimos anos, distanciou-se da região e esteve ausente das principais discussões em torno do Vale. Essa distância lhe custou a reeleição. Tanto é que dos 23.174 votos fez apenas 8.664 aqui na região.

A surpresa

Claudiomiro da Silva (PNM) está entre as maiores surpresas desta eleição. Fez 1.100 votos em Estrela e outros 1.373 em Lajeado. Seu trabalho social desenvolvido nas redes sociais refletiu em mais de seis mil votos. Se cacifou para vereador em Estrela na próxima eleição municipal. Aliás, fez quase o mesmo número de votos do atual vice-prefeito Valmor Griebler (PV), que fez pouco mais de sete mil.

Incômodo

Valmor Griebeler ficou incomodado com o pouco apoio recebido da cúpula dos partidos de Estrela. O estopim foi um santinho espalhado nas redes sociais, nas vésperas do pleito, onde o prefeito Rafael Mallmann aparece apoiando o candidato Edson Brum. Sentiu uma espécie de traição.

Na trave

Douglas Sandri (NOVO) foi o legítimo quase. Faltaram-lhe 317 votos para assumir a segunda cadeira da bancada do Novo na Assembleia. Ele emplacou uma campanha diferente. Fez 15.907, desses apenas 6.198 no Vale do Taquari. 61% buscou fora. Está aí um forte potencial para 2022. Ainda mais se, ao longo dos próximos anos, assumir temporariamente como suplente. Será assediado a concorrer a vereador em 2020.

Força local

Mais da metade dos 15.568 eleitores de Arroio do Meio votaram em Sidnei Eckert (MDB) para deputado estadual. Trata-se de uma média altíssima. Por essa votação em Arroio do Meio, volta – se quiser – ao comando da prefeitura sem fazer muita campanha. Ao todo fez mais de 17 mil votos, o que também traduz uma capacidade de articulação e trabalho de bastidor interessante.

O urso

No bolãozinho que a minha mãe participa em Chapadão, aquela que derrubar o menor número de pinos fica com o prêmio urso. Emaxuel Bertol e Júlio Canabarro dividem o urso regional, com 73 votos ambos. Fico imaginando o que os levou a concorrer.
 

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