Volte sempre. Será?

Opinião

Raquel Winter

Raquel Winter

Professora e consultora executiva

Volte sempre. Será?

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Há mais de 20 anos que frequentamos a praia de Garopaba em Santa Catarina e toda a vez que arrumamos as malas para retornar para casa ficamos com uma sensação de quero mais.
Quando saímos de Garopaba, passamos por um simpático pórtico que tem um letreiro desejando boa viagem e onde está escrito: Volte Sempre! Quando passo pelo tal pórtico, penso cá com os meus botões, volto sim, pode deixar.
Mas não será um desperdício de oportunidade voltar para o mesmo lugar? Se imaginarmos a infinita possibilidade de novos destinos que poderíamos conhecer, parece-me que sim. Então pergunto-me o que fazer? Voltar para o certo ou arriscar o desconhecido? Pensei a respeito e cheguei a várias conclusões.
Uma delas é a de que um lugar nunca será o mesmo e que, mesmo retornando inúmeras vezes, estará sempre diferente. A razão disso é que nós nunca somos os mesmos. Cada dia de vida é um dia a menos na nossa linha do tempo e um dia a mais em nossa experiência. O fato é que um dia após o outro, de alguma forma, nos transforma. Então a questão agora é: como pode “uma pessoa diferente” voltar ao mesmo lugar que esteve quando era outra?
Tenho um bom exemplo. Há alguns anos, fiz um intercâmbio para Portugal e foi incrível. Alguns anos mais tarde, decidi voltar para lá com duas amigas e no roteiro acrescentei lugares que eu havia conhecido no intercâmbio.
A viagem foi igualmente incrível, mas muitíssimo diferente. Os lugares realmente estavam mudados. Não somente na aparência, mas especialmente na forma em que eu os sentia e enxergava. Alguns me pareceram ainda mais encantadores e outros, mesmo estando lá, do jeitinho que os vi pela primeira vez, pareceram-me adormecidos.
Foi então que compreendi que sempre corremos o risco do encantamento ou do desencanto e que o que decidirá por um ou outro não será o fato de voltarmos ou não para o mesmo lugar, mas sim o sentido e as emoções que a vivência nos proporciona.
Depois disso, as memórias da primeira viagem mudaram de lugar, perdendo um pouco da magia que as cercavam. Mas preciso admitir que os espaços foram ocupados por novas memórias que agora enchem as gavetas das preferidas. Eu sei, parece um pouco confuso, mas tentando resumir acho que às vezes valeria a pena colocarmos nos pórticos das nossas emoções, memórias, atitudes e rotinas letreiros que alternassem entre essas três possibilidades: volte sempre, volte de vez em quando ou nunca volte.
Nunca voltar seria útil por exemplo para os casos em que nossos pensamentos persistem em algo que deveria estar superado, como sentimentos de rancor e mágoa.
Por outro lado, voltar para o seu lar, se aconchegar no abraço que sempre te acolhe, comer feijão com arroz, ouvir suas músicas favoritas certamente mereceriam um “volte sempre”.
E o pórtico do “volte de vez em quando”? Não sei bem, mas penso que esse deixaríamos para situar as ocasiões como revisitar memórias doloridas porém, inevitáveis, comer pratos exóticos, ler aleatoriamente páginas de um livro que marcou e encher a cara por estar triste ou alegre demais. De qualquer forma, geralmente a escolha de retornar ou não será nossa.

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